No Dia do Apicultor, torne-se um expert em abelhas e produção de mel

Em mais de 100 vegetais que comemos, 90% são polinizados por esses insetos
segunda-feira, 22 de maio de 2017
por Ana Borges
Uma abelha fazendo seu trabalho no Apiário Amigos da Terra (Foto: Arquivo AVS)
Uma abelha fazendo seu trabalho no Apiário Amigos da Terra (Foto: Arquivo AVS)

Mel, abelhas, flores, colmeias, néctar, mel doce mel… Aprendemos que o mel é produzido pelas abelhas, criado a partir do néctar que elas recolhem das flores, processado pelas enzimas digestivas, que em seguida é armazenado em favos nas colmeias.

Antigamente, o homem consumia o mel de forma extrativa, geralmente causando danos para as colmeias. Com o passar do tempo, ele aprimorou as suas técnicas, e hoje em dia é possível abrigar abelhas "domesticadas" em colmeias artificiais, podendo assim aumentar a produção do alimento.

Integrante do grupo dos chamados “insetos sociais”, as abelhas produzem o que é considerado o único alimento doce que possui sais minerais e vitaminas essenciais para a saúde do ser humano. E ainda: suas propriedades medicinais também oferecem uma ação antibacteriana.

O professor e apicultor gaúcho Hugo Muxfeldt (1905-1999), em seu livro sobre abelhas e mel, descreve que as mais antigas referências sobre colheita e extração de mel foram encontradas com data de 5.000 anos, no Antigo Egito. Segundo suas pesquisas, a apicultura tem uma longa existência, de aproximadamente 2.400 a.C.

“As técnicas de manejo foram desenvolvidas pelos egípcios e gregos, e sua introdução no Brasil foi atribuída aos jesuítas no século 18, nos territórios que hoje fazem fronteira com o Brasil e o Uruguai, no noroeste do Rio Grande do Sul”, informou.

“Em 1839, o padre Antônio Carneiro Aureliano mandou vir colmeias de Portugal e as instalou no Rio de Janeiro. Em 1841, já havia mais de 200 colmeias na Quinta Imperial. Em 1845, colonizadores alemães trouxeram abelhas da Alemanha (Nigra, Apis mellifera) e iniciaram a apicultura no sul do Brasil”, completou o autor.

Sem abelha, sem planta

De acordo com os cientistas estes insetos existem no mundo há 20/40 milhões de anos. Para entendermos a evolução da vida na Terra até chegar ao mel, voltemos aos primórdios de vida no planeta, que surgiu no meio aquático. Os primeiros organismos unicelulares que se formaram saíram da água. Esses organismos foram evoluindo, chegaram à superfície, e em seguida se transformaram em plantas. As mais antigas não produzem flores, como as samambaias e as do tipo coníferas.

Quando finalmente começaram a aparecer plantas com flores, as chamadas angiosespermas (plantas espermatófitas, cujas sementes são protegidas por uma estrutura denominada fruto),  um grupo de vespas, de hábitos carnívoros, atraídas pelas flores se transformaram nas primeiras abelhas. Essa teoria é defendida há muito tempo, baseada em achados arqueológicos de abelhas fossilizadas em restos de âmbar e que foram cuidadosamente datadas.

Há cerca de oito anos foi encontrado um sítio arqueológico novo na Índia onde se comprovou uma datação de abelhas fossilizadas ainda mais antiga do que a conhecida até então: 52 milhões de anos.

Uma curiosidade: nem toda flor tem a anatomia apropriada para a abelha, no entanto, 80% das flores de todo o mundo são visitadas e polinizadas por elas. Flores e insetos vêm evoluindo juntos, em suas formas, ao longo de milhões de anos. É um processo da natureza chamado coevolução, isto é, evoluir e modificar junto, ao longo do tempo. A planta se adaptou à abelha, e ela à planta.

O equilíbrio que as  abelhas garantem

De acordo com o médico-veterinário e apicultor de Nova Friburgo, Luis Moraes, proprietário do Apiário Amigos da Terra, não existe planta sem abelha, nem abelha sem planta. Por isso, a questão do gradual e sistemático desaparecimento das abelhas, em todo o mundo, é uma preocupação constante. “Esse é um assunto sério e vem sendo muito debatido em encontros internacionais promovidos por diversas entidades. A sobrevivência da nossa espécie depende desse processo, desse equilíbrio”, comentou.

 “Elas são essenciais para a agricultura”, destaca Luis Moraes, explicando que as abelhas polinizam cerca de 90 tipos de frutas, vegetais e a soja. “Elas multiplicam as plantas, que são necessárias para produzir oxigênio através da fotossíntese e servem de base dentro daquilo que chamamos de cadeia alimentar. Ou seja, as plantas alimentam os animais herbívoros que, por sua vez, alimentam os carnívoros que são consumidos por animais onívoros, como nós, que comemos carne e vegetal. Se a abelha sumir, essa sequência será drasticamente alterada, porque em mais de 100 plantas que fazem parte da composição da nossa alimentação, 90% delas são polinizadas pelas abelhas”.

