(SECOM) - Mais um dia histórico para Nova Friburgo. A tarde da última segunda-feira, 13, assinalou um encontro que ficará registrado de forma marcante para a cidade. Um aperto de mãos selou um compromisso que pode marcar um novo tempo para o desenvolvimento do município, sobretudo para o ensino superior local. O prefeito Heródoto Bento de Mello reuniu em sua residência, ao lado de sua mulher, dona Betty, e acompanhado ainda dos secretários municipais Braulio Rezende Filho (Geral de Governo), Girlan Guilland (Comunicação Social) e Ledir Porto (Educação), um grupo de profissionais ligados ao Colégio Nossa Senhora das Dores e à Faculdade Santa Dorotéia, ao qual apresentou proposta, recentemente idealizada, no sentido de implantar a Universidade Católica de Nova Friburgo.
Além das irmãs Sânia Cosmelli e Celma Calvão e da professora Geni Nader, bem como da diretora do CNSD, professora Jean Beatriz Wermelinger, participou ainda do encontro o gerente da Incubadora de Empresas da Uerj, Luiz Borges. Inicialmente o prefeito fez uma ampla explanação, com um retrospecto histórico da cidade, acentuando um estudo que vem sendo feito a respeito das potencialidades locais, para destacar em seguida as bases de sua proposição.
Um caminho
“Estamos à procura de um caminho para Nova Friburgo”, disse o prefeito após historiar que a cidade se formou praticamente a partir do milagre da formação cultural de seus destemidos e empreendedores imigrantes. “Foi uma gente simples, humilde e aguerrida que construiu a cidade”, sustentou Heródoto, lembrando que “Suíça Brasileira foi um nome que Nova Friburgo ganhou por causa de suas condições salubres à época”.
Depois de destacar a construção, há mais de 150 anos, do Instituto Hidroterápico e Hotel Central Dr. Carlos Éboli (onde hoje funciona o Colégio Nossa Senhora das Dores), o prefeito voltou a destacar a tese que vem defendendo ultimamente, no sentido de que Nova Friburgo é um parque. Para reforçar sua defesa, ele disse que basta, a qualquer hora, olhar em volta e constatar todo o verde e a imponência das montanhas.
Heródoto falou sobre o processo de industrialização, a partir de 1911, comparando a cidade a partir daí a um centro de várias faculdades populares, “as quais, verdadeiramente, foram responsáveis, por formarem o povo simples”.
Castelo de cartas
Voltando a dizer que está em busca de novos caminhos, o prefeito Heródoto mencionou ainda que “o nosso crescimento econômico não pode ficar preso somente à indústria da moda íntima”. Ele disse que o setor é um verdadeiro castelo de cartas, sujeito às influências, por exemplo, do próprio mercado interno e da concorrência chinesa. “Já existem várias outras cidades brasileiras se intitulando capital da moda íntima”, frisou.
Depois de falar sobre os dois patrimônios éticos - a história e o povo - e os outros dois patrimônios físicos - a cidade e a natureza -, o prefeito disse também que estes dois últimos pilares representam suas principais ideias para colocar em prática o grande plano pelo qual está querendo resgatar o polo cultural e turístico que a cidade é no interior do estado do Rio. “Não temos a nossa própria universidade. Somos um quintal das outras faculdades e temos que deixar de ser. Só temos uma faculdade independente, que é a Santa Dorotéia. A única autenticamente nossa e, por isso, pensei: por que não fundarmos nossa universidade, baseada na faculdade de vocês, dando início à Universidade Católica de Nova Friburgo?”, propôs às irmãs Celma e Cosmelli.
Cursos
Auxiliado pelos secretários, o prefeito relacionou rapidamente alguns cursos que poderão ser oferecidos, como enfermagem, gestão ambiental, gás e petróleo, teologia, engenharia civil, entre outros, além dos cursos já ofertados pela FSD, que atualmente é referência nos cursos de Letras, História e Geografia, com os quais todos os anos obtém notas expressivas nas avaliações oficiais. Heródoto disse ainda que as instalações do Ibelga, na localidade de Centenário, em Salinas, podem abrigar determinados cursos, sobretudo nas áreas de veterinária, zootecnia e agronomia. O secretário Geral Braulio Rezende ainda lembrou a necessidade de um curso de medicina, destacando ser fundamental para implantar a residência médica no Raul Sertã, que desta forma poderia operar como um hospital universitário. O prefeito ainda lembrou que, além do Ibelga, outros estabelecimentos na cidade poderiam integrar o campus, a exemplo do Colégio Anchieta.
“Irmã, vamos selar o compromisso”, disse um animado Heródoto, estendendo a mão para o gesto mais do que simbólico de um cumprimento para formalizar a proposta, que teve aceitação unânime.
Para a professora e secretária de Educação do município, Ledir Porto, “como sempre a ideia do prefeito é brilhante. Dr Heródoto é um visionário, está sempre pensando no amanhã”, disse ela, lembrando, no entanto, que o grande problema para se implantar uma universidade é a questão orçamentária, além da complexidade burocrática. Por isso ela sugeriu a contratação de uma consultoria especializada, além de indicar que devam ser estabelecidos contatos com o Ministério da Educação, através do ministro Fernando Haddad.
