"Nós não podemos continuar a ser tratados como cidadãos de segunda classe"
“Nós não podemos continuar a ser tratados como cidadãos de segunda classe. Se o atendimento de emergência não deve ser para nós, então que seja para quem é do Centro ou visitantes que, por acaso, se acidentem aqui em nossas estradas ou cachoeiras, pois podem passar mal em um churrasco, podem se machucar em um passeio”, ironizou o presidente da Acisps, João Carlos Leal.
Na manhã do último sábado, 17, Antônio Marcos Bezerra de Souza, de 39 anos, passou mal durante uma visita à Praça João Heringer. Com o posto fechado e sem ambulância, ele teve que ser levado por moradores para o Hospital Municipal Raul Sertã, mas não resistiu e morreu antes de chegar à unidade. Ele teria sofrido uma parada cardiorrespiratória.
De acordo com Assis Martins da Costa Júnior, presidente da Associação de Moradores de São Pedro da Serra (Amasps), Antônio estava com a esposa, a filha e o tio da esposa no Centro de Informações Turísticas quando começou a se sentir mal, por volta das 10h30. Moradores, inclusive médicos e enfermeiros que estavam próximos, tentaram socorrer o turista, mas não conseguiram reanimá-lo.
“Eu estava acompanhando a reforma da quadra. Quando saí, encontrei com um casal de turistas pedindo ajuda. Fui até o posto de saúde, mas estava fechado. Não conseguimos acionar a ambulância. Liguei para vários lugares, mas não havia ambulância. Os bombeiros disseram que levariam cerca de 40 minutos para chegar ao distrito e outros 40 para levar o turista ao hospital. Decidimos levá-lo de carro”, contou Assis.
Quase 40 quilômetros de viagem depois, distância que separa São Pedro da Serra ao Centro da cidade, Antônio chegou ao Hospital Raul Sertã, mas sem vida. Morador de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, ele estava passando o fim de semana com a família em uma pousada no distrito vizinho, em Lumiar. Para Assis, por conta da distância, o posto de saúde de São Pedro deveria funcionar também aos finais de semana.
“É fundamental termos uma ambulância, 24 horas, com uma equipe para atendimento da população. Precisamos também de um telefone para contato direto com a equipe da ambulância. São Pedro tem três motoristas de ambulância, mas de que adianta se não tem carro. A nossa estava quebrada no Raul Sertã. Uma ambulância atendeu São Pedro e Lumiar durante a Operação Verão da prefeitura, mas no início do mês foi retirada, apesar dos pedidos das associações de moradores dos dois distritos”, afirmou Assis.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a presença de uma ambulância para atender os distritos de Lumiar e São Pedro da Serra é uma demanda antiga dos moradores e que foi atendida no atual governo. “No entanto, o veículo que foi colocado para prestar apoio a essas localidades precisou ser realocado para transportar a grande demanda de pacientes em tratamento no Rio de Janeiro (Inca e Into) e também no hospital de Paraíba do Sul. Enquanto isso, já está em fase de conclusão o conserto de uma outra ambulância que poderá dar suporte ao quinto e sétimo distritos”, diz o texto.
Posto de saúde de Lumiar já tem verba para reforma, mas não há previsão para início da obra
A morte do turista carioca no último fim de semana era uma tragédia anunciada. Não é de hoje que moradores dos distritos de São Pedro da Serra e Lumiar pedem uma ambulância que fique de plantão 24 horas na região. Em Lumiar, a associação de moradores apela pela reforma do posto de saúde local. Segundo a presidente da associação, Sílvia Faltz, a reforma já está autorizada e com R$ 140 mil liberados. Falta apenas que a prefeitura faça uma licitação para a contratação de uma empresa que realize a obra. No entanto, não há previsão para essa licitação. Sílvia teme que o prazo para a utilização da verba termine sem que o serviço seja feito. Segundo ela, esse prazo expira este mês.
Em nota, a Prefeitura de Nova Friburgo informou que o edital para a reforma do posto de Lumiar já foi entregue à Secretaria de Saúde e está aguardando os pareceres da Controladoria Geral e da Procuradoria, para que o processo administrativo retorne e a licitação seja realizada.
João Carlos Leal, presidente da Ascisps
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