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Economia coletiva
Na semana passada dedicamos mais uma coluna a dar dicas sobre como economizar combustível, abordando questões um pouco mais aprofundadas do que geralmente podem ser encontradas em plataformas de assunto não específico. Mas, como dissemos no fim do texto, as recomendações individuais não esgotam o tema, uma vez que o tráfego é um organismo vivo, e ninguém circula sozinho por ruas e estradas.
Ora, esta é uma abordagem que o leitor não encontrará por aí, mas que também precisa ser levantada se quisermos, de fato, administrar da melhor forma estes recursos preciosos, caros, finitos e poluentes. Sim, a forma como você se porta no trânsito afeta o quanto outros condutores poderão economizar de combustível. E vice-versa, obviamente.
Quer exemplos?
Esta influência pode ser direta, como quando o motorista sabe que terá de parar logo à frente e por isso deixa o carro desacelerar lentamente, mas ao fazer isso se vê pressionado nos retrovisores por pessoas ansiosas, que fazem questão de correr mesmo quando isso só significará chegar ao mesmo lugar, ao mesmo tempo, e gastando mais. Ou quando está na estrada e tem seu ritmo limitado por alguém que freia excessivamente em curvas, ou não se prepara antes de enfrentar uma subida. Mas, a influência coletiva vai além, muito além.
É extremamente vergonhoso para todos nós, enquanto sociedade, que nossas ruas sejam tão infestadas por quebra-molas (a maioria deles fora da especificação), justamente porque alguns – ou muitos – condutores são incapazes de controlar os próprios impulsos e compreender que carros e motos são invenções maravilhosas, mas podem ser também armas em potencial. O mesmo vale para radares eletrônicos e todas as formas de fiscalização, que seriam absolutamente desnecessárias se todos tivéssemos consciência e respeito suficientes.
E o custo não é pequeno não. Ora, se o principal caminho para economizar é reduzir as acelerações, imagine o quanto não custa, por exemplo, a presença de quebra-molas espalhados pelas principais vias de acesso às Braunes, obrigando motoristas a parar em meio a subidas, contrariando todos os princípios da direção econômica e ecologicamente correta. Avalie agora, o preço repassado a alguém que resida no bairro e precise subir e descer uma ou mais vezes por dia…
É frustrante observar que já aceitamos como normal e até bem-vinda a prática de adicionar obstáculos em toda e qualquer via na qual não seja possível andar rápido, aceitando de antemão e praticamente sem luta que a verdadeira solução – investimento pesado em educação para o trânsito, incluindo crianças – parece fora de alcance.
O trânsito reflete, em várias medidas, a (i)maturidade de uma sociedade – e essa é uma constatação que deve causar profunda vergonha a nós, brasileiros, porque o que ocorre em nossas ruas e estradas é o que poder-se-ia chamar de um genocídio humano e animal evitável e sem propósito, e se existe alguma definição pior do que essa para qualquer coisa, eu desconheço.
Portanto, se daqui para a frente você notar que alguém à sua frente está dirigindo de modo consciente e evitando o desperdício de combustível, em vez de se aproximar e manifestar sua revolta, experimente fazer algo diferente. Além de exercitar o respeito e a paciência, que tal seguir a mesma cartilha?
Forte abraço, e uma ótima semana a todos.
Márcio Madeira da Cunha
Sobre Rodas
O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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