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Granja Spinelli: uma história esquecida
A VOZ DA SERRA publicou uma reportagem na edição do último fim de semana intitulada “Granja Spinelli: um potencial ainda pouco explorado”, assinada pelo jornalista Guilherme Alt. Achei a matéria muito interessante e gostaria de dialogar com ela dentro de um contexto histórico. De acordo com a reportagem, a Granja Spinelli, juntamente com o bairro de São Jorge, possuem 3.385 habitantes. O entrevistado foi Antônio Frossard, presidente da associação de moradores local, cuja sede se encontra abandonada, afetada pela tragédia de 2011. Sendo assim, as reuniões da associação são feitas na Escola Municipal Professor Alberto Mayer. No bairro existe um campo de futebol com boa estrutura e uma arquibancada grande. Há ainda uma segunda quadra de esportes, mas que apresenta perigo para as crianças e adolescentes por estar a sua estrutura danificada. No verão, o lazer dos moradores é o lago localizado na Praça Luiz Spinelli onde nadam para se refrescar do calor. Onze casas populares foram construídas na Granja Spinelli para os desabrigados da enchente de 2007. No entanto, as obras foram paralisadas. Ainda assim, onze famílias tanto da tragédia de 2007, como de 2011, ocuparam as residências que não possuem instalação de água, esgoto e luz elétrica e tampouco a parede interna de divisão dos cômodos.
O ex-prefeito Rogério Cabral asfaltou a estrada que liga a Granja Spinelli, o Vale dos Pinheiros e a Lagoinha ao distrito do Campo do Coelho, recebendo grande fluxo de automóveis. Feito um resumo da matéria, vamos à história! Com relação ao sr. Antônio Frossard, presidente da associação de moradores, trata-se de um descendente de famílias colonas cooptadas na Suíça para formar um núcleo de povoamento na região serrana, na província do Rio de Janeiro, na segunda década do século 19. Essa colônia passou a denominar-se Nova Friburgo, se desmembrando do município de Cantagalo. Os colonos que prosperaram foram os que abandonaram o núcleo colonial e se dirigiram para Cantagalo, tornando-se grandes produtores de café e igualmente criadores de gado nelore.
Por outro lado, grande parte dos colonos suíços que permaneceram em Nova Friburgo viveram na mesma condição social de caboclos pobres brasileiros. No que tange a Escola Municipal Professor Alberto Mayer instalada na localidade, Mayer foi um pastor luterano e um grande educador possuindo um dos mais importantes estabelecimentos de ensino em Nova Friburgo. A existência de luteranos deve-se ao fato de 342 alemães protestantes terem vindo para a vila de Nova Friburgo, em 1824, para fomentar a colônia que vinha sendo abandonada pelos suíços por serem as datas de terras doadas de pouca qualidade para a agricultura. Em relação ao ex-prefeito Rogério Cabral que asfaltou a via que liga o distrito do Campo do Coelho até o centro da cidade, passando pela Granja Spinelli, o fez com interesse puramente eleitoreiro, pois beneficia a sua base política que vem desse distrito. Cabral aproveitou uma via histórica. No passado, esse caminho era justamente o utilizado por agricultores do terceiro distrito, outrora conhecido como Terras Frias, para transportar suas mercadorias em tropas de mulas e comercializá-las no centro de Nova Friburgo. Logo, havia um trânsito frequente de tropas passando pela Granja Spinelli o que éfeito atualmente por automóveis.
E porque Granja Spinelli? Família de imigrantes italianos, os Spinelli chegaram ao Brasil no final do século 19. Depois de trabalharem para o Barão de Duas Barras, em Cantagalo, migraram para Nova Friburgo exercendo atividades laborais como carroceiros e artífices na construção civil. Passadas algumas décadas tornaram-se a família mais rica do município. Possuíam uma atividade econômica muito diversificada que abrangia o comércio, a carpintaria, a marcenaria, os serviços e a agropecuária.
Na granja, os Spinelli produziam leite,comercializavam enxerto de pereiras, macieiras, pessegueiros, videiras, criavam e vendiam coelhos, entre outros produtos.A Granja Spinelli era um dos roteiros turísticos da cidade. Cortando as montanhas e vales era a parada obrigatória dos turistas que apreciavam as parreiras carregadas de uvas, destinadas ao preparo do afamado vinho branco Granjinelli, produzido na granja. Finalmente, o lago localizado na Praça Luiz Spinelli foi em homenagem ao patriarca da família Luiz Spinelli, casado com Marieta Zuanazzi, que chegaram em 1889, ao Rio de Janeiro. Um lugar com tantas referências históricas merecia mais atenção das autoridades governamentais.
Desejo um santo Natal a todos os leitores de A VOZ DA SERRA!
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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