Cobras e lagartos

quinta-feira, 09 de fevereiro de 2017

Até o século passado era comum estrangeiros mal informados acreditarem em coisas fantasiosas a respeito do nosso país, tais como a existência de cidades povoadas por indígenas, macacos, cobras e outros animais passeando em plena praia de Copacabana, etc. Tudo isso era fruto, em grande parte, da maldade e da falta de maiores informações sobre nosso desenvolvimento, o que causava muita irritação aos nacionalistas brasileiros... Com o surgimento e democratização de recursos tecnológicos como a internet e o telefone celular, entre outros, os fatos corriqueiros diários se tornaram a matéria-prima para a universalização da profissão repórter, eliminando a fantasia e a mentira na vida social. Tudo se registra e se divulga em tempo real.  Não se pode mais mentir. Ou não?

Com tanta informação circulando, o verdadeiro Brasil está a disposição de todos em tempo real. Certamente por isso, tomamos conhecimento de fatos incríveis, como o narrado a seguir, que acontecem em nossas cidades, o que nos faz retornar ao ponto de origem da discussão... Vinha eu em um coletivo urbano quando ouvi a mulher dizendo que estava indo para o hospital onde dormiria com a sogra, já que o marido tinha dormido lá na noite anterior e a filha, um dia antes. Tudo isso porque uma cobra mordeu a senhora e quando o antídoto foi procurado descobriu-se que não havia o soro indicado no hospital. Mas a coisa é um pouco pior. Acontece que o cunhado dessa mesma informante também foi picado pelo ofídio um dia antes... Também é do conhecimento coletivo que frequentemente são vistos micos, tucanos e jacarés em vários bairros do Rio de Janeiro.

Sendo tudo isso verdadeiro, o que nos preocupa e depõe contra o nosso país não é a existência desses e outros animais em plena zona urbana, mas o estado de calamidade da saúde pública, cujos responsáveis, mesmo conhecendo as necessidades populacionais, não mantêm os estoques necessários ao pronto atendimento.

Por outro lado, considerando o atual status dos animais fico na dúvida: o mais certo seria matar a cobra – como a mulher fez; prender a mulher porque matou a cobra;  ou prender os responsáveis pela saúde por não disponibilizar o soro antiofídico?

Em tal cenário não surpreende que as pessoas vivam preocupadas em matar a cobra e mostrar o pau, porque quando a discussão esquenta é possível que alguém ouça cobras e lagartos, pois esta é uma região de cobras criadas...

Anacleto Vasconcelos

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