O pró-reitor de Coordenação e Expansão da Universidade Candido Mendes, professor Alexandre Gazé, recebe neste sábado, 23 de maio, a Comenda Barão de Nova Friburgo, em solenidade a ser realizada no Teatro Municipal, na Praça do Suspiro, às 18 horas. A maior honraria concedida no município – aprovada por unanimidade pela Câmara de Vereadores – faz uma justa homenagem ao homem que revolucionou a educação na Região Serrana, através da implantação de cursos de capacitação, graduação e pós-graduação em áreas vitais para o desenvolvimento local, numa trajetória marcante que teve início em 1983, quando assumiu a direção do campus Friburgo da então Faculdade Candido Mendes.
O carioca Alexandre Gazé, que aceitou o convite – e desafio - do reitor Candido Mendes de reestruturar, na época, a unidade deficitária da Serra, que oferecia apenas o curso de Administração em Hotelaria, em pouco tempo tornou-se um friburguense de coração e alma. Dedicou-se com afinco, venceu obstáculos e superou resistências dos mais diferentes tipos – burocráticas e culturais – mas soube entender as características e demandas regionais, abrindo um leque de cursos voltados para a qualificação profissional da população, nas áreas rural, de gestão escolar, hospitalar e outras, dentro dos segmentos locais. Enfim, soube captar a realidade e atender às necessidades da região, seguindo à risca a orientação do reitor Candido Mendes de ser parte integrante da comunidade na qual está inserida.
CRESCIMENTO
Nestes 26 anos em que o professor Gazé está no comando geral da unidade, a Candido Mendes de Nova Friburgo vem cumprindo o seu papel. De 1977 a 1999, por determinações legais, pôde oferecer somente o curso de Administração, mas cresceu em toda a região, tornando-se referência nesta cadeira e nos cursos de qualificação abertos à população. Em 1999, quando a então faculdade Candido Mendes transformou-se em Universidade, novos cursos de graduação foram oferecidos, também dentro das necessidades locais. Hoje, toda a região conta com os cursos de Direito, Ciências Contábeis, Administração, Licenciatura em Música, Pedagogia, Jornalismo e Publicidade.
Mas a Universidade Candido Mendes mantém seus vínculos com a população, de todas as idades, desenvolvendo projetos voltados para a área social, levando a educação, a informação e o conhecimento a todas as gerações. Sua prioridade continua sendo a oferta de ensino de graduação e pós-graduação de qualidade - marca registrada da centenária instituição de ensino, com 107 anos de existência, única universidade do País vocacionada exclusivamente para as Ciências Humanas - mas sempre consciente de que a educação de base é fundamental.
Por isso, o professor Alexandre Gazé investiu também nos cursos de Normal Superior – concretizando um sonho do educador Darcy Ribeiro, qualificando mais de 3.500 professoras em todo o estado do Rio – e Licenciatura em Música. O município de Nova Friburgo, cuja vocação natural para música, com bandas centenárias e fanfarras, é incontestável, ganhou uma orquestra – a Orquestra Candido Mendes, através da Escola Superior de Música, que desde o ano passado abre suas portas para abrigar em oficinas gratuitas desde crianças a partir de 3 anos até idosos com mais de 80 anos, ávidos por aprender a tocar um instrumento.
A atuação do professor Gazé fez com que ele acabasse aceitando convites para ingressar na vida pública, como secretário de Educação e Planejamento, na década de 90. Na ocasião, também desenvolveu projetos importantes, como o Lápis no Papel, que alfabetizou todos os garis do município, e conheceu mais de perto ainda as necessidades de investimentos nas redes de ensino fundamental e médio de toda a região. Destas experiências, veio a certeza de que a Universidade Candido Mendes não poderia simplesmente ser uma instituição a oferecer cursos de graduação, mas sim um instrumento capaz de atuar ativamente na luta por novas conquistas no setor. E um exemplo foi a reabertura do Colégio Nova Friburgo – a antiga Fundação – defendida pelo então diretor da Candido Mendes através da mídia e de campanhas de adesão e convencimento do poder público.
