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Após o incêndio, descobertas históricas
Após o incêndio, descobertas históricas
Ironicamente, o “morro queimado” ardeu em chamas no último fim de semana. O morro das Duas Pedras deu nome à Fazenda do Morro Queimado, de criação de gado, escolhida como sede da vila de Nova Friburgo. No passado, diziam ter havido um grande incêndio nas Duas Pedras e daí o nome de Fazenda do Morro Queimado. No entanto, me parece que tem essa denominação em razão de sua cor acinzentada, com pedras graníticas, característica das montanhas de Nova Friburgo. O mineralogista inglês John Mawe esteve na Fazenda do Morro Queimado em 1809, anos antes de existir Nova Friburgo.
Mawe observou ser uma fazenda apropriada para a criação, com poucos escravos e que a temperatura muito fria não permitia o plantio de produtos como o café, o algodão e a banana. Escreveu que havia magníficas quedas d’água e que o solo era bem irrigado pela água vinda das montanhas, deixando as pastagens sempre verdejantes. Por fim, descreveu que a fazenda tinha abundância de excelente madeira e que era infestada por onças. Nas primeiras décadas do século 20, costumava-se fazer excursões ao morro das Duas Pedras. Havia uma trilha no meio da mata com uma nascente onde se enchia os cantis com água e se fazia pic nic. De lá apreciavam a maravilhosa vista de Nova Friburgo.
No final da primeira quinzena de outubro, as matas da outrora Fazenda do Morro Queimado arderam em chamas. Em outros bairros da cidade pontos de incêndio igualmente ocorriam, mas o da mata das Duas Pedras estava na iminência de atingir o Colégio Nova Friburgo, bem próximo do Colégio Anchieta. Inicia nesse momento uma história interessante como a ave fênix que ressurge das cinzas. Trata-se da descoberta feita pelo técnico em turismo Cristiano Bittencourt. Habituado a fazer trilhas por Nova Friburgo, foi avaliar os danos causados pelo incêndio nas proximidades das Duas Pedras, Morro da Cruz e Pedra da Filó.
Se por um lado o fogo devastou boa parte da mata, por outro deu visibilidade a sete marcos de pedra, há mais de um século. Um deles, próximo ao Colégio Anchieta, tem a inscrição CA com data de 1907, e parece ter sido colocado pelos jesuítas para demarcação de suas terras. Os outros marcos de pedra podem ter pertencido a Estrada de Ferro Leopoldina, mas nada se sabe por enquanto ao certo. De qualquer forma, são descobertas preciosíssimas deixadas por nossos antepassados.
Não é a primeira vez que após uma tragédia surgem descobertas arqueológicas. Na tragédia de 2011, quando ocorreram vários deslizamentos de morros, a empresa Odebrecht, contratada pelo governo federal para diversas obras, descobriu um desses marcos de pedra no outrora Parque da Cascata, mais precisamente próximo ao Colégio Nova Friburgo. Foram feitas imagens por essa empresa e entregues à prefeitura municipal.
Segundo um especialista, esse marco é de fato o utilizado quando foi realizada a demarcação dos lotes coloniais para os suíços. Logo, depois de tragédias, estamos descobrindo referências de nosso passado. Ainda conforme Cristiano Bittencourt, após comparar fotografias com menos de um mês de diferença na área em que esteve e criar um polígono através do Google Earth, chegou à conclusão de que perdemos uma área de aproximadamente 150 hectares com esses incêndios.
Por fim, no último fim de semana quase vimos o solar do Barão de Nova Friburgo, que agora é um museu e centro de documentação, ser incendiado por ato de vandalismo. Estudantes de outros municípios que estavam na cidade para competições esportivas teriam ateado fogo com álcool na sede do Lions Clube, quase atingindo esse prédio histórico. Se isso ocorresse, seria mais um acontecimento sinistro para somar-se em nossa história de tantas tragédias.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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