O Dia Mundial do Braile é comemorado nesta quinta-feira, 4. A data marca o nascimento de Loius Braille, criador do sistema de leitura para deficientes visuais. O sistema que veio para facilitar a vida daqueles cuja visão foi prejudicada e junto com outras medidas para orientar melhor os deficientes, em Nova Friburgo, não é colocado em prática da forma correta.
De acordo com a presidente da Associação Friburguense de Integração do Deficiente Visual (Afridev), Yvone Marques, a cidade ainda não está preparada para atender satisfatoriamente pessoas com dificuldades visuais. “Andar na Avenida Alberto Braune é um martírio. Não só pela diferença de pisos, mas também com obstáculos como orelhões, toldos, em alguns casos, mesas e cadeiras e mercadorias de lojas. As pessoas também não tem nenhum respeito e passam esbarrando. Quando não são essas coisas, temos as fezes de animais que de vez em quando eu piso”, enumera Yvone que perdeu a visão há 30 anos, depois de uma toxoplasmose.
Ela observa que, em Nova Friburgo, há poucos espaços públicos com piso tátil, que serve para direcionar o deficiente visual. “Na Estação Livre (antiga rodoviária urbana, na Praça Getúlio Vargas), por exemplo, o piso tátil não me direciona às plataformas de embarque nos ônibus, ao guichê de informações ou ao banheiro. Nos banco, o piso é até bem feito, mas termina logo após a porta giratória. Não há ligação com os caixas, com a gerência. Mesmo nos lugares onde há o piso tátil, eles estão incompletos e não atendem aos deficientes visuais que necessitam de acompanhante para se locomover em toda a cidade”, conta Yvone.
Outro ponto crítico para a presidente da Afridev é a Praça Getúlio Vargas. De acordo com Yvone, o calçamento é desnivelado, há muito buracos e a travessia para as pistas laterais é muito insegura devido a ausência do piso tátil. “Eu costumo andar de bengala, ando bem, mas em pisos assim, fico com medo. Sou muito independente, mas em situações em que tenho que ir a um lugar onde não me sinto segura, alguém vai comigo”, conta.
O preconceito e a falta de entendimento, diz Yvone, é um dos maiores obstáculos. “As pessoas acham que a gente é incapaz, como outro dia em uma padaria, a atendente perguntou para a minha acompanhante se eu gostaria de café com açúcar ou adoçante e eu disse para ela que sou cega e não surda”, disse.
Em Nova Friburgo, achar produtos ou lugares que tenham braile é muito difícil. “Aqui na cidade, geralmente só há placas com braile em alguns elevadores. As caixas de alguns remédios também tem braile. Seria ótimo se cardápios de restaurantes e placas de rua tivessem o sistema. No caso das placas, só colocar uma placa em braile mais baixa e que nos permita passar o dedo e ler”, sugere.
Apesar de todas as dificuldades, Yvone não perde o bom humor. “Tenho 77 anos, muito bem vividos e ainda quero viver mais. Faço tudo que quero. Na Afridev convivo com pessoas entristecidas que reclamam da vida. Tudo é uma questão de compensação. Eu não posso enxergar, mas posso andar, um deficiente físico pode ver, mas não pode andar. Temos que nos apegar às coisas boas, mesmo que aparentemente não haja nada a se destacar”, observa ela.
O Braile
O Braile é composto por 64 sinais, gravados em relevo. Estes sinais são combinados em duas filas verticais e justapostas, à semelhança de um dominó ao alto. A leitura faz-se da esquerda para a direita. A celebração do dia do braile, hoje, 4, objetiva a conscientização da população quanto a importância das políticas públicas para inclusão de pessoas cegas através do sistema educacional brasileiro. Esta é uma ocasião que visa propor na sociedade uma maior reflexão na empregabilidade dos mecanismos que venham a favorecer o desenvolvimento intelectual e social de pessoas cegas.
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