“É um enigma para os estudiosos as razões de as mulheres participarem tão pouco da política no Brasil. Temos uma das mais reduzidas taxas de mulheres representadas no legislativo do mundo”
Segundo sua editora, a Zahar, a obra é resultado de parte de pesquisas do escritor sobre o sistema representativo brasileiro que ele vem realizando há 20 anos, na análise das instituições eleitorais e dos partidos no Brasil. Ter cidadãos conscientes e uma política mais responsável é uma de suas finalidades.
Trecho da obra: “A tarde e a noite de domingo do dia 17 de abril de 2016 foram diferentes para os brasileiros. Em vez da transmissão dos jogos dos campeonatos estaduais de futebol, dos programas de auditório e jornalísticos, o país parou para assistir na TV a uma das mais dramáticas decisões que a Câmara dos Deputados tomaria em seus quase duzentos anos de história: acolher ou não o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff”.
Conhecer seus representantes na Câmara, a importância do voto, da prática da democracia, do exercício da cidadania, do papel de cada um de nós na formação do estado brasileiro: esse é o tema da entrevista exclusiva que o cientista político Jairo César Marconi Nicolau, nascido e criado em Nova Friburgo, concedeu ao jornal A VOZ DA SERRA.
Somos uma democracia relativamente jovem - somando todos os períodos, talvez 50 anos? - com apenas 30 anos ininterruptos neste regime, nas últimas décadas. Como você avalia a nossa participação na escolha de nossos representantes?
Na realidade, se tomarmos o ano de 1945 como marco - quando a maior parte das democracias se estabeleceram no mundo - vivemos 50 anos em regime democrático e 21 em regime autoritário. A balança pende para o lado democrático. O que mais preocupa no Brasil é o descaso dos eleitores com as eleições para o legislativo. Nas eleições do ano passado, nas maiores cidades, cerca de 1/5 dos eleitores deixaram o voto em branco ou anularam para vereador.
Se o voto não fosse obrigatório, que cenário teríamos? Seríamos mais indiferentes ou, talvez, mais interessados em conhecer melhor os candidatos, como é e o que significa fazer política?
As pesquisas mostram que os eleitores de baixa renda e escolaridade seriam os que mais deixariam de votar, caso o voto fosse facultativo. Eu fico preocupado com esta hipótese. Primeiro com a possibilidade de um novo tipo de corrupção eleitoral: pagar para tirar o eleitor de casa no dia da eleição. Uma segunda preocupação é que podemos criar um sistema político mais elitista, excluindo os pobres, que são os que mais precisam das políticas estatais no Brasil.
A pífia presença feminina no legislativo, em todas as suas esferas, demonstra que mulher não vota em mulher. Em entrevista com a ex-vereadora, ex-secretária municipal de Educação e professora friburguense Ledir Porto, ela disse: “Uma parcela do eleitorado feminino [no Brasil] é formada por mulheres dedicadas ao lar. Ela não trabalha fora, está restrita à vida doméstica e sente dificuldade de entender outro tipo de mulher, a que é independente e compete com o homem, profissionalmente. Mulher submissa desconfia daquela que é diferente. E não raro, torce contra”. O que acha disso?
Minha querida professora Ledir, no meu tempo de Colégio Anchieta, participou ativamente da política friburguense e sabe dos preconceitos que as mulheres ainda sofrem no meio. É um enigma para os estudiosos as razões de as mulheres participarem tão pouco da política no Brasil. Temos uma das mais reduzidas taxas de mulheres representadas no legislativo do mundo. Obviamente, o patriarcalismo explica uma parte, mas as mulheres conquistaram tanto espaço na universidade, no mundo do trabalho, na definição de novos direitos…
Como interpreta o fato do brasileiro ter passado 10 horas assistindo pela TV à sessão de acolhimento do pedido de impeachment de Dilma Rousseff? O que atraiu tamanha audiência para tema tão espinhoso, em pleno domingo?
Todos os parlamentares foram eleitos com milhares de votos dessa mesma multidão que parou diante da televisão naquele dia - 17 de abril de 2016 - data, aliás, que vai entrar para a história. O país teve a chance de observar e avaliar, com calma, cada um dos 513 deputados expressar seu voto, o que afinal, deixou muitos eleitores indignados com a qualidade dos deputados. Mas, é bom reiterar, todos os deputados foram legitimamente eleitos.
Ainda assim, a maioria do eleitorado se envergonha do Congresso Nacional, mesmo conscientes de que fomos nós que os colocamos lá. Queiramos ou não, eles nos representam, mesmo a contragosto. Como explica essa contradição?
“A palavra ‘Deus’ estava em 48 discursos e a palavra ‘filho’ foi mencionada por 60 deputados”
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