Morte cerebral lenta dos policiais

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Um suicídio transmitido ao vivo. Mesmo em tempos de internet com todos conectados, cogitar isso poderia ser considerado o cúmulo do absurdo, mas, infelizmente, foi um fato recente que abalou a sociedade. Mais do que traumática, essa tragédia reflete a preocupante condição psicológica de uma categoria profissional que há décadas clama por melhores condições de trabalho, respeito e dignidade para o seu ofício, ao mesmo tempo em que assistem o crescimento do crime organizado.

O soldado Douglas Vieira, que chocou a todos nós ao se matar com um tiro na cabeça, com transmissão pelas redes sociais, não pode ser ignorado. Ele é foi o retrato do alto grau de estresse em que vivem os policiais militares no Rio de Janeiro, perseguidos e assassinados como em nenhum outro lugar do mundo.

Recente levantamento apresentado no Fórum dos Policiais Mortos e Feridos, em duas décadas, o estado do Rio contabilizou mais de 3,2 mil PMs mortos e quase 15 mil feridos, o que corresponde a 19,65% do efetivo disponível no período, cerca de 90 mil homens. Esse índice é maior que as perdas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial.

Somente neste ano, que mal iniciou, o balanço de janeiro foi de quase 20 PMs mortos e outros 42 feridos.  Um aumento de 80% nos casos se comparado com o mesmo período de 2016.

Nesse contexto, fica fácil entender o porquê do estresse e da depressão estarem entre as principais causas de afastamento do serviço nos quartéis de todo o estado. Um mal silencioso que levou a quase 1.400 licenças psiquiátricas concedidas. Dados do Núcleo Central de Psicologia da corporação revelou que somente em 2016 foram mais de 20 mil atendimentos para um universo de 2.296 pacientes, 46% deles da ativa.

Se recentemente a ex-primeira dama Marisa Letícia teve morte cerebral, após um AVC, os policiais, ou melhor, todos os agentes de segurança do Rio, sofrem de um tipo de morte cerebral lenta e cruel, causada pela tensão diária no exercício da profissão e combate à criminalidade.

Todos os problemas envolvidos, como as más condições de trabalho, baixos salários, atrasos nos pagamentos e o confronto com os criminosos levam esses profissionais a sofrerem um tipo peculiar de AVC que neste caso significa “Ataques de Violência Constantes”, seja do poder constituído que falha no suporte à polícia, seja do poder paralelo, cujo objetivo é eliminá-los a qualquer preço.

Marcos Espínola, advogado criminalista

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