Esperar com fé

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Escrever uma crônica de fim de ano e fazer emocionar os leitores é o que há de mais clichê nessa época. Ah, e preferencialmente já desejando que o novo ano seja repleto de coisas boas. Desde que me entendo por gente, economizamos verbos e sentimentos numa só frase: Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.

Somos todos – que utilizamos as redes sociais #quemnunca – felizes o ano inteiro, realizados e bonzinhos. Uníssonos nos sofrimentos da humanidade e tocados por fotos de cães abandonados, policiais mortos em trabalho e crianças com deficiências ou necessitadas de alguma grana para uma cirurgia ou tratamento delicado.  Sofremos, ou pelo menos interpretamos o calvário, coletivamente. Mas ainda assim jogamos pedras. Dedo em riste no diário julgamento que adoramos fazer.

O ano de 2016 ganhou a comoção geral. Eleito que foi um ano difícil. E isso assusta na medida em que se digladiam os homens em função do tamanho de cada infortúnio. Um quer que seu sofrimento seja maior que a desgraça alheia. Como uma epidemia, seja de alegria ou de tristeza, de bondade ou maldade, de verdades ou mentiras, os assuntos e notícias viralizam nas redes numa velocidade desmedida.

Da euforia ao padecimento é o espaço de uma postagem. É questão de virar a página. Isso quando não ocorre sincrônico. O ser humano é mesmo muito talentoso! Capaz de rir e chorar em frações de segundos. De fazer rir e chorar. De convencer rindo e chorando. E é por isso que já não cabem mensagens de Natal com frases prontas, porque é tão inverossímil quanto ser cidadão nesse mundo virtual. Tão frívolo. Tão inútil.

Então, nesse Natal, eu não vou enviar mensagens que toquem o coração. Isso é apenas efeméride. Eu vou fazer um apelo às pessoas que se comoveram coletivamente com o avião que caiu, com a presidente que tombou, com a árvore que foi cortada, com a mensagem linda de autor errado, com a PEC que não foi inaugurada e as PECS que nos foram impostas, com a morte que precede a aposentadoria de múmias.

Vamos jogar pedras de esperança nos rios, lagos e poças d’água, para que se multipliquem em anéis.  E, assim, que o sentimento de esperar com fé nos contagie a todos.  Viralize. Ganhe as redes. Porque é do bem que precisamos. Um bem coletivo chamado esperança, que mude as nossas vidas em 2017, que nos melhore para que o mundo nos responda com dias de paz!  De verdade!

TAGS:

David Massena

David Massena

David estreou nas colunas sociais ainda na década de 70. É jornalista, cerimonialista, bacharel em Direito, escritor e roteirista. Já foi ator, bailarino, e tantas coisas mais, que se tornou um atento observador e, às vezes, crítico das coisas do mundo.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.