Terras Frias: um cartão-postal

quinta-feira, 20 de julho de 2017

O distrito do Campo do Coelho onde está a localidade de Três Picos foi rota de tropas de mulas até o Porto de Magé e Porto das Caixas. Partindo das fazendas de Cantagalo, as tropas desciam a serra e seguiam até o mercado do Rio de Janeiro por meio de portos fluviais. Por ali passaram as tropas de mulas com bruacas pejadas de café até a introdução da ferrovia pelos filhos do Barão de Nova Friburgo, no ano de 1873. A partir de então, o café passou a ser transportado pela via férrea.

É importante destacar que mesmo com a estrada de ferro, as tropas de mulas foram utilizadas nessa região até quase meados do século vinte. Em 1924, a lei de número 1.809 elevou as Terras Frias à categoria de terceiro distrito. Alguns tropeiros arranchavam nesse distrito, o que acabou acarretando a mudança do nome da localidade. Em 1939, esse distrito passa a denominar-se Campo do Coelho, perdendo o charmoso nome de Terras Frias. Esse nome se deve possivelmente a notoriedade de um rancho de tropeiros de propriedade de um indivíduo conhecido como Coelho, segundo a memória oral. Uma lei casuística deu a um distrito eminentemente agrícola paradoxalmente o nome de um animal.

Nova Friburgo possui seis distritos agrícolas: Campo do Coelho, Lumiar, São Pedro da Serra, Amparo, Stucky e Riograndina. Mas é Campo do Coelho que possui o maior número de agricultores e responde pela maior parte da produção agrícola do município. Essa região juntamente com Teresópolis e Sumidouro é considerada o triângulo das verduras, abastecendo o mercado do Rio de Janeiro com legumes, verduras e frutas. No tocante às frutas, esse distrito exporta morango. O distrito do Campo do Coelho possui as localidades de Campo do Coelho, Três Picos, Patrocínio, Salinas, Baixada de Salinas, Barracão dos Mendes, Floresta Mendes, Conquista, São Lourenço, Centenário, Córrego D’Antas, Santa Cruz, Rio Grande, Cardinot, Florândia, Santana, Hotz, Três Cachoeiras, Pilões, Santa Cruz e Campestre. O nome do distrito, Campo do Coelho, é igualmente o de uma localidade. É importante destacar que os moradores se identificam como domiciliados em suas respectivas localidades, e não no distrito de Campo do Coelho. Um agricultor se apresenta como estabelecido em Três Picos, no terceiro distrito. Essa demarcação territorial denota que desejam ser reconhecidos como moradores de suas localidades.

Nova Friburgo possui duas grandes bacias hidrográficas: a bacia do Rio Grande e a Bacia do Rio Macaé, mas a maior parte das terras agrícolas se concentra nas margens do Rio Grande. As propriedades agrícolas dessa região têm em média entre 2 a 4 hectares e produzem olerícolas a exemplo de couve-flor, chuchu, berinjela, jiló, pimentão, abobrinha, tomate, brócolis, salsinha, cebolinha, etc. Quando se fala em Três Picos e igualmente em outras localidades desse distrito, temos que analisar essas comunidades à luz da estrutura social e econômica: a agricultura familiar. Na história do Brasil, a pequena propriedade rural produtora de alimentos sempre ocupou posição secundária em relação a grande unidade de produção agrícola voltada para a exportação, única beneficiária das políticas públicas. Mas na década de 1990, as unidades familiares de produção ganham atenção. Uma minissérie, Memorial de Maria Moura, de um determinado canal de televisão escolheu os Três Picos como locação. Atualmente é um dos locais mais explorados pelos amantes de trilhas e montanhismo. Porta de entrada de Nova Friburgo até o advento da linha férrea, os Três Picos, sem dúvida, são um dos maiores cartões-portais de Nova Friburgo.   

  • Foto da galeria

    Os Três Picos são um dos maiores cartões portais de Nova Friburgo

  • Foto da galeria

    Tropas de mulas circulavam por essa região até meados do século 20

  • Foto da galeria

    As propriedades agrícolas do terceiro distrito têm em média entre 2 a 4 hectares e produzem olerícolas

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.