PRÓ-REITOR
Toda a trajetória de luta e sucesso foi reconhecida em fevereiro de 2003, exatamente 20 anos depois que o professor Alexandre Gazé assumiu a direção do campus Friburgo. Oito meses depois de completar um século de existência, a Universidade Candido Mendes consolidou seus ideais educacionais e de responsabilidade social com a criação da Pró-Reitoria de Coordenação e Expansão, tendo à frente o professor Gazé. Coube a ele a missão de levar a universidade, com suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, a todos os lugares em que fosse necessária e desejada.
Hoje, o pró-reitor Alexandre Gazé responde por oito campi – Friburgo, Niterói, Araruama, Jacarepaguá, Tijuca, Méier, Padre Miguel, Sulacap – mais a Faculdade Candido Mendes de Vitória (ES) e as unidades de Macaé e Petrópolis, onde ainda funcionam os cursos de Normal Superior. A pró-reitoria fica sediada no campus Niterói, por questões estratégicas – de lá, o professor Gazé sai diariamente para percorrer as unidades sob sua gestão. Dos pouco mais de cem alunos que ficaram sob sua responsabilidade em 83, em Friburgo, hoje são mais de 11 mil universitários atendidos por sua administração.
Muito além do ensino superior
Logo depois de participar de um programa na Rádio Friburgo AM, o professor Alexandre Gazé cumprimentou pelo nome um ex-aluno do curso de Comunicação Social, hoje profissional reconhecido na Imprensa de Nova Friburgo, e afirmou: “Como vai? Assinei seu diploma semana passada e o encaminhei para registro”. A cena, que comprova a intimidade e o carinho com que o pró-reitor trata seus alunos, seria inusitada na maioria das universidades do país. Mas passa a fazer sentido quando se identifica a universidade e, em especial, o campus onde o aluno estudou. Na Candido Mendes, alunos, professores e funcionários formam uma grande família, onde a base é o respeito e a solidariedade. Em Nova Friburgo, tal sentimento é ainda mais evidente, fruto de um sólido trabalho realizado por Alexandre Gazé ao longo dos últimos 26 anos. Nesta entrevista emocionada, o pró-reitor falou de suas conquistas, das dificuldades, das barreiras e elencou três realizações que, em tese, não traduziriam os objetivos de uma instituição de ensino superior, mas que representam a alma de uma universidade centenária, que se dedica à qualidade de seus serviços e à responsabilidade social.
AVS - O que o levou a Friburgo?
Prof. Gazé - Assumi o campus em 83, a convite do reitor Candido Mendes, depois de anos trabalhando na instituição. Entrei na então faculdade em 1969, como aluno de Direito, e de lá nunca mais saí. Trabalhei como advogado do Núcleo de Prática Jurídica, uma iniciativa pioneira da instituição; na unidade Ipanema e, em seguida, recebi a missão de assumir uma casa cheia de problemas, com poucos alunos. Aceitei o convite em parte porque meu filho, ainda pequeno, apresentava sérios problemas respiratórios e seria conveniente que ele vivesse num clima mais seco. Foi a oportunidade ideal. E acabei me dedicando de corpo e alma ao projeto.
AVS - Como era a cidade na época?
Prof. Gazé -A cidade era mais tranquila, mais calma, que tinha 330 indústrias de grande e médio porte e quatro multinacionais, que pedia por educação para capacitar sua população e atender à demanda das indústrias. Ao mesmo tempo, havia uma resistência, pois o comando nas empresas e instituições não tinha titulação e não queria que seus subordinados tivessem. Foi uma disputa boba, que teve várias consequências ruins, a maior delas a perda do status de cidade industrial. Não havia mão de obra especializada. As empresas foram embora, fecharam. Perdemos capacidade produtiva. Muitos vão dizer que foi por questões econômicas, crise, globalização. Também isso influenciou, mas não posso omitir que a falta de informação e capacitação foram cruciais neste processo. Perdemos a condição de cidade industrial porque não havia interesse em incentivar a educação.
AVS - Estes foram os maiores desafios no início de sua gestão?
