No Dia Mundial da Alfabetização, celebrado nesta sexta-feira, 8 de setembro, a coordenadora pedagógica do EJA Nova Friburgo, professora Mariléia Vizzoni, explica que essa modalidade de ensino faz parte de uma política pública, dirigida ao indivíduo que não pôde concluir seus estudos. Trata-se de um modelo educacional que supera o escolar convencional e proporciona um ambiente de aprendizado que estimula a autonomia. O EJA Nova Friburgo tem 23 unidades com 843 alunos.
“Além da alfabetização, o EJA desenvolve conhecimentos, habilidades e atitudes que ajudam o aluno a lidar com as questões do dia a dia, tanto em sua vida pessoal como na profissional. Ele deve ser incentivado a ir além da escolaridade básica nos níveis de ensino fundamental e de ensino médio. É seu objetivo estimular o aluno a seguir em frente e, dependendo de sua condição de vida, que vá o mais longe possível. E por que não almejar o 3º grau?”, argumentou Mariléia (foto), acrescentando que o governo estimula os alunos na faixa etária dos 18 aos 29 anos a fazer um curso superior.
Ela lembra que esse tipo de modalidade é complexa por natureza, porque envolve dimensões que transcendem a questão educacional. “Até uns anos atrás, essa educação resumia-se à alfabetização como um processo compreendido em aprender a ler e escrever. Hoje, vai muito além. O professor que se propõe a trabalhar com adultos deve refletir sobre essa prática com uma visão ampliada da sala de aula, do ambiente escolar em que vai trabalhar. Toda essa complexidade exige um entendimento sensível e específico”, completou.
Mariléia fala da importância de resgatar as histórias de vida dos alunos, observando o conhecimento acumulado ao longo de suas existências, em seu habitat. “Eles têm o saber do dia a dia. São muitos os motivos que os levam a estudar. Podem ser por questões econômicas, tecnológicas, ou simplesmente se permitir melhores chances no mercado de trabalho. Educação é algo que se constrói ao longo do tempo, não acontece de um dia para o outro”.
Expandindo horizontes
Para expandir o conhecimento e talvez despertar talentos desconhecidos, a Secretaria de Educação tem feito parceria com outras secretarias, como a de Cultura, através da qual as turmas são levadas ao Teatro Municipal. “O secretário Marcos Marins tem se empenhado para levar as turmas para ver peças, o que para a maioria é uma descoberta fascinante, uma experiência nunca antes vivenciada. Esta inserção ajuda a enriquecer o aprendizado que o EJA oferece”, disse Mariléia, antecipando que também está em andamento um estudo para uma parceria com a Secretaria de Meio Ambiente.
Outra novidade é a abertura de turmas diurnas, onde pais e filhos estudam no mesmo horário. “Temos alunos que não podem estudar à noite. Conseguimos o apoio das escolas Santa Paula Frassinetti, da Estadual (Municipalizada) Neusa Brizola e da Padre Rafael, para que as mães (pais) possam frequentar as aulas no mesmo período dos alunos. Essa iniciativa abriu as portas para mais de 30 pessoas que não poderiam estudar se não houvesse essa parceria”, contou Mariléia.
O EJA também está engajado na campanha do bicentenário do município, com o projeto “200 Anos de Nova Friburgo - EJA na Rua: Canta e Encanta. A ideia é trabalhar o “desenvolvimento de ações pedagógicas que envolvam professores de diversas áreas do saber, a fim de auxiliar nossos alunos a enxergar a história do município de forma crítica, destacando as mudanças que precisam acontecer e suas principais conquistas ao longo dos 200 anos”.
Taxa de analfabetos caiu na última década
O Brasil ainda tem 12,9 milhões de analfabetos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada em novembro de 2016, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de analfabetos vem caindo na última década, mas o recuo é lento. Em 2005, 11,1% das pessoas com mais de 15 anos não sabiam ler e escrever. Dez anos depois, a proporção caiu para 8%.
O desafio da alfabetização de adultos no Brasil está diretamente relacionado à superação de um dos maiores problemas educacionais: as altas taxas de analfabetismo. De acordo com o IBGE, em 2014 o país contava com 13,2 milhões de pessoas analfabetas.
Pauta das políticas de educação no Brasil desde os anos 40, a alfabetização de adultos especialmente em faixas etárias mais altas requer cuidados na elaboração das propostas pedagógicas e dos planos de curso das unidades escolares que atendem esta modalidade.
A trajetória de vida, as necessidades materiais e a inserção no mundo do trabalho devem ser consideradas com a finalidade de propor uma metodologia de ensino adequada. É comum o fato de alunos que retornam aos bancos escolares depois de adultos terem abandonado a escola quando mais jovens por necessidade de sobrevivência. Portanto, o próprio trabalho, as aspirações de cada aluno, suas crenças e valores devem ser respeitados, e servir como ponto de partida para a construção do conhecimento.
Adultos aprendem melhor quando percebem que o que estão aprendendo se aplica à sua realidade e se motivam quando percebem transformações em suas aprendizagens. O aprendizado por resolução de problemas, com tarefas e atividades a serem executadas em vez de memorizadas, por exemplo, estimula a construção de conhecimentos partindo do conhecimento prévio do aluno ao mesmo tempo em que estimula sua autoestima e sua própria valorização como cidadãos. (fonte: Portal do MEC)
Deputado Comte Bittencourt, presidente da Comissão de Educação da Alerj
“A educação no Brasil sempre foi marcada pela exclusão de camadas populares, negando a inúmeros cidadãos a possibilidade de acesso à escola. Neste sentido, é necessário entender que a oferta da educação de jovens e adultos aparece no cenário educacional como a quitação de um débito da sociedade com esses indivíduos, reparando um passivo educacional e social que se arrasta há anos. Para que tal fato aconteça, efetivamente, devemos pensar sempre na perspectiva do acesso e conclusão da educação básica garantida pelo poder público não só por meio de oferta de vagas, mas também por meio de políticas públicas que favoreçam a permanência destes nos bancos escolares. Estas ações garantirão condições mínimas para a qualificação pessoal, profissional e social dos indivíduos, dando-lhes possibilidade de acesso aos diferentes espaços sociais e servindo-lhes como espaço de reflexão e de posicionamento político e cidadão.
Nesta perspectiva, a educação de jovens e adultos é um desafio, não só para gestores públicos, como também para o próprio aluno que, já em idade adulta, repleta de responsabilidades e adversidades, busca recuperar o direito do qual foi privado. Não se trata apenas da simples transmissão de conhecimentos, mas sim do resgate de indivíduos, que foram privados do seu direito à educação na idade certa e que retornam para os bancos escolares, tendo naquele espaço um acolhimento e um resgate da sua dignidade e da sua cidadania.”
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