Insisto na tese de que “a forma” de que se diz é tão importante quanto “aquilo” que se está dizendo. Aliás, mais do que isso: o meio faz parte da mensagem.
A ideia de que o meio “é” a mensagem foi defendida por Marshall McLuhan - educador, intelectual e filósofo canadense, que viveu entre 1911 e 1980. Uma tese, inclusive, que nunca fez tanto sentido e esteve tão atual. Pare ele, o meio não é um simples canal de passagem do conteúdo, mero veículo de transmissão da mensagem. O meio, a forma são elementos determinantes da comunicação.
Isso é bom e ruim ao mesmo tempo.
Ruim porque, sabendo-se usar bem as palavras e as ideias, pode-se vender gato por lebre facilmente. Uma razoável parcela de “verdades” que se alardeia por aí tem a ver com as imagens bonitinhas e um bom jogo de palavras. Mais propaganda e menos comunicação.
Bom porque, se a gente souber ajustar o discurso, será possível dialogar sobre os mais diferentes temas, por mais espinhosos e conflituosos que sejam. Afinal, boa parte dos conflitos surge por conta da forma ofensiva, debochada ou anuladora do lugar do outro.
O que é imperioso, nessa questão, é a tal da empatia. Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar o que sente outro indivíduo. Na raiz de empatia, está o termo grego “pathos”; uma palavra que remete, ao mesmo tempo, a ideia de “sentimento” e “sofrimento”.
Empatia é diferente de simpatia, porque simpatia é basicamente uma resposta intelectual, enquanto a empatia é uma fusão emotiva. Enquanto a simpatia indica uma vontade de estar na presença de outra pessoa e de agradá-la, a empatia faz brotar uma vontade de compreender e conhecer essa outra pessoa, mesmo que isso signifique participar de seus sofrimentos e angústias, por exemplo.
A título de exemplo, vale refletir sobre um vídeo a respeito de “meritocracia” que está circulando bastante nas redes sociais.
Uma fileira de jovens prestes a iniciar uma corrida. O primeiro colocado ao final da competição será premiado. Antes de dar a partida, porém, o organizador vai pedindo que deem um passo à frente os que gozaram de determinados “privilégios”. Depois de meia dúzia de perguntas, uns caminharam bastante, outros permanecem estacionados na linha de partida. O organizador mostra que os que estão lá na frente assim estão posicionados porque foram privilegiados sem que necessariamente fizessem algo para isso. O mesmo ocorre com os retardatários: nada fizeram por si mesmos que os desqualificasse. Foram oportunidades desiguais apenas. Vencer a corrida não seria necessariamente uma questão de competência ou mérito. Seria, na verdade, uma boa dose de injustiça mesmo, porque uns sairiam na frente e outros lá atrás.
Se é verdade que justiça não é sinônimo de igualdade, é igualmente correto que, ao menos, oportunidades iguais, já é um bom começo para se começar a dialogar sobre justiça.
Para usar uma linguagem jurídica, por exemplo, o princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual. Em outras palavras, dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades.
O vídeo é uma bela demonstração de como um discurso bem feito, coerente, sincero e humanizando as questões pode conscientizar, convencer e debelar preconceitos.
Vi muitos dos meus amigos que, em outros contextos, seriam veementemente contra políticas públicas afirmativas ou de compensação, mas que se sensibilizaram bastante com o vídeo. Conseguiram, em algum sentido, experimentar em si mesmos empatia. Conseguiram compreender o que significa justiça e oportunidade.
Às vezes, falta só isso mesmo: sensibilização e empatia.
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