Prof. Gazé - Sim. Não podíamos abrir novos cursos de graduação e também havia dificuldade para escolas técnicas na região, o que era extremamente prejudicial. Defendi durante anos a reabertura do Colégio Nova Friburgo. O colégio era fechado, lacrado e vigiado; fiz mais de 50 artigos no jornal A Voz da Serra defendendo sua reabertura. Havia resistência ao processo educacional e isso era característica em todo o estado do Rio. As coisas só começaram a mudar no final da década de 90, quando nos transformamos em universidade e outras instituições se instalaram na região.
AVS - Por que a resistência?
Prof. Gazé -A educação traz o desenvolvimento do ser humano, que melhora em vários aspectos. O processo educacional não interessa a quem está no comando, porque pode acabar sendo utilizado contra ele. A educação é fundamental num Estado desenvolvido, mas somos ainda subdesenvolvidos. Hoje, não valorizamos a educação da forma correta, mas simplesmente como formação para o mercado de trabalho. Quem valoriza a Filosofia, um curso que traz em si toda uma gama de conhecimento que você não tem em outra área? Ninguém. Os pais estão preocupados em garantir a seus filhos uma carreira que lhes dê apenas segurança financeira.
AVS - Mas o senhor é considerado o responsável pela expansão do ensino universitário no interior. Como conquistou tal reconhecimento?
Prof. Gazé - Isso começou com a luta para manter a Candido Mendes nos primeiros anos e apenas com um curso. Foram mais de 16 anos oferecendo apenas um produto. Mas acabei avançando. Acreditei no meu trabalho, na minha equipe e, diante do fato de que Friburgo é a capital econômica e geográfica de 13 municípios, a Brasília do estado do Rio, senti que havia demanda. Friburgo é o polo da região e fui a todos estes locais, oferecendo cursos de capacitação para funcionários públicos – não só graduação, mas também reciclagem em áreas especificas da região, com cursos de administração escolar, rural, que melhorassem o nível intelectual da população, integrando o sistema educacional da universidade a toda esta gama de pessoas. Abri os braços, como se fosse um polvo, para que seus tentáculos atingissem a todos. A faculdade cresceu e os alunos acabaram vindo fazer Administração, referência na região.
AVS - Como está o campus hoje?
Prof. Gazé - Hoje, nossos cursos de graduação, tecnológicos e pós-graduação atendem ao mercado. Alguns foram ousados, como o curso de música, sem a menor perspectiva de mercado, pois o ensino não era obrigatório. Vivíamos o dilema de Tostines: não havia curso porque não havia professor, não havia professor porque não havia curso. Agora, é obrigatório o ensino de música nas escolas de ensino fundamental e a Escola Superior de Musica da Candido Mendes é a única no interior do Estado, preenchendo um vazio também social.
AVS - A que atribui a concessão da Comenda Barão de Nova Friburgo?
Prof. Gazé - Cheguei em Friburgo com trinta e poucos anos e foi onde vivi os melhores momentos da minha vida. O município é uma terra canônica, maravilhosa, algo de espantoso em termos de qualidade de vida. Cidade salubre, da saúde, como bem menciona a professora e historiadora Janaína Botelho em seu livro. Friburgo me deu uma oportunidade profissional, um projeto que em parte é vitorioso – de 107 alunos, temos mais de 2 mil matriculados. Tenho afinidade muito grande com esta cidade. Sou recebido com carinho pelas pessoas – exerci funções privadas e públicas sem conotação de partidos políticos, apenas com o intuito de lutar pela educação. Sou grato à cidade, não vejo de forma contrária. E este título só me dá motivos para ter mais gratidão.
AVS - Como recebeu a notícia da homenagem?
Prof. Gazé - Com muita surpresa, porque a comenda é dada uma vez por ano, a poucas pessoas. Isso tem um peso extraordinário se levarmos em conta o número de habitantes da cidade. Dá um certo grau de responsabilidade, pois a comenda é para pessoas especialíssimas e me sinto honrado de estar neste grupo. Esta medalha vai estar realmente sempre do meu lado, no meu coração, como prova de amor desta cidade.
