Em agosto do ano passado, o artista plástico Marcelo Brantes falou da sua necessidade de “praticar” arte, viver a arte, intensa e compulsivamente. Ele confessa: passa as 24 horas do dia respirando arte, pensando e criando, fumando e se revelando e expressando o que se passa em sua mente, seu cérebro, sua alma, seu coração.
Marcelo é assim, peito aberto, exposto da forma mais despudorada, sem ser explícito, que ele não faz o tipo “facinho”. Para descobri-lo, tem que prestar atenção, olhos bem abertos e espírito desarmado. O artista está ali, inteiro, em cada obra, intensa e bela, na exposição Efeito Colateral.
Naquele agosto de 2016 — após inauguração de sua Galeria KM7 em março —, em entrevista concedida a mim e Regina Lo Bianco, ele disse: “A arte tem um enorme poder de transformação. É importante na vida de qualquer ser humano e deve ser difundida, disseminada, praticada. Precisamos ler mais, escrever mais, pintar mais. Precisamos ver-fazer teatro, ouvir-fazer música, dançar, cantar, fotografar, filmar, gravar, observar, pensar. Precisamos refletir mais, deixar fluir as sensações, se deleitar com o desmanchar das coisas sólidas. Precisamos viver mais poesia.”
De lá pra cá, Marcelo mergulhou em novos projetos, cumprindo o que havia prometido a si mesmo: fazer valer a pena a sua existência. Agora, o resultado de parte dessa imersão poderá ser apreciado a partir do sábado, dia 25, das 16h até 22h, na Rua Margarida Brantes, 265, Venda das Pedras (no sentido Friburgo-Teresópolis, RJ-130, após o Hospital São Lucas). Uma enorme placa preta com letras brancas garrafais - indica a entrada para a KM 7, à direita. Entra ali e logo adiante está a galeria. Contatos (22) 3016-1944 // (21) 99913-9829 // marcelo.brantes@yahoo.com.
Casulos, fósforos, teclas, cartelas: resíduos e seus efeitos colaterais
Hiperativo, esse artista abstratamente robusto habita um corpo físico magricela e comprido feito um graveto. Fuma que nem um turco, como se diz por aí. Acorda com um cigarro pendurado no bico e, penso, deve dormir inebriado com o cheiro de nicotina. Consciente do estrago em sua saúde, Marcelo já entregou pra Deus o momento de sua partida.
Um poeta à margem da vida, ele é capaz de levar meses colando milhares de casulos de traças para criar uma de suas telas, a maioria de grandes dimensões. A exposição conta parte de sua trajetória nos últimos 20 anos, desde o período de 10 anos em Nova York, onde surtou após o ataque de 11 de setembro, até sua volta para o Brasil.
Estão lá imagens de helicópteros de guerra feitos com restos de material tecnológico, outras criadas com cartelas dos remédios que usa, colagens de pedaços de caixas de fósforos, tudo visceralmente trabalhado para expressar o turbilhão que domina sua mente até que possa expressar a paz de espírito que almeja. Essa passagem também está lá, todo o artista está lá, com todos os efeitos colaterais que um trabalho dessa natureza exige.
Vivendo como um eremita, numa casa antiga que precisa de constantes reformas e manutenção permanente, à beira de um córrego, Marcelo Brantes se sente totalmente integrado e à vontade naquele habitat. Mal concluiu o projeto que ora apresenta, com todos os desdobramentos que ele ensejou — como o paisagismo ao redor da casa, a integração de um imóvel vizinho, a adaptação da iluminação, entre outras interferências -, ele já está dedicado a preparar a KM7 para o bicentenário do município.
Para tanto, o artista elabora a Bienal 200 Anos Nova Friburgo, com a realização de atividades na galeria e em seu entorno. Portanto, mais um ano de intensas e extensas propostas a serem efetivamente concretizadas.
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