Ayrton Senna: 23 anos sem o herói nacional

Feriado do trabalhador também é marcado pela lembrança ao maior piloto brasileiro de todos os tempos
domingo, 30 de abril de 2017
por Guilherme Alt

Desde 1994, o dia 1º de maio é lembrado como um dos dias mais tristes para o esporte nacional e internacional. Aliás, não só para o esporte, porque mesmo quem não gostava de Fórmula 1, na época, sentia algum tipo de identificação e carinho pelo piloto.

Ayrton Senna reacendeu o orgulho de uma população com baixa autoestima. No final dos anos 80 e início dos anos 90 o país passava por uma forte instabilidade política e econômica, parecida com a que presenciamos hoje. Ao erguer a bandeira brasileira dentro de seu cockpit e levá-la ao lugar mais alto do pódio de um grande prêmio, erguia também a moral e o orgulho de uma nação.

É o que sentia o carteiro Rogério Albertini, grande fã do piloto. “Depois da eliminação do Brasil na Copa de 86, num sábado, no dia seguinte o Senna ganhou o GP de Detroit (EUA). Ele pegou uma bandeira do Brasil e ergueu dentro do carro. Isso foi um resgate do orgulho nacional, que estava ferido. A partir daí ele repetiu esse gesto em todas as vitórias. Isso foi fundamental para a idolatria que dura até hoje”.

Rogério tem o maior acervo do piloto, na cidade. Avaliado em cerca de R$ 100 mil, o carteiro, que costuma fazer exposições para mostrar ao público seus “brinquedos”, tem luvas usadas por Senna, bonés, miniaturas dos carros e capacetes, pôsteres, bonecos customizados e uma réplica do capacete de Senna, o xodó da coleção. “Eu gastei cerca de R$ 4 mil no capacete. É a principal peça da minha coleção. Foi uma das últimas réplicas feitas pelo Sid Mosca, projetista que fazia todos os modelos para o Senna e fez pra outros pilotos brasileiros.”

O ex-chefe de pista do autódromo de Jacarepaguá, Roberto Mazzala, teve contato direto com Senna. Mazzala só encontrava o piloto nos períodos do Grande Prêmio do Brasil, quando ainda era realizado no Rio de Janeiro. Roberto acompanhou o início da carreira do piloto, em 1984, e viu de perto o menino franzino se transformar em ídolo nacional. “Comecei a participar da F1 em 1981, Senna chegou em 84. Acompanhei desde o início na Toleman, passando pela Lotus, até o auge na Mclaren. Ele sempre me perguntava as condições da pista e dos desempenhos dos outros pilotos para estabelecer parâmetros com os próprios resultados”. Em 1988, ano do primeiro título, Roberto manteve um contato ainda maior e recebia pedidos do piloto. “Como eu era chefe de pista, ele me pedia para dar voltas no autódromo. Enquanto eu dirigia e ele observava curvas, pontos de ultrapassagem e traçava sua estratégia.”

Roberto revela um pedido especial de Senna. “Em 89, ele namorava a Xuxa. Ficávamos até tarde no autódromo, ele sempre participando de tudo. Um dia ele me pediu para levá-los à torre de controle da pista. Dito e feito”, brinca.

Mesmo entre os jovens que não o viram correr, Senna desperta o mesmo sentimento de saudade e idolatria que aqueles que o acompanharam em toda carreira. É o caso do estudante de engenharia Ivor Freeze, de 24 anos. De acordo com Ivor, a paixão de Senna por carros o inspirou a ser um bom motorista e a se aproximar do ídolo. “Eu quis ser o melhor motorista e instintivamente pensei na melhor pessoa possível, além do meu pai. Possuir um interesse em comum me deixou mais próximo do Senna. Não o vi correr, mas sei que ele continuará sendo um ídolo e inspiração para gerações de entusiastas que estão por vir”.

Senna fazia com que o mais preguiçoso dos brasileiros colocasse o despertador pra tocar em um domingo de manhã. Era ele quem levava milhares ao autódromo de Interlagos e era por conta dele ou pela ausência dele que milhares de fãs deixavam o local quando Senna abandonava uma corrida, ainda em disputa. Muitos não eram fã de Fórmula 1, eram fãs de Senna. Os brasileiros não iam pra ver a Fórmula 1, iam para ver Ayrton Senna.

Foto da galeria
Roberto Mazzala e Ayrton Senna, no fim dos anos 80 (Foto: Arquivo pessoal/Roberto Mazala)
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