Airbag para motos

domingo, 06 de maio de 2018

“O pára-choque da moto é o próprio motociclista.”

Não saberia dizer quantas vezes escutei essa frase enquanto era criança. Percebo hoje o quanto havia de preconceito nela, mas o pior mesmo é ter de admitir que existe algo em sua essência que se constata na realidade: ocorrências de trânsito – e elas são muitas – geram, em média, consequências muito mais severas a motociclistas e garupas do que a motoristas e passageiros. E não poderia ser diferente, dada a exposição muito maior de quem se equilibra sobre duas rodas.

Cerca de dois anos atrás perguntei a uma enfermeira de que forma eu poderia, através do jornalismo, ajudar a melhorar, um pouco que fosse, a condição de nossa rede municipal de saúde pública. Ela não precisou de mais do que um ou dois segundos para dizer que eu deveria tentar promover a conscientização de motociclistas, pois são eles, no setor de ortopedia, os principais responsáveis pelos casos de emergência, que tantas vezes acabam por gerar o adiamento de cirurgias eletivas há muito agendadas.

A enfermeira com quem conversei não era especialista em trânsito, mas acertou na mosca. Para carros, motos, ou qualquer outro meio de transporte, a condução consciente, incluindo aí a manutenção preventiva, sempre foi e sempre será o melhor e mais eficiente aparato de segurança. Mas, felizmente, não é o único.

Ainda que a transposição de soluções preventivas ou atenuantes dos carros para as motos muitas vezes represente um desafio quase que intransponível, nota-se grande evolução no desenvolvimento e na disseminação de aparatos voltados a preservar o atrito estático entre pneus e piso, e assim garantir que a moto permaneça sob o controle do motociclista. É cada vez maior o número de motos equipadas com sistemas antitravamento e/ou de distribuição de força entre os eixos dianteiro e traseiro. Da mesma forma, entre os modelos de maior potência e torque, nos quais o preço também não é tão importante, é cada vez maior o número de modelos equipados com controle de tração, para evitar empinadas indesejáveis ou derrapagens com o pneu traseiro.

Todos estes avanços certamente já evitaram muitos tombos, em especial nas vezes em que impediram que o pneu dianteiro escorregasse – o que significa ir ao chão na maioria das vezes. Mas, com relação à proteção do motociclista em caso de choques frontais, muito pouco se alcançou. A idéia de equipar motos com airbags é antiga, mas difícil de se concretizar. A enorme Honda GL 1800 Gold Wing oferece, desde meados da década passada, um airbag desenhado em forma de V invertido, equipado com respiros para que possa esvaziar um pouco durante o impacto com o piloto. Mas estamos falando de motocicleta gigantesca, cuja postura do piloto permite este tipo de aparato.

O caminho mais prático para as motos de uso cotidiano, e que tem timidamente começado a ganhar o mercado, são airbags acoplados a jaquetas, que geralmente inflam dentro de dois décimos de segundo e são acionados pelo esticar de um cordão que fica preso à moto. O equipamento não é barato, e como nos carros só pode ser utilizado uma vez, mas apresenta resultados muito promissores, especialmente na proteção de pescoço, coluna e lombar. A maior parte dos modelos emula uma proteção análoga ao Hans (suporte para cabeça e pescoço, na sigla em inglês), que se tornou item obrigatório para pilotos de corridas em carros. Material publicitário afirma que os airbags multiplicam por 38 a absorção de impactos, e reduzem em 70% o risco de morte.

Ainda que eventualmente os números reais não cheguem a tanto, não restam dúvidas de que tais equipamentos já apresentam resultados positivos e são amplamente recomendados a quem faz uso frequente de motocicletas.

Mas mais do que isso, eles representam os primeiros passos numa frente promissora de proteção a quem se locomove em duas rodas.

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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