A manhã desta quarta-feira, 23, foi de mobilização nas rodovias de acesso a Nova Friburgo: a greve nacional dos caminhoneiros também impactou a serra. Integram o grupo de motoristas apoiadores do movimento os transportadores de alimentos, gás e móveis, entre outros. Iniciado na última segunda-feira, 21, nas principais capitais do país, o protesto da categoria busca chamar a atenção do governo para a insatisfação com a disparada do preço do diesel.
Em Nova Friburgo, uma das vias com a presença de manifestantes é a RJ-130, que liga a cidade a Teresópolis. De acordo com o grupo, 150 caminhoneiros aderiram ao movimento. “Começamos ontem (22), às 15h em Bonsucesso, Teresópolis, e de lá nos dividimos e uma parte do grupo veio para Friburgo. Todos os caminhões que tentam passar por aqui estão sendo proibidos de seguir viagem”, afirmou o caminhoneiro e produtor rural Thiago Rodrigues (foto).
Sentados às margens da rodovia (foto), o grupo se organizou para se manter no local até que a situação seja resolvida. “Estamos ficando direto aqui e preparados para ficar o tempo que for preciso. Não temos dia para sair. Temos vários amigos com caminhões parados no Rio por conta desses protestos. Se é para parar, que parem todos”, declarou o caminhoneiro Rafael Fonseca.
Transportador de verduras e legumes responsáveis por parte do abastecimento da Ceasa no Rio, Rafael conta que a alta do diesel tem tornado o trabalho inviável. “Tivemos um aumento de custo de 50 a 60 reais por viagem. A gente gastava na faixa de R$ 350 a R$ 370 por dia, agora o mínimo é R$ 420 para sair de Conquista com a mercadoria, ir até o Rio descarregar e voltar. Isso fora os gastos com manutenção do caminhão, pneu e pedágio, que também é um absurdo”, desabafa Rafael (de branco na foto).
“Estamos fazendo esse protesto, mas nosso movimento é organizado. A única coisa que queremos é chamar a atenção das autoridades para que essa situação mude. Está impossível trabalhar assim”, acrescentou Maicon Coelho (de cinza). No início da tarde desta quarta, os ônibus intermunicipais também começaram a ser bloqueados pelos manifestantes.
Apesar de ser uma mobilização da categoria, a greve dos caminhoneiros também recebeu apoio da população. “Tenho amigos caminhoneiros e vejo a dificuldade que eles passam no dia a dia. Essa é a profissão que ajuda o Brasil a ir para a frente, tanto é que tudo está parando com essa greve. É preciso mudar esse sistema e eu acredito que as consequências desse movimento, apesar dos transtornos que uma paralisação gera, pode beneficiar toda a população. Do jeito que está não dá para ficar. Vamos ver se assim os políticos se mancam. Não adianta ficar de braços cruzados em casa só apoiando a mobilização pela internet”, defendeu o comerciante Welenberg Schumacker, que participava da ação na rodovia. No início da noite desta quarta-feira, motociclistas também demonstraram apoio ao movimento dos caminhoneiros ao percorrer as principais vias da cidade fazendo um buzinaço.
O aumento no preço do diesel faz parte de uma nova política de preços da Petrobras, em vigor desde julho passado. Nesta quarta-feira, entretanto, a estatal anunciou a queda do valor nas refinarias 1,54%. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis (ANP), o preço médio do diesel nas bombas já acumula alta de cerca de 8%. O valor está acima da inflação acumulada no ano, de 0,92%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Corrida aos postos
A paralisação de caminhoneiros também gerou uma corrida aos postos de combustíveis da cidade. Apenas até as 10h desta quarta-feira, o posto da Avenida Comte Bittencourt, no Centro, por exemplo, já havia abastecido cerca de 400 carros. “A procura começou a aumentar ainda ontem (terça-feira). As pessoas estão lotando os postos por medo de ficar sem gasolina, e com razão. O nosso combustível, por exemplo, não deve durar até a tarde. E quando o abastecimento voltar não sabemos como vai ser, se o preço vai aumentar ou não”, afirmou o proprietário do posto, Leonardo Carestiato, durante entrevista ao A VOZ DA SERRA na manhã desta quarta.
O friburguense Felipe Fukuoka (foto) estava entre os motoristas que foram ao posto de combustível para garantir o tanque cheio. “Recebi uma mensagem pelo WhatsApp informando sobre a greve dos caminhoneiros e a procura por combustível nos postos. Como tinha que vir ao Centro, resolvi parar para abastecer de uma vez para não correr o risco de ficar sem gasolina”, afirmou.
O grande movimento, porém, não foi uma realidade para todos os postos da cidade. Isso porque, muitos já tiveram que negar o atendimento logo pela manhã por falta de combustível. “Não temos previsão de quando poderemos voltar a funcionar. Só conseguimos atender cerca de 30 carros hoje (quarta-feira). Ainda não dá para calcular o tamanho do nosso prejuízo, mas a situação é bem complicada”, afirmou o proprietário de um posto em Olaria, Eduardo Machado.
