A política é mesmo uma caixinha de surpresas. E na terra friburguense, onde quem é Paulo é Paulo, mas também pode ser Nelci, o vice de ontem pode virar o secretário de amanhã e os inimigos ideológicos de outrora tornam-se, de repente, inseparáveis amigos de infância.
No caldeirão sempre fervente da política, as possibilidades são mesmo infinitas. Que o diga o vereador Marcelo Verly, 38 anos, reeleito para o seu segundo mandato, que parece não ter receio de mudanças: nos anos 2000 foi secretário de Administração, de Gabinete, Geral de Governo e de Desenvolvimento Econômico do governo Saudade Braga, com quem rompeu em 2005, assumindo, então, suas funções no Legislativo local. O tempo passou, aquele governo acabou e nesse período Verly se afinou politicamente com o deputado estadual Olney Botelho, que nas últimas eleições perdeu a disputa da cadeira número 1 do município para o atual chefe do Executivo, Heródoto Bento de Mello que, por sua vez, não tardou a convidar e, logo logo, Marcelo Verly se tornava líder do governo Câmara...
Oportunista ou estrategista? Eis a questão que vem suscitando discussões entre eleitores e especulações entre detratores de plantão, que não perdem a chance de macular a imagem do bom moço com maldosas alegações de que, no fim das contas, Verly não passa de um vira-casaca.
Mas, alto lá! O filho de dona Carmelita, dona de casa e servente de escola pública, e do pintor de letreiros, seu Filinho Lemos, não veio ao mundo a passeio e sabe como poucos trilhar o próprio caminho. Não esconde a origem humilde, nascido e criado no Bairro Ypu, estudante de escola pública a vida toda e formado em Administração de Empresas pela Universidade Candido Mendes, graças a um crédito educativo do governo federal.
Como a maioria avassaladora dos brasileiros, deu um duro danado para conquistar seu lugar ao sol: foi operário, bancário, auxiliar de compras, até passar num concurso público do Instituto Politécnico do Rio de Janeiro, em 1991 (incorporado pela Uerj em 1993), o que lhe permitiu cursar pós-graduação em Gestão Empresarial pela Ucam e o mestrado em Engenharia de Produção, na área de gestão tecnológica, pela Coppe/UFRJ. Aí tinha início uma grande paixão: em 1993 Verly galgou os primeiros degraus de sua carreira como professor universitário, atuando na Ucam, Unesa e Feso. A vida docente, porém, durou até 2006, quando ele assumiu a presidência do PSDB local e decidiu concentrar esforços neste trabalho.
Foi nos anos 90 que a política ganhou a voz de Marcelo Verly. A presidência do diretório acadêmico da Ucam e, mais tarde, sua atuação à frente de diversos projetos do Instituto Politécnico da Uerj, o conduziram à vida pública. O esvaziamento econômico enfrentado pela cidade na época não foi motivo de desânimo para o jovem candidato, ao contrário: em 2004, 2.238 votos o consagraram vereador. Nada mal para quem estava apenas começando a escrever uma outra página de sua história, que se tornaria, pouco tempo depois, capítulo principal da trajetória empreendida por Verly.
É indubitável que nos últimos anos o Legislativo local ganhou uma nova imagem, seja pela participação mais efetiva dos cidadãos, seja pela presença mais honrada de seus edis. E o fato é que Verly contribuiu para isso, e muito, com sua postura serena, mas firme na proposição de projetos importantes para a cidade: no plenário da Câmara, Verly aposta no desenvolvimento regional, defendendo a ampliação das universidades públicas gratuitas e de qualidade no município, a inclusão social através do esporte e a viabilização de incentivos fiscais para fortalecer e atrair empresas.
No intrincado e instigante jogo político, Verly tem sido peça fundamental de progresso e revitalização. E nada há de incoerente entre seu discurso e prática: acredita firmemente que o que é público tem que ser gerido com seriedade e responsabilidade. Foi exatamente assim que agiu com relação à ex-prefeita Saudade Braga. “No início de 2000 ela me convidou para ir a sua casa, me apresentou seus principais projetos e solicitou meu apoio a sua candidatura e minha participação na coordenação da campanha. Optei por apoiá-la e depois aceitei seus convites para atuar em diversas secretarias, onde realizei trabalhos reconhecidos como excelentes por todos à época. Mas rompemos quando percebi que o seu projeto não era para o efetivo desenvolvimento da cidade, mas sim, de caráter pessoal. Ainda assim, é bom lembrar que votei a favor de praticamente todos os projetos encaminhados por ela ao Legislativo, pois este é o papel de um vereador responsável”, pontua o vereador, que hoje não tem qualquer pretensão ou expectativa com a ex-prefeita. “Cumprimentamo-nos protocolarmente”, resume Verly.
