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Rodeio a cidade odeia; cavalos, não
O vereador Márcio Damazio, do DEM, encaminhou um projeto de Lei Ordinária a Câmara Municipal sugerindo a realização de rodeios, baseado na Lei Federal nº 13.364/2016. De acordo com essa lei, o rodeio, assim como a vaquejada, foi elevado à condição de manifestação cultural nacional e de patrimônio imaterial. Trata-se de uma lei recente do governo Temer que passou despercebida dos movimentos de proteção aos animais. No rodeio são previstas provas de laço, apartação, bulldog, provas de rédeas, provas dos três tambores, team penning e work penning paleteadas. De acordo com a nomenclatura dos exercícios percebemos que a vida desses animais de rodeio não é nada fácil.
O projeto de Damazio não vem sendo bem aceito pela população, conforme vemos nas redes sociais. É notório que os animais sofrem torturas para fazer tal ou qual performance e igualmente maus-tratos durante a prática esportiva. Se formos nesta mesma linha de justificativa, a briga de galo é igualmente manifestação cultural nacional. Há poucos meses atrás fui a São Sebastião do Paraíba, distrito de Cantagalo, e para minha surpresa os galos de rinha são criados à luz do dia e ainda fazem parte da sociabilidade local. No passado, havia na Rua Alberto Braune o Bar Rinha de Galo, onde ocorriam essas escabrosas competições, mas isso há mais de um século atrás.
Quando o assunto é cavalo, Nova Friburgo tem uma interessante história. Um esporte da elite, o turfe, ou seja, as corridas de cavalo eram um grande acontecimento no município. Em 1877, já há o registro de corridas de cavalo promovidas nas ruas da vila de Nova Friburgo. Por iniciativa da família do Barão de Nova Friburgo foi fundado, em 22 de abril de 1881, o Jockey Club de Nova Friburgo. O primeiro presidente foi o Conde de São Clemente. Não se pode precisar, mas em dado momento, o Jockey Club de Nova Friburgo se extinguiu. Anos depois, foi fundado em 30 de abril de 1911, o Friburgo Jockey Club, igualmente formado pela elite local. Já no século 20, havia em Nova Friburgo dois prados: o prado EntreRios, em Lumiar, e o Prado de Corridas de Conselheiro Paulino. Competições de equitação eram igualmente realizadas no Friburgo Futebol Clube. Em julho de 1986, foi fundado o Clube do Cavalo de Nova Friburgo. Objetivava-se incentivar a criação de cavalos de raça no município, com a participação dos criadores locais em exposições, e organizar provas entre os associados. Foi realizada a Primeira Prova de Hipismo Rural de Nova Friburgo, em Conselheiro Paulino, nas modalidades marcha, cross, baliza, rodeio, laço e tambor. Leilão de animais e igualmente espetáculos artísticos estavam previstos na programação. Mas o Clube do Cavalo foi extinto.
Elegante também foi o Nova Suíça Country Club, na década de 60 do século 20, no bairro de São Geraldo. Vinham competidores do Rio de Janeiro e de vários Estados. Pertencia a Murilo Cury, filho de um general que fez de sua propriedade particular um clube seleto de donos de cavalos. A competição era apenas de salto e ocorria a cada três ou quatro meses. No entanto, havia sempre movimento nos fins de semana por conta do clube social e dos proprietários que vinham montar e treinar os seus cavalos. O clube funcionou durante seis anos e foi extinto por uma fatalidade. Murilo Cury foi fazer uma cirurgia de correção do nariz e acabou falecendo. Sem Cury, o Nova Suíça Country Club não teve continuidade.
Como vimos, a afinidade dos friburguenses com cavalos é antiga, mas de forma mais elegante e charmosa. A realização de rodeios é uma prática esportiva primitiva, grotesca e que não encontra respaldo na população. Colocá-lo como manifestação cultural nacional e de patrimônio imaterial, por força de lei, não corresponde aos anseios do bom senso, que vê nessa atividade uma absoluta falta de civilidade.
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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