No coração do Cônego, uma praça que pulsa e pede carinho

Ponto de cultura, esporte e lazer, Sant'Ana carece de iluminação, policiamento e manutenção, segundo moradores
segunda-feira, 08 de janeiro de 2018
por Dayane Emrich

Ela é apenas mais uma entre as tantas praças que existem na cidade. Considerada por muitos uma espécie de refúgio em plena área urbana, ela fica logo ali, na entrada do Cônego, entre as ruas Romão Aguilera Campos e Lauro Sodré. Discreta e silenciosa, ela possui um simpático parquinho para as crianças, aparelhos novos para a prática de atividades físicas e uma pista de skate para quem gosta do esporte. Para completar o cenário e dar a sensação ainda maior de tranquilidade, o lugar é rodeado por belas e imponentes árvores.  

Palco das principais festas do bairro, a Praça de Sant’Ana é mais que um ponto de encontro dos moradores ou de um espaço de lazer, ela é literalmente o coração do bairro Cônego. Construída em formato do símbolo do amor, ela reúne em um só espaço cultura, através das apresentações de teatro realizadas esporadicamente no local, esporte e lazer. “Moro bem em frente a ela e acho que é um espaço muito bom, bonito e tranquilo. Há sempre atividades e atrações para as crianças do bairro”, conta a artesã Angelina Garcia, de 61 anos.

E basta uma breve visita ao local para constatar que, especialmente agora, durante o período de férias, dezenas de pessoas aproveitam o espaço para levar as crianças para brincar, conversar, ler um livro ou apenas ver a hora passar. “Estava de passagem, mas acabei sentando aqui um pouquinho para aproveitar esta tarde e observar o movimento”, disse o aposentado José Paulo Perrud, de 74 anos.

No entanto, mesmo em um estado de conservação melhor que outros locais já visitados por A VOZ DA SERRA na série de reportagens sobre as praças da cidade, o que não faltam são reclamações dos moradores. Troca da iluminação, falta de policiamento e de manutenção estão entre as principais queixas.

“Moro há 60 anos aqui no Cônego. O que mais falta na minha opinião é a iluminação e segurança. Falta policiamento constante e a gente acaba vendo algumas coisas indevidas”, afirma Gilberto Inácio da Silva, 71 anos, aposentado. Opinião semelhante tem o taxista Manoel Oliveira, de 38 anos. “Trabalho neste ponto há bastante tempo e, assim como a maioria dos meus colegas, acredito que falta policiamento. A praça serve de ponto de encontro para muitos jovens, que utilizam a pista de skate, e para famílias inteiras, que trazem seus filhos para brincar no parquinho. Mas a gente quase não vê polícia por aqui”, revela.

O problema também foi apontado por outro taxista, Wanderlan Guiland, 45 anos, que mora no Cascatinha e trabalha no ponto ao lado da praça no período noturno. “Aqui é muito escuro à noite e isso deixa a gente preocupado. Quem vem malhar depois que escurece, por exemplo, às vezes desiste, já que não tem luz”, conta.

Para o engenheiro técnico Cláudio Folly, que reside no bairro há 28 anos, a praça não atende a demanda da população. “Isso porque o número de crianças é muito grande. Nós, moradores, precisamos nos reunir com o administrador público e discutir o que pode ser feito para melhorar este espaço. Acho que ela está muito ‘xinfrim’ ainda. Alguns brinquedos, por exemplo, precisam ser trocados. A gente leva o filho para brincar e ele corre o risco de se machucar, já que o lugar raramente passa por manutenção”, disse ele.  

E as reclamações não param por aí. “Os aparelhos de ginástica deveriam ser pintados de outras cores porquê, por serem amarelos e azuis, cores bem vibrantes, as crianças confundem com brinquedos e acabam utilizando de forma indevida”, conta a artesã Angelina. O taxista Hermes Bohea, de 74 anos, pede um banheiro público para o local e a auxiliar de serviços gerais, Raquel de Freitas, de 41 anos, uma cobertura para dias de muito sol ou chuva.

A VOZ DA SERRA entrou em contato com a prefeitura para esclarecer os problemas apontados pela população. Em nota o governo municipal respondeu que: “a Praça de Sant’Ana tem recebido capina e limpeza regularmente e destaca que o último trabalho feito nesse sentido foi entre o Natal e o réveillon pela Subprefeitura de Olaria e Cônego. Contudo, com a ocorrência frequente de chuvas intensas, o mato cresce mais rápido do que o costume e a equipe, ciente disso, irá retornar ao local para fazer a manutenção. Para este ano, a Subprefeitura pretende angariar fundos para realizar as reformas necessárias na praça e, em tempo, lembra que, no final do último ano, o local foi contemplado com uma academia ao ar livre, por meio de uma parceria público-privada”. Sobre a iluminação pública, a prefeitura informou que está em fase final a licitação de um contrato para que uma nova empresa realize a manutenção do serviço.

A respeito da falta de policiamento, a reportagem entrou em contato com o comando do 11º BPM, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.

Sobre Nossa Senhora de Sant’Ana

Conhecida como Praça do Cônego, mas oficialmente denominada Praça de Sant’Ana, o espaço é uma homenagem a padroeira do bairro, que dá nome também a paróquia local. Mãe de Nossa Senhora e avó de Jesus, Santa Ana casou-se muito jovem, com Joaquim e teve muita dificuldade de engravidar. Na verdade, por muito tempo acreditou-se que ela era estéril e, portanto, vista pela sociedade da época como amaldiçoada por Deus. Por isso, Santa Ana sofreu grandes humilhações, assim como São Joaquim, que foi censurado pelos sacerdotes por não ter filhos. Donos de muita fé, os dois sempre pediam à Deus para lhes abençoar com um filho, até que depois de muitos anos casados, um anjo apareceu para os dois e anunciou a chegada de um bebê, que seria Maria, a mãe de Jesus.

Segundo a teologia, o culto a Sant’Ana remonta ao século VIII. No ano 710, as relíquias da avó de Jesus foram levadas de Israel para Constantinopla e, de lá, foram distribuídas para várias igrejas. A maior dessas relíquias ficou na igreja de Sant’Ana, em Durem, na Alemanha. No ano de 1584, o Papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant’Ana em 26 de julho. Na década de 1960 o Papa Paulo VI juntou a esta data a comemoração de São Joaquim e, por isso, no dia 26 de julho comemora-se também o “Dia dos Avós”.

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