Em nota divulgada na noite da última segunda-feira, 31, a Reitoria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) anunciou que decidiu adiar o início do segundo semestre do ano letivo de 2017, que começaria ontem, 1º de agosto. A decisão atinge também o Instituto Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ), em Nova Friburgo.
Segundo o texto, o adiamento das aulas por tempo indeterminado foi motivado pelas condições precárias de manutenção da universidade e o não pagamento dos servidores da instituição. “As condições de manutenção da universidade degradam-se cada vez mais com o não pagamento das empresas terceirizadas, contratadas por meio de licitação pública: limpeza, vigilância e coleta de lixo estão restritas”, especificou a reitoria.
Sobre os atrasos salariais dos servidores técnico-administrativos e docentes da universidade, a instituição explicou que a categoria não recebeu o pagamento referente a maio, junho e o décimo-terceiro salário do ano passado. Soma-se a isso os atrasos no pagamento de diversas bolsas, de docentes e alunos, incluindo os cotistas, que são ainda mais prejudicados que os demais alunos, já que ficam impossibilitados de deslocar-se até a universidade ou de prover a própria subsistência.
De acordo com o texto, a situação tem gerado um endividamento crescente, insegurança, angústia e situações de estresse para servidores e estudantes. “Atingimos um patamar insuportável que impede a universidade de bem exercer suas funções de ensino, pesquisa e extensão”, afirmou a reitoria na nota.
Segundo o diretor do IPRJ-Uerj, em Nova Friburgo, Ricardo Barros, a greve deve durar, pelo menos até o próximo dia 14 de agosto, quando será realizada uma nova reunião do Fórum de Diretores das Unidades Acadêmicas. “A não ser que algo aconteça nesse período, isto é, haja progresso das negociações com o governo do estado ou sejam realizados os pagamentos”, pontuou.
Campus Nova Friburgo
A situação do Campus em Nova Friburgo também foi definida por Ricardo como uma das mais críticas, já que o Instituto Politécnico, na Vila Amélia, não consegue se quer pagar as contas de luz e água em dia. “Temos contas vencidas desde 2015. Em novembro do ano passado, o fornecimento de água foi interrompido porque devíamos sete faturas para a Águas de Nova Friburgo, no valor de R$ 29 mil. Parte da dívida foi paga com recursos transferidos da sede da Uerj, no Rio”, explicou ele.
Apesar de não saber precisar o atual valor da dívida, em matéria publicada por A VOZ DA SERRA em janeiro deste ano, Ricardo havia afirmado que, juntando as despesas de energia elétrica e água, o instituto, na época, somava mais de R$ 100 mil em dívidas. “É uma situação complicada e fica cada vez mais difícil trabalhar nesta situação”, desabafou.
O estudante de Engenharia Mecânica e presidente do Centro Acadêmico do Instituto Politécnico (Caip), Arthur Moura, conta que já passou por quatro períodos de paralisação/adiamento das aulas. “Entrei no segundo semestre de 2009 e passei pelas greves de 2012, 2015, 2016 e esta de agora. Tem sido um período muito tumultuado e de incertezas. A gente não consegue dar sequência aos estudos”, disse ele explicando que faltam cerca de 15 matérias para finalizar o curso, mas que, por conta da situação que vive a instituição, não há previsão para se formar.
Arthur conta ainda que, além dos problemas com o pagamento dos servidores e terceirizados, falta insumo na instituição. “Embora a equipe de limpeza esteja lá, falta papel higiênico e desinfetante, por exemplo. Os banheiros masculinos estão cheios de naftalina, pois é mais barato do que limpar e ajuda a disfarçar o odor da urina”.
Outro problema relatado pelo estudante refere-se a falta de um “bandeijão” no campus Friburgo. “Apesar do antigo reitor ter aprovado a instalação de um restaurante no instituto, não foi destinada nenhuma verba para isso. Somos obrigados a sair da instituição para almoçar e, no fim de um mês, a conta fica pesada”, disse ele.
Sobre a crise
A crise da Uerj teve início em 2014 e, por conta do déficit de R$ 21 bilhões nos cofres do estado, o governo do Luiz Fernando Pezão vem atrasando e parcelando o pagamento de alguns servidores e priorizando o de outros, como os da área de segurança e da educação. As universidades, no entanto, estão subordinadas a área de Ciência e Tecnologia e por causa disso convivem com os atrasos.
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