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Memória das indústrias friburguenses - A Fábrica Ypu (Parte 2)
Emil Cleff, o rei do galão
Charles Emile Cleff, conhecido no Brasil como Emil Cleff, nasceu em 7 de abril de 1869, em Wuppertal-Barmen, na Alemanha. Filho de tradicional família de industriais no ramo têxtil veio ao Brasil pela primeira vez em 1893, para reorganizar uma fábrica de tecidos na Bahia. Retorna à Europa após ter dado a consultoria. Na cidade de Flinez-lez-Montagne, na França, fundou a sua própria fábrica no ramo de passamanaria sob a razão social de Cleff & Cie. Foi nessa atividade que Cleff mostrou o seu gênio criador e artístico na fabricação de complexos e lindos galões e fitas decorativas com os mais variados desenhos e harmonia de cores.
Paulatinamente, a Cleff & Cie foi dominando a maior parte do mercado europeu, sendo Cleff denominado à época de “o rei dos galões”. Como apresentava sempre novos e originais desenhos não acompanhava a moda, mas sim, criava tendências. No entanto, a sua indústria foi bombardeada na Primeira Guerra Mundial com perda total de seu patrimônio. Como prestara consultoria no Brasil, vislumbrou nesse país a oportunidade para reerguer-se financeiramente.
Em 1921, viajou para o Brasil já tendo estabelecido contato com Maximilian Falck, proprietário da Falck & Cia, que fabricava artigos de passamanaria. De acordo com a Memória Oral, Julius Arp teria aconselhado Maximilian Falck a contratar Emil Cleff, alertando que se ele abrisse a sua própria fábrica seria a falência da Ypu. Contratado, depois de um ano comandando o setor de produção da fábrica, Cleff comprovou a Maximilian Falck que sua empresa passara a ter lucro, nos informa sua neta Brigitte Madeleine Schultz.
Emil Cleff racionalizou a produção da fábrica e melhorou a qualidade dos produtos. Faltam pesquisas baseadas na documentação da fábrica, mas nos parece que foi a partir de sua interveniência na linha de produção que a Fábrica Ypu cresceu sobremaneira. A respeito dessa documentação, encontra-se amontoada e se deteriorando em salas abandonadas nas instalações dessa fábrica, o que certamente impossibilitará a reconstrução da história dessa empresa.
Em 1938, a Falck & Cia. se transformou em uma sociedade anônima, a Fábrica Ypu S.A. Cumpre chamar a atenção que essa empresa cresceu no momento em que o Brasil tinha um parque industrial ainda muito incipiente. Somente a partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o país irá iniciar a sua fase industrial. Não foi por acaso que Getúlio Vargas quando excursionava pelo interior do estado, em 1932, visitou Nova Friburgo. As indústrias desse município devem ter chamado a atenção do presidente da República que tinha como projeto impulsionar o setor industrial no Brasil.
A Fábrica Ypu era a grande paixão de Emil Cleff. Ele residia numa casa modesta logo na entrada da fábrica onde criou a sua família. Nos fundos do prédio ficava seu “Fordeco”, um dos três primeiros automóveis a circular em Nova Friburgo. O seu filho Max Cleff e o seu genro Oscar Schultz deram continuidade à sua gestão na fábrica, e nos parece que Emil Cleff nunca deixou de acompanhar a sua administração. Faleceu em 21 de dezembro de 1968, com 99 anos de idade.
A avenida em frente a Fábrica Ypu atualmente chama-se Emil Cleff e no seu pátio interno existe um busto em sua homenagem. É bem provável que se o rei do galão não tivesse se mudado para Nova Friburgo, a trajetória da Fábrica Ypu teria sido bem diferente. Na próxima semana a a coluna abordará o tema “Um bairro surge ao redor da fábrica”.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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