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Batata baroa: a batata da baronesa
O Brasil, assim como a Europa, teve a sua nobreza da terra. Um dos nobres mais exponenciais durante o Império foi Antônio Clemente Pinto, o primeiro barão de Nova Friburgo. Casado com a sua prima Laura Clemente Pinto tiveram dois filhos: Antônio Clemente Pinto, barão, visconde e conde de São Clemente, e Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, segundo barão, visconde e conde de Nova Friburgo. O primeiro barão foi um dos homens mais ricos quando o café era o principal item de exportação da economia nacional, além de amigo do imperador D. Pedro II, a quem costumava hospedar em suas fazendas em Cantagalo.
Em Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto teve várias propriedades e algumas delas fazem parte do patrimônio histórico, como o solar na Praça Getúlio Vargas, o prédio do Sanatório Naval e a Chácara do Chalet, atual Country Clube. Fica ainda como registro a linha férrea, cuja exploração durante décadas foi da família Clemente Pinto. Mas neste artigo gostaria de dar destaque a Chácara do Chalet por razões que o leitor saberá mais adiante.
Na semana passada, fui procurada pelo professor e coordenador do curso de panificação do Senai, Weder Pereira. O motivo era apresentar o trabalho de conclusão de curso de seus alunos que tencionam fazer um pão doce em homenagem ao bicentenário de Nova Friburgo. O pão teria como um dos ingredientes a batata baroa, em homenagem a baronesa de Nova Friburgo, Ambrosina Leitão da Cunha, que deu nome a esse tubérculo.
Casada com Bernardo Clemente Pinto Sobrinho era grande apreciadora desse tipo de batata trazida por seu marido. De início, disse ao professor Weder Pereira que já havia ouvido falar sobre essa relação entre a baronesa e a batata baroa, mas achava que se tratava de uma lenda. No entanto, fui pesquisar. Fiquei surpresa ao me certificar que tinha fundamento essa história.
De acordo com o historiador Luiz Fernando Folly, a batata baroa foi introduzida em Nova Friburgo por Bernardo Clemente Pinto Sobrinho no retorno de sua viagem às Antilhas, antes de assumir a administração das fazendas. Mas não foi somente a batata baroa que ele trouxe. Outras espécies igualmente vieram em sua bagagem. Como os escravos possivelmente chamavam a senhora Ambrosina de baroa, uma corruptela de baronesa, o tubérculo no qual ela tanto amava, acabou virando a “batata da baroa”, e daí, batata baroa. E pegou! E o mais surpreendente de tudo é que o plantio inicial foi em uma chácara, em Nova Friburgo.
A Chácara do Chalet, como era denominada, era composta de uma área de 3,87 quilômetros quadrados de terras, casa nobre de vivenda com arquitetura de chalé parque, pomar, lagos, repuxos, jardins, uma casa para moradia do administrador, casa do hospital, senzalas, paiol, estrebaria, casa para empregados, moinho, entre outras benfeitorias. Possuía um bonde e uma liteira, gado, mulas e porcos.
Cerca de 15 escravos trabalhavam nessa propriedade. De acordo com a engenheira agrônoma, Alda Maria de Oliveira, a batata baroa das montanhas andinas do Peru e do Equador andarilhou para a Colômbia onde se concentrou. Igualmente foi para a Venezuela e para a Bolívia firmando uma identidade vegetal sul-americana. Alda apenas diverge do historiador Luiz Fernando Folly quando diz que o general colombiano Rafael Uribe ofertou esse tubérculo à Sociedade de Agricultura, no Rio de Janeiro, ocasião em que Bernardo Clemente Pinto o levou para serem plantados na região serrana.
Tão próximo de nós, no Country Clube de Nova Friburgo foi plantado um legume considerado um dos mais apreciados no Brasil e muito utilizado na gastronomia. Logo, foi muito bom ter resgatado essa história que traz uma particularidade levada a lume justamente na ocasião que antecede a celebração do bicentenário de Nova Friburgo.
Vamos aguardar o mês de maio de 2018 para experimentar essa guloseima que os alunos de panificação do Senai irão nos brindar, cuja confecção desse pão doce será estimulada a ser feito pelas padarias em todo o município.
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