Ele lembrou ainda que existem seres que só sobrevivem em ambientes preservados. “Em Friburgo ainda temos florestas primárias, parte de Mata Atlântica, onde observamos árvores com fungos, um tipo de líquen meio alaranjado, que não é mais encontrado numa cidade como o Rio, por exemplo, por causa da poluição. Em natureza muito agredida, esse ‘ser’, o fungo, não tem chance de sobreviver. Por isso, a presença dele aqui é sinal da pureza do ar que respiramos, da excelência do nosso clima. Além de ser um alento para todos nós, deveria ser mais um elemento ou talvez o mais importante atrativo turístico”, argumentou o especialista.

E finalizou: “O nosso clima, matas, florestas, rios, cachoeiras, são verdadeiras dádivas. E o poder público tem responsabilidade sobre a preservação dessa cadeia. As abelhas vêm sinalizando, há tempos, que o poder público está negligenciando de sua competência em relação a essa questão. Temos que mudar nossa maneira de lidar com a natureza, as abelhas não estão aí brincando. Abelha é bicho sério e trabalhador!”   

Olha que interessante….

Chama atenção de todo mundo, a organização exemplar de uma colmeia. As “operárias” contam com o que pode ser considerado um “plano de carreira”. De acordo com a sua idade, vão mudando de função dentro do grupo, que se comporta quase como um só organismo.

Em cada colmeia, existe uma rainha, que vive entre quatro e oito anos e, quando bem alimentada, põe de 2 mil a 3 mil ovos por dia. Além dela, há cerca de 400 mil zangões, que têm a função de fecundar a rainha. Eles morrem após a fecundação ou são mortos pelas operárias ao final da florada. E, finalmente, as grande responsáveis pelo funcionamento da sociedade, as operárias, em um número que varia de 60 a 100 mil indivíduos, que vivem de 30 a 50 dias e que se dividem em:

a) Faxineiras: idade de um a três dias. Fazem limpeza de alvéolos. Após o 3º dia de vida, tornam-se cozinheiras.

b) Cozinheiras: idade de três a sete dias. Alimentam as larvas com mais de três dias com mel e pólen. Após o 7º dia de vida, se tornam nutrizes.

c) Nutrizes: idade de sete a 14 dias. Alimentam as larvas, com idade inferior a três dias, com geléia real. Após o 14º dia de vida, se tornam engenheiras.

d) Engenheiras: idade de 14 a 18 dias. Segregam cera e constroem favos. Após o 18º dia de vida, tornam-se guardiãs.

e) Guardiãs: idade de 18 a 20 dias. Defendem a colmeia e tornam-se campineiras no 21º dia.

f) Campineiras: idade de 21 dias até a morte. Trazem resina, néctar, pólen e água.

Uma abelha pode percorrer até 12 quilômetros em busca de alimento e água. Um indivíduo visita dez flores por minuto e faz em média 40 voos por dia, tocando cerca de 240 mil flores. Com a língua, recolhe o néctar do fundo de cada flor e guarda numa bolsa localizada na garganta. Na colmeia, o néctar passa de abelha em abelha, de modo que a água que ele contém evapore, engrossando e se transformando em mel.

Cada abelha produz aproximadamente cinco gramas de mel por ano. Para produzir um quilo de mel,  precisam visitar 5 milhões de flores e, para produzir um grama de cera, consomem cerca de seis a sete gramas de mel.

Apenas abelhas fêmeas trabalham. O zangão morre após fecundar a rainha, que armazena os espermatozóides em um reservatório de sêmen em seu próprio organismo.

Dez curiosidades   

1. Uma abelha campeira visita dez flores por minuto em busca do pólen e do néctar.

2. Ela faz, em média, 40 voos diários, pousando em 40 mil flores.

3. Com a língua, a abelha recolhe o néctar das flores e o guarda numa bolsa localizada no fundo da garganta. Depois, ela volta para a colmeia e o néctar vai passando de abelha para abelha. A água evapora, o néctar engrossa e se transforma em mel.

4. Uma abelha produz cinco gramas de mel por ano. Para produzir um quilo de mel, as abelhas precisam visitar cinco milhões de flores.

5. Uma colmeia abriga cerca de 50 mil abelhas. Tem uma rainha, alguns zangões e milhares de operárias.

6. Se nascem duas rainhas ao mesmo tempo, elas lutam até que uma morra.

7. A abelha-rainha vive até dois anos, enquanto as operárias não duram mais que um mês e meio.

8. Apenas as abelhas fêmeas trabalham. A única missão dos machos é fecundar a rainha. Depois de cumprirem essa missão, eles não são mais aceitos na colmeia. Ficam de fora até morrerem de fome.

9. As abelhas-rainhas põem três mil ovos num único dia. Uma abelha carrega o peso equivalente a 300 vezes o seu.

10. Como uma colmeia abriga até 50 mil abelhas e cada abelha produz cinco gramas de mel por ano, a colmeia pode produzir, anualmente, 250 quilos de mel.

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