Irmã Sânia Cosmelli: “Eu vejo o dedo de Deus nisso”
Visivelmente entusiasmada, a irmã Sânia Cosmelli, uma das precursoras da FFSD, que há 53 anos foi a instituição de ensino superior pioneira na cidade, disse que a realização da reunião acontecia num momento especial. Ela se referia à chegada, na tarde daquele mesmo dia, da imagem peregrina de Santa Paula Frassinetti - cuja recepção oficial já estava marcada para a manhã do dia seguinte, organizada pela FSD e CNSD. “Eu vejo o dedo de Deus nisso”, disse, reportando-se aos primórdios da faculdade das Irmãs Medianeiras, ordem que deu origem à atual Faculdade Santa Dorotéia. “Isso é histórico”, fez questão de repetir, lembrando ainda que o engenheiro Heródoto Bento de Mello foi o profissional da obra do prédio “e dos primeiros a acreditar na instituição, quando, na época, muitos duvidavam”.
“O importante, irmãs, é nos decidirmos a fazer. O importante é as senhoras saírem do patamar em que estão; vamos levar nossa universidade para frente. Precisamos de algo que projete Nova Friburgo. Pela Prefeitura não podemos financiar isso, mas sim apoiar, facilitando condições e ainda concedendo bolsas para servidores e seus dependentes”, comprometeu-se o prefeito.
Uni-Nova, a nossa Universidade
Heródoto Bento de Mello - prefeito municipal
O futuro de Nova Friburgo deve, por todas as razões que sabemos, fundamentar-se nos seus conhecidos patrimônios, dois físicos: a natureza e a cidade e, dois éticos: a história e o povo.
Sobejamente, temos demonstrado a pujança de nossa natureza e o quanto ela representa para o nosso povo. Nós, muitas vezes, passamos por cima das palavras e de seus significados. A nossa unidade física no contexto nacional é o de um município. Eu não sou o prefeito de Nova Friburgo, a cidade de Nova Friburgo; sou o prefeito do município de Nova Friburgo. O que acontece é que nós nos fazemos o prefeito da cidade de Nova Friburgo.
É a cidade que conta, não é o município como um todo. Este todo é complementar, acessório, ainda que tenha imensos valores sociais, físicos, econômicos e ecológicos. Já começamos, agora, de pouco em pouco, a ver reconhecida esta nossa tese. Nova Friburgo é um chão, um parque, de cerca de 1000 km2 de áreas naturais riquíssimas em vegetação exuberante, montes, vales e rios, que partilha apenas 3% dessa área com o solo urbano, e nessa pequena parcela urbana, temos, além de uma cidade, seis Vilas sedes de distritos: Campo do Coelho, Riograndina, Amparo, São Pedro da Serra, Lumiar, Mury, bem como um sem-número de outras comunidades, vilas ainda não reconhecidas: São Lourenço, Centenário, Santa Cruz, Salinas, Barracão dos Mendes, Conquista, Três Cachoeiras, Pilões, Rio Grande de Cima, Janela das Andorinhas, Colonial 61, Vargem Alta, Bocaina dos Blaudts, Benfica, Tiradentes, Boa Esperança, Santa Luzia, Cascata, São Romão, Galdinópolis, Toca da Onça, Rio Bonito, Macaé de Cima, Theodoro de Oliveira (a Vila do Alto) e a Cascatinha do Cônego.
Enquanto a cidade constitui a coluna vertebral da nossa área urbana, essas vilas se distribuem ao longo de nossas fronteiras, guardando-as. Assim, eu diria que o prefeito é o gestor do município e o gerente das áreas urbanas.
Poderíamos entender isso melhor se nos reportarmos à organização política do Cantão de Fribourg, na Suíça. A cidade de Fribourg não tem um prefeito. Ela tem um síndico, como acontece com todas as demais vilas do Cantão, gerenciadas por um síndico. Imaginem se isso pudesse acontecer em Nova Friburgo!
Será que temos consciência de tudo o que fisicamente somos e de como todo esse patrimônio material vale para o nosso desenvolvimento?
Devemos ainda atentar para os nossos dois patrimônios éticos, a história e o povo. A essência desses dois patrimônios se revela na cultura de nossa gente. A nossa história e o nosso povo que a vive há quase 200 anos fundamentam a nossa cultura. Será que temos consciência de nossos valores culturais? Será que sabemos reconhecê-los? Será que sabemos cultuá-los?
As manifestações culturais de Nova Friburgo, desde a sua fundação, vêm se exprimindo até agressivamente. Como explicar a nossa história? A imigração? O Teatro Dona Eugênia? O Colégio Freeze? O Colégio Anchieta? A Euterpe? A Campesina? As Bandas de Lumiar? Os movimentos teatrais, o Gama? A Academia de Letras, os Jogos Florais, o Centro de Arte? O Clube de Cinema? A Sociedade Fotográfica? Tantos artistas plásticos? O Nêgo? A Faculdade Santa Dorotéia? Os corais? Os blocos e as Escolas de Samba? A música popular? Os concertos sinfônicos? O teatro do Country? A Praça das Nações? Os grandes movimentos de aproximação com as nossas origens? Os encontros de nossas famílias? As nossas panóplias? La Gènese, do Martin Nicoulin? As histórias do Raphael Jaccoud? O nosso teatro municipal?
Pergunto ainda: será que temos consciência de tudo o que, culturalmente, somos e de quanto todo esse patrimônio cultural vale para o nosso desenvolvimento?
Todas essas manifestações são sinais de uma grande força cultural, que agora precisa ser coroada com a marca de nossa história e de nosso povo.
Nova Friburgo precisa ter a sua própria Universidade. Assim como o parque é o símbolo de nosso patrimônio físico, a universidade, a Uni-Nova, será a consolidação de nosso patrimônio cultural.
O nosso futuro está na nossa natureza e na nossa cultura. A natureza, Deus nos deu. A Universidade será a quintessência da inteligência de Nova Friburgo.
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