“Vamos confiar para os 200 anos. Quem sabe a gente ganha o presente de ter uma praça revitalizada”
Nosso ponto de partida, claro, é um dos espaços mais emblemáticos do município. Palco de manifestações culturais, ações sociais, descanso, lazer e polêmicas, a Praça Getúlio Vargas recebe, diariamente, centenas de pessoas. Diversos imóveis hoje localizados em seu entorno, inclusive, possuem importância política e econômica responsáveis pelo que a cidade hoje representa.
Com mais de 360 metros de comprimento e quase 50 de largura, a Praça Getúlio Vargas é projeto do renomado paisagista e botânico francês Auguste François Marie Glaziou, executado pelo engenheiro Carlos Engert (1880) e financiado pelo Barão de Nova Friburgo. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1972, a praça é considerada uma das maiores da região.
A praça é do povo
Os mais velhos sempre contam que, antigamente, praças eram ponto de encontro e bate-papo. Seja pobre ou rico, jovem ou adulto, todo mundo fazia desses espaços extensão de seus próprios quintais. Hoje em dia, com a crescente reclamação de que falta tempo para tudo, inclusive para apreciar a vida, esse perfil tem mudado. Em Nova Friburgo, entretanto, a praça continua sendo espaço de interação do povo.
Mas, apesar de transmitir tranquilidade e contato com a natureza, quem frequenta a principal praça da cidade diariamente, também observa nela alguns aspectos que precisam ser mudados. Altair de Souza, de 58 anos, por exemplo, vende picolé e chocolates na Getúlio Vargas há mais de 40 anos. Para ele, o que ainda deixa a desejar é a segurança.
“Conheço bem a praça. Ela é muito boa, mas falta segurança. Mesmo de dia, é um ambiente inseguro. E não é sempre que a gente vê policial passando por aqui. Quando tinha o posto de polícia instalado a situação era bem melhor”, comenta Altair. Opinião semelhante tem a moradora de Conquista, Luciana Kroff, de 36 anos. “A gente traz o filho no parquinho e tem que ficar de olho nele e nas bolsas. Pois nunca se sabe o que pode acontecer”, declara.
Já para dona Leia Carestiato (foto), de 77 anos, moradora do Centro, a praça precisa de manutenção. “Está muito mal tratada. Essa é a principal praça da cidade, um cartão de visita, e quando a gente passa pela praça do Paissandu e vê aquele espaço lindo, fica com pena dessa aqui. Mas vamos confiar para os 200 anos. Quem sabe ganharemos o presente de ter uma praça revitalizada. Seria ótimo. A gente ouve falar em planos, mas que até agora não foram concretizados”, afirma.
Itanides Sardo, de 70 anos, amiga de Leia e moradora do Bairro da Graça, logo dá uma alternativa para melhorar as condições do local. “Se a prefeitura não tem verba para a manutenção, a praça podia ser apadrinhada pelos comerciantes que aqui se encontram. Se cada um pegasse um canteiro para cuidar, não ficaria pesado para ninguém. O trabalho que é feito hoje não é suficiente”, acredita.
“Acho que falta um ambiente mais florido. A cidade é uma das maiores produtoras de flores do país. Tirar os produtores das ruas transversais e montar espaços bonitos para que eles possam comercializar as plantas aqui seria uma alternativa interessante. Iria florir o ambiente e, ao mesmo tempo, valorizar o trabalho que esse grupo desenvolve”, também sugere Vanda Gama, de 66 anos, moradora do Centro.
Em nota, a prefeitura informou que a manutenção da Praça Getúlio Vargas está sendo realizada sistematicamente. O município não esclareceu, entretanto, se há projetos para os 200 anos a serem executados no local. Em maio deste ano, a Polícia Militar afirmou ter intensificado o policiamento nas alamedas da praça. Na ocasião, o comandante do 11ºBPM, coronel Eduardo Vaz Castelano, informou que, além de uma viatura com dois policiais — que realizam rondas nas alamedas da praça ao longo de todo o dia — há dois agentes circulando em motocicletas, dois através do ciclopatrulhamento e duas duplas a pé.
“O coração da cidade é a Praça Getúlio Vargas, o ponto de encontro de todas as gerações, só que precisa ser pensado racionalmente. A questão da manutenção a nível de solo, como a troca de flores e plantas é possível ser feito até os 200 anos, mas é preciso oferecer uma visão de contexto a população. Quais os motivos dela ter sido construída, porque restaurar. Existe uma visão muito mais ampla do que só o embelezamento dela para os 200 anos”, pondera o presidente da Fundação D. João VI, Luiz Fernando Folly.
Revitalização
Além da polêmica dos eucaliptos, que se originou com o corte de dezenas deles em 2014, a praça ainda convive com outro assunto que divide opiniões, o projeto de revitalização. Lançada em 2015, a iniciativa prevê diversas alterações na praça.
Dentre elas está a mudança dos eucaliptos atuais por outras espécies de menor porte e divisão da praça em três setores, cortados pelos eixos das ruas transversais. O histórico, por exemplo, contaria com uma proposta mais alinhada ao projeto original de Auguste Glaziou, incluindo inclusive o tanque projetado por ele. Tanque este que está enterrado e que, se não recuperado, seria exposto através de um grande painel de vidro por sobre ele.
Feito pelo Iphan, o projeto tinha orçamento inicial de, no mínimo R$ 8,6 milhões que seriam pagos pelo governo federal. A estimativa ainda era que mais de R$ 1,5 milhão seriam gastos somente com serviços de arqueologia. Diante da crise econômica no país, com cortes nos repasses de verbas federais, incluindo a situação orçamentária do Iphan, que também impede o repasse de recursos para execução do projeto, a iniciativa, até hoje, não foi para frente.
Leia Carestiato, 77 anos
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