Bandas de Nova Friburgo dão um show

Da influência do blues ao heavy metal, seja cover ou música autoral, músicos se destacam na cena cultural
sábado, 14 de julho de 2018
por Paula Valviesse (paula@avozdaserra.com.br)
Banda Zero (Foto: Adriana Moraes)
Banda Zero (Foto: Adriana Moraes)

Nova Friburgo tem uma forte tradição musical, especialmente no que diz respeito ao rock. As bandas e cantores da cidade sempre marcaram presença nos eventos e bares da cidade. E já que é para homenagear esse importante gênero musical, nada melhor do que reunir alguns desses artistas para sobre o que rock representa em suas vidas e contar um pouquinho da sua trajetória musical.

Rock DaKombi

A primeira apresentação do Rock DaKombi, banda integrada pelos friburguenses Paulo Victor (Baixo e Voz) e Wander Blacklight (Guitarra e Gaita) e os cariocas - que há alguns anos escolheram o município para chamar de seu - Celso DaKombi (Guitarra e Voz) e Marcelo Mandarino (Bateria) - foi em 2013.

“O embrião foi o projeto de arte de rua, ou seja, a primeira vez que a kombi foi para as ruas com a finalidade de alegrar com rock foi em 2013, quando nós nem tínhamos esse nome ainda. A banda foi batizada como Rock DaKombi mais ou menos no fim de 2014, e essa formação vem desde 2015”, conta Celso.

O Rock DaKombi está terminando a masterização de seu primeiro CD, uma coletânea de vários shows, gravados ao vivo, contendo os clássicos mais pedidos pelo público. Em paralelo, eles editam o primeiro projeto de música autoral. “No nosso projeto autoral, preferimos lançar música por música, já que atualmente não temos volume para fazer um trabalho de CD. Quando reunirmos a quantidade suficiente, lançaremos no mesmo conceito desse primeiro CD: gravado ao vivo, em shows, sem takes. E pretendemos depois disponibilizar eletronicamente”, diz Marcelo.

A apresentação itinerante veio de uma vontade de sair pelas ruas fazendo música. A inspiração, como conta Celso, surgiu ao ver o trabalho de arte de rua de uma amiga, a Belinha e Sua Malinha: “Sempre tive a vontade de ter uma kombi e sair tocando por aí, desde adolescente. A proposta de levar arte de qualidade para as pessoas era atraente demais. Quando vi alguém que respeito muito fazendo isso, foi como um gatilho. Daí, o resto foi acontecendo. É importante frisar que o Rock DaKombi não se vê muito como banda de rock; essa relação faz com que nos vejamos como movimento de arte de rua, algo mais perto da semeadura do que da colheita”, explica Celso.

Arte esta que sobrevive dos contratos da banda: “Temos como missão levar alegria e momentos de integração e energia boa. Queremos que as pessoas voltem para as  suas casas mais felizes depois de ouvir uma performance feita com carinho. É claro que, para bancar essa história, precisamos dos contratos que fazemos no formato de banda. Por isso fazemos muitos eventos. Mas, se pudéssemos, só faríamos arte de rua”, diz Celso.

A banda tem uma pegada “old rock”, tocando clássicos de todas as épocas, segundo Wander Blacklight: “O importante para nós é reproduzir ao máximo a energia e alegria que a música consegue provocar na própria banda e no público que nos assiste”.

Sobre o cenário musical friburguense, eles destacam que a cidade tem uma cena poderosa de rock, com muitas bandas de alta qualidade, com trabalhos autorais e um público sempre presente. “Podemos citar mais de dez bandas de altíssima qualidade. Friburgo tem material de rock autoral de alto nível, além de muitos fãs de rock. Percebemos cada vez mais jovens indo a shows, participando, tocando. Temos mais público do que espaços, isso levando em conta a elevada quantidade de talentos da cidade. Infelizmente, são poucos os locais e eventos na cidade, mas acho que isso se reflete em todo segmento cultural. Situação também visível na agenda: de cada dez shows que fazemos, um é em Friburgo. O que é um paradoxo porque os shows de rock daqui estão sempre lotados. Acho que ainda tem muita demanda reprimida por eventos culturais”, diz Paulo Victor.

Vivianne Lisboa

A cantora Vivianne Lisboa se divide entre a carreira solo e o projeto Navitrola. Vinda do Rio, ela se apresenta na noite friburguense, cativando o público por onde passa com uma voz marcante e um repertório com com forte influência hard rock: ”Minhas influências são bem hard rock mesmo, como por exemplo, Scorpions, Skid Row, Guns’n' Roses, Aerosmith, Heart, Van Halen e Whitesnake”, afirma.

Vivianne começou a cantar em 1995. E em 2010 lançou o projeto Navitrola, junto com os músicos Cauê Lobo, Nando Vasques, Marcelo Drummond e Jonhy Cabral, com a intenção de tocar os maiores hits dos anos 80. “A formação da banda já mudou diversas vezes e hoje temos no baixo Raísa Mendes, na guitarra João Loureiro e na bateria Johnny Cabral, todos friburguenses”.

Para a cantora, o cenário musical de Nova Friburgo, apesar de vasto, não tem muita abertura para o rock. Mas ela não abandona a origem, buscando levar para onde for um som de qualidade: “A abertura para o rock ainda é muito deficiente. Talvez isso esteja acontecendo devido à cena musical atual no Brasil e no mundo, que pouco valoriza o bom e velho rock’n’roll. Mas ele representa tudo para a gente, foi por causa dele que decidimos ser músicos, então seguimos firmes”.