AVS - Nestes anos todos, quem ganhou mais: a universidade ou a cidade?
Prof. Gazé -Não entendo que a universidade possa conceber sua existência hoje sem estar em Friburgo. O doutor Candido tem um profundo amor pelo campus da região serrana. A Candido Mendes de Friburgo é um templo sem religião. E, em breve, estará com muitas novidades para engrandecer ainda mais a região. Eu passa a semana correndo as unidades, como pró-reitor, mas quando chego em Friburgo, chego em casa. Costumo dizer: cheguei - me dá água e café.
AVS - Cite três realizações:
Prof. Gazé -Primeiro, os cursos nos municípios vizinhos, de capacitação rural e outros. Pudemos capacitar produtores rurais, professores, gestores de escolas, formando líderes e mão de obra especifica para área rural, num trabalho maravilhoso. As oficinas de musica também nos emocionam. São mais de 300 pessoas carentes ou que não teriam condições de pagar um curso para aprender a tocar um instrumento. Ver a pessoa se transformar é indescritível. Tivemos vários exemplos. Um rapaz que estava a um passo da criminalidade hoje é um músico da noite friburguense e isso não tem preço. Muita criança, jovem e adolescente, que agora têm um referencial, e bons motivos para trilhar um caminho maravilhoso que irá afastá-los de drogas e más influências. Por fim, o curso de normal superior, onde pudemos capacitar professoras de vários municípios. Profissionais dedicadas, que andavam quilômetros a pé, no interior do Estado, e que nunca haviam tido a oportunidade de visitar um museu , de acessar a internet. Temos boas recordações desta época. A educação é permanente, sempre evolui, todos deveriam estudar ou ler pelo menos duas horas por dia, pois trata-se de sobrevivência cultural. E pudemos passar estes conceitos a elas.
AVS - A educação é o grande foco de sua vida?
Prof. Gazé - Educação é prazer absoluto, uma paixão acirrada, acesa, vermelha, que dá prazer a cada dia, nas pequenas coisas. Quando a gente assina um diploma, vai a uma formatura, a gente sabe que transformou aquela pessoa. Nossos professores são muito bons, a Candido Mendes respeita seus professores, sabe que eles são fundamentais.
AVS - O senhor citou como pontos marcantes projetos voltados a uma educação ampla, não especificamente para o ensino superior.
Prof. Gazé -Em Friburgo, não podemos só ter como objetivo a formação superior, quem já concluiu o segundo grau. Temos que nos preocupar com extensão, com pós-graduação, com capacitação e reciclagem, com as outras vertentes no processo educacional. A cidade carece de informação e formação. Somos uma entidade filantrópica temos a obrigação de atingir a área social também. A médio prazo, este trabalho vai ajudar a formar o publico que irá cursar a graduação. Tenho que fazer a minha parte na base também. A vocação social é importante, existe sim. É um trabalho de formiguinha e nos dá prazer ver as pessoas se transformarem através de outros cursos que não apenas os de graduação.
AVS - Cite um projeto nesta área:
Prof. Gazé -O Lápis no Papel, que desenvolvi no município quando fui secretário de Educação, na década de 90, voltado para a alfabetização de nossos garis. Foi uma iniciativa que jamais esquecerei. Os depoimentos que nos foram dados na solenidade de formatura – porque fizemos questão, sim, de que houvesse a cerimônia – são experiências que levaremos para toda a vida. Um rapaz afirmou que, até então, eles eram cegos e que, com a leitura, estavam enxergando realmente. Para eles, poder parar em frente a banca e ler o jornal era sensacional, assim como aprender a assinar o nome e não precisar mais passar por constrangimentos no banco, tendo que sujar o dedo para receber o pagamento. Com estes projetos, sei que cumpri minha missão, fiz alguma coisa, tornei algumas pessoas cidadãs de verdade. Nunca mais esqueci a emoção nas formaturas destes garis. São experiências que marcam, que valem a pena, não há dinheiro, não há poder que nos dê tamanha alegria.
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