Mais consequências
Na manhã desta quarta-feira, 23, passageiros enfrentaram pontos de ônibus lotados e atrasos nas linhas devido também a falta de combustível suficiente para o transporte. Na tarde de terça-feira, 22, a Faol chegou a divulgar nota informando que iria operar com os horários de sábado até a regularização da situação. Em entrevista ao A VOZ DA SERRA nesta quarta, o diretor da concessionária, Paulo Valente, afirmou que caso a situação não volte a normalidade, o transporte público corre risco de parar de funcionar na próxima segunda-feira, 28. “Tivemos uma redução média de 15% da frota, o que representa cerca de 20 ônibus a menos nas ruas. Temos combustível para operar nesse esquema especial até domingo. Caso não venha combustível até lá, na segunda-feira a operação talvez não aconteça”, declarou Paulo.
Nesta quarta, motoristas de ônibus municipais que circulavam pela RJ-130 também foram impedidos de seguir viagem. “Por conta da interdição em Córrego Dantas, as linhas que passam por ali em direção a Conquista, São Lourenço, Campo do Coelho, Salinas e bairros próximos, estão operando somente até Córrego Dantas até que a RJ seja liberada pelas autoridades”, informou a Faol em nota.
Na EBMA, os caminhões compactadores não estão realizando a coleta de lixo. Isso porque, além da falta de combustível suficiente para percorrer a cidade, os veículos também foram impedidos de sair da sede da empresa por participantes do movimento. Por conta disso, a prefeitura informou na manhã desta quarta que a Secretaria de Serviços Públicos vai realizar a coleta utilizando caminhões do município. “A recomendação é evitar colocar os resíduos nas ruas pelos próximos dias, ou até que a situação se normalize”, orientou o município através de nota.
Também por conta da paralisação, a Feira da Vila Amélia não recebeu mercadorias na manhã desta quarta-feira, 23, que viria da Ceasa e de Cachoeiras de Macacu. “O movimento na feira pela manhã continua o mesmo. Vamos ver como será à tarde. Não houve aumento de preços e não acredito que isso acontecerá”, disse o auxiliar administrativo da feira, Antônio Nunes. Na Ceasa de Irajá, no Rio de Janeiro, que recebe verduras e legumes de Nova Friburgo, o abastecimento diminui consideravelmente. Resultado? O preço dos alimentos disparou. O saco de batatas, por exemplo, subiu de R$ 74 para R$ 350, já a caixa da cenoura foi de R$ 36 para R$ 60.
Os Correios também suspenderam a postagem de Sedex em todo o Brasil e alertou a população para os atrasos de correspondências. Na RJ-116, rodovia que corta o município, houve uma manifestação de caminhoneiros pela manhã, na altura do Km 19, em Papucaia, em Cachoeiras de Macacu. A Rota 116, concessionária que administra o trecho, informou que o grupo parou os caminhões às margens da via e não está afetando o fluxo de veículos.
Ainda no início da noite, a Companhia Estadual de Gás (Ceg) também declarou que o movimento pode prejudicar o abastecimento de gás no município. “O município poderá ter o fornecimento de gás afetado temporariamente, em razão do impedimento de acesso dos caminhões que fazem o transporte até as estações de distribuição. A empresa está estudando todas as possibilidades e implantando medidas alternativas para reduzir ao máximo o possível impacto no fornecimento. A Ceg pede a colaboração dos clientes para que, na medida do possível, economizem gás”.
Firjan declara preocupação com resultados da greve no estado
A greve dos caminhoneiros também despertou a preocupação do sistema Firjan. Na terça-feira, 22, a entidade divulgou nota abordando os problemas gerados para o Rio de Janeiro “Isto se mostra ainda mais grave no caso da indústria fluminense. A crise econômica dos últimos anos foi mais grave no Estado do Rio do que no resto do Brasil. Tal conjuntura levou as empresas a trabalharem com estoques muito reduzidos, e qualquer paralisação no transporte leva rapidamente a desabastecimento. Também é importante destacar que as empresas do Rio de Janeiro já enfrentam o grave problema das maiores ocorrências de roubos de carga do Brasil. Estas ações criminosas, além de afetarem o abastecimento, inibem os investimentos e desestimulam a geração de emprego e de renda”, afirmou.
“Quanto à questão dos altos preços dos combustíveis as empresas instaladas em território fluminense também são mais afetadas. É no Rio de Janeiro que ocorre a maior incidência de ICMS no óleo diesel, entre os estados das regiões Sudeste e Sul. Dos R$ 3,75 cobrados pelo litro de diesel, em média, no Estado do Rio, R$ 0,58 correspondem ao recolhimento de ICMS. Em São Paulo, maior economia do país, o preço médio do diesel é de R$ 3,52/litro e o ICMS corresponde a R$ 0,41”, acrescentou.
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