Bruthus

A frase “Quanto mais pesado… Melhor!”, usada pela banda, já diz muito sobre a proposta da Bruthus. Formada em 2017 por Brown (Vocal), Eduardo Peixe (Guitarra), Gustavo Zebs (Baixo) e Alexandre Sorin (Bateria), o grupo acabou de completar um ano de carreira e já tem um EP (Extended play) ao vivo, gravado na Mamute Records, que está disponibilizado nas redes sociais e em CD. “E temos mais duas músicas inéditas em fase de masterização. Novidades virão”, afirma Zebs.

Ele conta ainda como o grupo se juntou: ”Somos todos de Nova Friburgo. Eu, o Eduardo e o Brown somos amigos há mais de 25 anos e por meio de um bate-papo surgiu a ideia de formar uma banda para fazer um som autoral, pesado e cantado em português. Convocamos o Alexandre, que foi indicado por outros amigos, para assumir as baquetas e já no primeiro ensaio o som fluiu.Já saímos dali com a nossa primeira composição e a certeza de que existia uma sinergia muito grande entre nós”.

Da gravação ao vivo às composições em português, a Bruthus mostra o seu potencial. As letras falam do dia a dia das pessoas, como eles mesmo fazem questão de dizer, sem rodeios.

“No dia que entramos no estúdio, ensaiamos e tudo fluiu normalmente. A concentração, lógico, precisa ser maior, mas a banda tirou de letra. É um orgulho compor em português, esse está se tornando o nosso diferencial, esse estilo de som. Percebemos que ao vivo as pessoas estão prestando atenção nas letras, cantando os refrões”.

Sobre o estilo mais pesado, a Bruthus mescla o heavy metal tradicional e o trash metal dos anos 80/90 a uma pegada pŕopria. Para o grupo o rock vai além de um estilo musical, é um estilo de vida: “Através dele fazemos amizades, trocamos informações sobre bandas e shows, nos reunimos para nos divertir. O melhor de tudo foi ter a oportunidade de formar uma banda e sair para tocar em eventos e ver que o público se identifica e valoriza o nosso trabalho”, afirma Gustavo.

Um ponto ruim para ele é a pouca abertura que o estilo da banda tem para tocar na cidade: “Friburgo sempre teve ótimas bandas e músicos, isso é fato. Porém, nem todos os estilos são contemplados com espaço para divulgar seu trabalho. Falando especificamente do estilo da Bruthus, muita coisa boa poderia acontecer se tivéssemos mais apoio, principalmente do poder público. Estamos com shows marcados fora da cidade, em eventos underground que têm público, apoio e aceitação. Mas tenho certeza de que isso irá mudar um dia”.

Rock’n’Roll Gang e Morbis

Duas bandas, um integrante em comum: o guitarrista Marcos Gripp. A Morbis, cuja formação inclui Bruno Eller (Baixo), Marco Abreu (Bateria) e Pepeu Mota (Vocal), tem uma postura autoral. Seu repertório, composto de “letras ácidas”, é todo em português.

“Comecei a tocar em 1985, na banda de trash metal chamada Extermínio, que na época chegou a gravar um LP, que foi relançado em vinil e CD recentemente. Desde aquela época eu já me identificava com a ideia de compor rock em português. E com a Morbis tive a oportunidade de fazer parte de mais um projeto autoral, de rock pesado, cantado na nossa língua e letras com forte cunho social. O próprio nome Morbis tem a inspiração em um livro escrito por Bernardino Ramazzini, em 1700, considerado o pai da medicina do trabalho, por trazer em suas pesquisas a relação das doenças com a ocupação do trabalhador”, conta Marcos.

Já a Rock’n’Roll Gang é uma banda cover, formada por Marcos (Guitarra e Theremim), Claudio Nascimento (Baixo e Voz), e Marco Abreu (Bateria). Entre as influências, destacam-se o som de Jimi Hendrix, Deep Purple, Led Zeppelin, Neil Young, Robin Trower, Bad Company, The Doors, Bachman Turner Overdrive, Cream, Rolling Stones, Thin Lizzy, Kinks, Black Sabbath, Motorhead, Judas Priest, Steppenwolf, AC/DC, Metallica, Grand Funk Railroad.

A Gang começou em Niterói, em 1991, passou por diferentes formações e agora, centrada em Nova Friburgo, Marcos dá continuidade ao trabalho. As bandas se apresentam em eventos, festivais de música. “Quanto mais pesado você fica, menos você tem espaço para tocar em bares e espaços menores. Mas como essa é a nossa preferência, encontramos espaços em eventos e festivais, em sua maioria fora de Nova Friburgo. Ali a gente pode aumentar o som à vontade”, brinca Marcos.

Sobre a influência do rock em sua vida, ele afirma ser um eterno apaixonado pelo gênero musical: “Já são 46 anos de rock. É uma atividade que não dá o retorno financeiro que a gente possa garantir a vida, mas tem outros benefícios ainda maiores, cada dia que passa eu aprendo mais, gosto mais de música, especialmente autoral. Ter uma banda, escrever, gravar, poder tocar uma música do seu ídolo é muito prazeroso. No final do show vir um fã e pedir uma paleta é maravilhoso”.

 

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