Já com Olney Botelho ele mantém uma cordial e fraterna relação desde 2006, quando o deputado procurou o vereador por considerá-lo uma força política importante em Nova Friburgo. “Estabelecemos projetos em parceria, como a tentativa de participação da Prefeitura de Nova Friburgo no Polo Petroquímico de Itaboraí e a implantação do ensino de empreendedorismo nas escolas municipais, mas ambos não tiveram boa acolhida no extinto governo. A partir daí, iniciamos a construção de uma candidatura alternativa à Prefeitura e o PSDB (cujo diretório local é presidido por Marcelo Verly) apoiou integralmente a candidatura de Olney, cumprindo todos os acordos políticos”, afirma.
Sua reaproximação com Heródoto Bento de Mello, no entanto, contou com alguns imprevistos e intempéries. “Minha família sempre foi herodotista e até 2006 nós tínhamos uma excelente relação, interrompida temporariamente por conta de algumas situações. Eu era, como sou, presidente do PSDB, e Heródoto também queria ser. Foi uma disputa de espaço político, comum a momentos pré-eleitorais. Como não conseguimos chegar a um acordo, ele decidiu sair do PSDB e se filiar ao PSC, e não criamos nenhum tipo de objeção. Na campanha, como é do meu feitio, defendi com unhas e dentes o candidato que eu e meu partido havíamos decidido apoiar, não fiquei em cima do muro, fazendo jogo duplo. Estávamos em guerra eleitoral e, dentro da legalidade, todas as ferramentas são utilizadas pelos candidatos. Posteriormente, Heródoto já eleito, me convidou para um jantar em sua casa, em companhia de sua esposa, Dona Betty, e fui muito bem recebido. Ele reafirmou seus compromissos de campanha, disse não guardar mágoa de ninguém, que queria juntar todo mundo que deseja o melhor para Nova Friburgo e que seria fundamental, em seus planos ambiciosos para a cidade, contar com o apoio de um vereador da minha experiência e competência. Palavras dele, que me surpreendeu com o convite. Após semanas de profunda análise e diversas conversas com meu grupo político, com o próprio Olney, com minha liderança no Rio e também pedindo a sabedoria de Deus, porque sem Ele nada se pode fazer, decidi conceder meu voto de confiança a um homem de 83 anos, que foi consagrado nas urnas, ajudando-o na construção de uma relação respeitosa e produtiva junto ao Legislativo municipal. E acho que estamos no caminho certo”, acredita o vereador.
O fato incontestável é que, a exemplo de Saudade, Olney e Heródoto, nos últimos dez anos os principais líderes políticos de Nova Friburgo têm solicitado o apoio, a dedicação e o trabalho de Marcelo Verly. “Enquanto acreditar nas propostas e ideias, estarei à disposição para ajudar. Coisas menores sempre serão consideradas por mim como coisas menores. Sou simplesmente alguém que quer e vai se tornar cada vez mais útil para a população friburguense”, garante. E é fato: agora mesmo, na Câmara, Verly não titubeou ao se posicionar contrariamente ao aumento da passagem do ônibus urbano, concedido pelo prefeito Heródoto Bento de Mello. Dias depois foi também Marcelo Verly quem defendeu a aprovação do projeto de contratação temporária de profissionais para o setor de saúde, encaminhado pelo Executivo, a fim de sanar algumas drásticas situações desta tão combalida área no município. Seu vigoroso discurso ganhou a unanimidade dos vereadores.
Para quem, como Verly, vislumbra na possibilidade de uma aliança entre o atual prefeito Heródoto e o deputado estadual Olney uma chance mais do que concreta de pactuar em prol de Nova Friburgo, certamente ainda haverá muitas decisões conflitantes pela frente. Mas ele nada tem a temer. Afinal, a política democrática pressupõe um pacto pelo bem comum, e esta é a sua bandeira desde sempre.
Longe de ser um oportunista, Marcelo Verly se revelou um hábil estrategista e (com a devida licença do trocadilho), de tirar o chapéu. Sabe que política é coisa de gente grande, por isso mesmo cresceu no conceito do eleitor atento. Resta aos incautos, crescer e aparecer tanto quanto ele.
Deixe o seu comentário