O mourisco Clube de Xadrez

quinta-feira, 01 de março de 2018

No artigo de hoje destaco um patrimônio público esquecido no coração da cidade, o Clube de Xadrez. Foi fundado por iniciativa de João Orlando em 26 de julho de 1927, para a prática do jogo de xadrez. Orlando, fundador e primeiro presidente vindo a residir em Nova Friburgo, como enxadrista que era, sentiu falta de parceiros para jogar xadrez. Passou a procurar na cidade pessoas que praticavam este jogo e conseguiu formar um bom grupo, o que motivou a criação de um clube para os amantes desse hábito.

O presidente da Confederação Brasileira de Xadrez, Luiz Vianna veio a Nova Friburgo para empossar a primeira diretoria. Possivelmente ao ser constituído, o Clube de Xadrez efetuou o seu registro na Confederação Brasileira de Xadrez, tornando-se afiliado daquele órgão. Havia o cargo de zelador que seria hoje o equivalente a diretor de patrimônio, ocupado pelo ilustre político Dante Laginestra. Há indicações de que o Clube de Xadrez tenha funcionado inicialmente no antigo Hotel Salusse, onde hoje se localiza o edifício Spinelli e posteriormente se instalou em cima de uma confeitaria onde é a imobiliária Predial Primus, antes de construir sua sede na Praça do Suspiro.

Adquiriram um terreno na aprazível e bucólica praça para a instalação do clube social. O Clube de Xadrez foi construído com uma arquitetura muita em moda à época, o estilo mourisco recriando a arte islâmica. Foi o fascínio pela cultura e a arte dos países do oriente e notadamente do Império Otomano, que influenciou inúmeras construções na Europa no final do século 18. Foi especificamente na arquitetura, muitas vezes misturada a outros estilos surgindo edificações ecléticas, que essa paixão pelo oriente melhor se expressou. Os ingleses foram os primeiros a adotar esse estilo.

No Brasil, o estilo mourisco está retratado em inúmeros prédios do Rio de Janeiro a exemplo da sede da Fundação Oswaldo Cruz. O imóvel é ricamente decorado com azulejos, mosaicos, estuques e vitrais no estilo mourisco. O Barão de Nova Friburgo tinha um salão mourisco em seu palacete de arquitetura neoclássica, no Rio de Janeiro. Esse salão servia como sala de jogo e para o fumo sendo todo decorado com arcadas, móveis, pinturas, objetos e lustre mourisco.

Com o passar do tempo, o Clube de Xadrez cresceu de tal forma que se tornou igualmente um clube social realizando bailes, festas, encontros e carnavais memoráveis com a banda da Bola Branca integrada por músicos das sociedades musicais Euterpe e Campesina. Antes dos clubes sociais, o espaço de sociabilidade da elite friburguense ocorria nos hotéis da cidade, sendo os mais exponenciais os hotéis Central, Salusse e Engert. Era o tempo das soirées que se estendiam madrugada adentro.

 O Clube de Xadrez foi aumentando o número de associados progressivamente e começaram a adquirir títulos indivíduos da classe média como pequenos comerciantes e operários. Isso incomodou a elite local que começou a procurar uma nova sede, para formar um clube mais exclusivista. Formaram o Clube dos 50, integrado por cinquenta pessoas seletas da elite friburguense para não se misturar mais com a arraia miúda do Clube de Xadrez.

Posteriormente, um grupo insatisfeito com as modestas instalações do Clube dos 50 adquiriu a propriedade dos Guinle, outrora casa de campo da família do Barão de Nova Friburgo e o denominaram de Country Club. Clube seleto, o valor do título e mensalidade estabeleceu fronteiras sociais entre os clubes de serviço da cidade. Atualmente o Clube de Xadrez pertence ao município de Nova Friburgo, mas infelizmente é subutilizado apenas como espaço de sociabilidade da terceira idade. Um prédio que poderia funcionar como uma galeria de arte e muitos outros eventos para reviver o seu tempo das mil e uma noites.

  • Foto da galeria

    O Clube de Xadrez foi fundado em 26 de julho de 1927

  • Foto da galeria

    Seu estilo arquitetônico mourisco estava na moda no Brasil

  • Foto da galeria

    Detalhe para as construções no entorno do Clube de Xadrez

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.