"Ficam parados, como os taxistas, esperando o dinheiro chegar até eles"
Poucos dias após a chegada do Uber, festejada por muitos, começaram os problemas. Atrasos, cobrança de viagens não realizadas, falta de carros, corridas negadas e até motoristas comuns cobrando pela tabela do aplicativo são algumas das reclamações que surgem, no rastro da esperança de melhorias no transporte privado de passageiros.
A passageira X., que pediu para não ser identificada, contou que, nesta segunda-feira, 29, por volta das 18h, só conseguiu um carro por intermédio de uma amiga, que conhecia um motorista. Apesar de trabalhar para o Uber, o profissional disse que não estava disponível naquele momento pelo aplicativo, mas se dispôs a atender como particular, cobrando o mesmo preço da tabela da startup.
“Sábado chamados um Uber às 11h para um compromisso às 12h. Vinte minutos depois, sem que ele aparecesse e avisasse que chegaria em dez minutos, sem jamais aparecer, veio a notificação do sistema dizendo que a viagem tinha sido encerrada e o valor, debitado do cartão. E nada de motorista”, queixou-se outra passageira.
Em comentário no site de A VOZ DA SERRA, a leitora Glória Maranhão lamentou que o Uber esteja rejeitando corridas para determinados bairros. “Testei os serviços do Uber em Friburgo durante toda a última semana. E é impressionante, pois é possível ver, através do aplicativo, diversos carrinhos parados. Mas, quando chamamos, eles não aceitam a corrida. Só querem rodar pertinho. A maioria não aceita corridas para Mury, por ser distante. Ficam parados, como os taxistas, esperando o dinheiro chegar até eles”, descreveu Glória, que não dirige e mora a dois quilômetros do ponto de ônibus mais próximo.
Casas noturnas, que seriam beneficiadas, não notam diferença
Nos polos gastronômicos e de entretenimento em bairros distantes de Friburgo, muitas vezes cortados por operações Lei Seca, não foram observadas grandes mudanças no comportamento da clientela, pelo menos até agora.
Proprietário do gastro pub que leva seu nome no Cônego, Victor Scavarda é um dos que ainda estão esperando algum resultado da novidade. “O problema é que tem muito pouco carro disponível, está bem difícil conseguir. Outro dia tentamos pedir um Uber num fim de noite, para um cliente, e não tinha. Os estacionamentos continuam cheios e as ruas, lotadas de carros, como sempre”.
No outro extremo da cidade, em Mury, Daniel Rocha também não viu impactos no movimento do seu brew pub, o Ipa Route . “Não tive um feedback dos clientes ainda. Se compararmos esse janeiro com os outros, foi maior, mas não acredito que seja por causa do Uber”.
Proprietária do Bar América, no Centro, Rivana Abbud só viu vantagens, até agora, como empresária, já que ficou mais barato levar os empregados até em casa, ao fim do expediente. “Para os lugares onde eu pagava R$ 25, agora eu pago R$ 12. Onde custava R$ 50, agora custa R$ 21”, comparou.
Motoristas do Uber também insatisfeitos: “Estamos pagando para trabalhar”
Para os motoristas da Uber, o motivo da insatisfação é simples: o preço baixo - que em alguns casos chega, para o consumidor final, a um quinto do cobrado por táxis convencionais - vem gerando prejuízo para os profissionais e prejudicando a qualidade do serviço.
Diversos motoristas estão entrando em contato com a empresa para que a tabela de preço seja reajustada. Atualmente, em Nova Friburgo, a tarifa por quilômetro rodado é a mais baixa do Brasil: R$ 1.
Levando-se em conta que o litro da gasolina atualmente está em torno de R$ 4 (valor arredondado), em um carro que consuma um litro do combustível a cada 12km, para um motorista do Uber que esteja no Centro e vá pegar um passageiro no Cascatinha (aproximadamente a 6km de distância) para deixar esse passageiro no Centro, o aplicativo calcula o preço total de R$ 12,75 a pagar. Desse valor, o motorista fica com 75%, ou seja, R$ 9,56, enquanto a Uber fica com 25%, ou R$ 3,18. Subtrai-se o valor gasto pelo litro de gasolina rodado (R$ 4 relativos aos 12km), resta de lucro para o profissional R$ 5,56.
Além disso, em dias de chuva e em lugares onde a estrada é de terra, o motorista tem um gasto extra de cerca de R$ 12 para lavar o carro. Sem contar que esses valores são uma estimativa, já que Friburgo é uma cidade com muitas subidas íngremes, que forçam o carro a aumentar o consumo de combustível.
Muitos profissionais, além da tímida margem de lucro, ainda sofrem eventuais avarias em seus veículos, tendo um gasto extra com oficina mecânica. A média de lucro por dia tem sido de R$ 35, o que, na visão dos profissionais, resulta, no fim das contas, em prejuízo.
“Nós estamos pagando para trabalhar. O valor está muito desequilibrado. Os próprios passageiros acham isso. Por conta desses problemas, estamos deixando de rodar”, disse ao jornal A VOZ DA SERRA um dos motoristas.
“A Uber precisa rever esse valor. Muitos passageiros estão sem utilizar o serviço porque tem pouco carro rodando. Os clientes, inclusive, acham que, se for para aumentar um pouco o preço, ao ponto que fique bom para os dois lados e ter mais carros na rua, vale a pena”, disse outro motorista.
Por conta do prejuízo, alguns motoristas estão saindo da cidade e indo para Macaé. De acordo com os profissionais, os valores na cidade litorânea são mais acessíveis para os motoristas. “A saída de muita gente tem sido essa. É uma pena. Ficar uma semana longe da família para poder cobrir os gastos que eu tive no final do ano, achando que iria recuperar em Friburgo”, lamentou um deles.
O que diz a empresa
Através de sua assessoria, em São Paulo, a Uber informou ser normal um período de adaptação sempre que o serviço chega a uma nova cidade e que a adesão de mais motoristas, normalizando o equilíbrio entre oferta e procura, é somente uma questão de tempo e certamente ocorrerá em Friburgo. Com relação aos valores tabelados, a empresa explicou que o preço é dinâmico e sofre variações de acordo com a oferta e a demanda. Ao fim de um grande evento, por exemplo, quando muitas chamadas são feitas, a tendência é que o Uber aumente de preço.
Vice-presidente do Sindicato dos Taxistas de Nova Friburgo, Rodrigo Darriux lembrou que, enquanto a regulamentação não sai, motoristas e empresa estão sujeitos a uma multa diária, conforme a lei aprovada na Câmara dos Vereadores. Ele disse que a tarifa de táxi em Friburgo é praticamente a mesma da capital, apesar do custo operacional bem maior. Para ele, o Uber aqui não esvaziou o serviço de táxis, e sim o de ônibus.
A Prefeitura de Nova Friburgo informou que está em fase de estudos uma lei específica para o setor e ressaltou que somente após o fim do recesso da Câmara Municipal, em fevereiro, será apresentado um projeto de lei regulamentando o serviço do Uber no município.
Leitora, em comentário no site de AVS
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