Nelore Lemgruber - Parte 1

quinta-feira, 02 de agosto de 2018

No princípio do século 19, a Confederação Helvética, atualmente Suíça, através de seu agente Sebastian Nicolas Gachet, firmou em 16 de maio de 1818, um acordo com o Rei D. João VI, para imigrantes suíços. Entre novembro de 1819 e março de 1820, esses suíços chegaram à Fazenda do Morro Queimado, onde 100 casas e uma modesta infraestrutura fora montada para recebê-los. Apesar de D. João VI ter estipulado a vinda de aproximadamente 800 pessoas, chegaram 1.631 suíços de diversos cantões da Confederação Helvética, o dobro do estipulado.

Em 3 de janeiro de 1820, foi criado o termo de Nova Friburgo, cujo nome é dado em homenagem aos suíços originários do Cantão de Fribourg que vieram em número significativo e de onde se originou a proposta de um acordo de imigração. De um modo geral, as datas de terras que constituíam o núcleo colonial não atenderam às expectativas dos colonos suíços por serem em boa parte impróprias para a atividade agrícola.

Algumas famílias receberam, no sorteio, terrenos tão pedregosos que nem para uma horta serviam. Os colonos se dispersaram para outras regiões do termo de Nova Friburgo e muitos se dirigiram para Cantagalo, onde o plantio do café sinalizava como uma cultura altamente promissora. Os que se deslocaram para Cantagalo e se dedicaram a essa cultura, utilizando o modo de produção escrava, enriqueceram.

Entre esses colonos veio a família Lengruber, cuja forma original de escrita é Lemgruber, do Cantão de Argóvia, na parte alemã da Suíça. O patriarca da família Ignaz Leimgruber (48 anos) era casado com Luzia Hartmann (38 anos). O casal chegou ao Brasil em 7 de dezembro de 1819, acompanhado dos filhos Anton Ignaz, com 14 anos; Fridolin, com 12; Johann Batista, com 10; Marcus, com 6; Maria Carolina, com 5 e Fidel, com seis meses.  Um filho com 8 anos de idade morreu durante a viagem ao Brasil.

A família se dirigiu para Cantagalo se instalando na região onde hoje é o município de São Sebastião do Alto. Sua ascensão econômica é surpreendente. Pouco mais de uma década desde a sua chegada, no ano de 1834, Ignaz Lemgruber outorgou procuração ao seu filho Anton Ignaz para representá-lo na aquisição de uma área junto às nascentes dos Córregos dos Índios, denominada Vargem Grande, em São Sebastião do Alto. Essas terras teriam a denominação de Fazenda Santo Antônio e São Feliciano, onde passaram a se dedicar ao cultivo do café.

Há informação de que Anton Ignaz registrou extensas áreas no Registro Paroquial de Terras, no então município de Cantagalo, hoje Sapucaia, e na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Paquequer, atualmente Sumidouro.  O juiz de direito João Lins Vieira Cansansão de Sinimbú, escreveu em 1851, que os colonos suíços que se estabeleceram nas vertentes do Rio Macaé produzindo café, milho, batata e toucinho, viviam na posse de boa fortuna. Mas destaca que o patrimônio destes não poderia ser comparável aos suíços estabelecidos em Cantagalo que se tornaram muito mais abastados.

Entre os citados pelo juiz estavam as famílias Lemgruber, Luterbach, Monnerat e Ubelhard. Em relação aos filhos do patriarca há o registro de que Marcus Lemgruber prosperou com a Fazenda São Feliciano; Fidel Lemgruber adquiriu a Fazenda São Pedro do Monte Alegre, na Freguesia do Carmo; Fridolin Lemgruber tinha uma posse desde 1832, na Freguesia de Santa Rita do Rio Negro e Johann Batista Lemgruber possuía terras em São Sebastião do Alto. O que mais se destacou na cafeicultura e enriqueceu foi o primogênito Anton Ignaz Lemgruber.

De acordo com o Almanaque Laemmert de 1848, ele está entre os principais fazendeiros de café da Freguesia de Aparecida, hoje Sapucaia. Parece-nos que teve ainda uma sociedade na Fazenda Nossa Senhora da Glória e Abricó. Possuía um total de 218 escravos e emprestava dinheiro a juros.

Continua na próxima semana.

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    Os suíços que se estabeleceram nas vertentes do Rio Macaé viviam modestamente

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    Fazenda da Glória, no Carmo, pertencente aos Lemgruber e Lutterbach

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    Boa parte dos suíços que se deslocaram para Cantagalo enriqueceram

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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