Uma faixa preta foi estendida na entrada do Centro Integrado de Educação Pública Glauber Rocha em protesto contra a decisão do governo estadual de desativar o ensino médio na unidade e terminar com o horário integral no ciep do Jardim Ouro Preto, distrito de Conselheiro Paulino. Estudantes ocuparam a unidade, na última terça-feira, 22, e criticaram a falta de diálogo com a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc). O ciep será municipalizado a partir do próximo ano letivo. Por causa da ocupação, as aulas foram suspensas pela direção.
“Em nenhum momento os representantes da Regional Serrana II da Seeduc vieram discutir o assunto com a gente”, reclama Maria Eduarda Borborema, aluna do 2º ano do ensino médio e representante do movimento de ocupação. “Eles chegaram aqui e simplesmente comunicaram a decisão de municipalizar o colégio. Nós, alunos do ensino médio, seríamos transferidos para o Colégio Estadual Vicente de Moraes (próximo ao Ciep)”, contou a estudante.
O governo estadual quer transferir a gestão de todas as turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental para os municípios, e quer ficar somente com o ensino médio. Para que isso ocorra, várias escolas do estado terão que ser municipalizadas, mas, assim como o governo, as prefeituras enfrentam grave crise. Em agosto, representantes da Seeduc procuraram o secretário municipal de Educação, Renato Satyro, para propor a municipalização do Glauber Rocha e de outras escolas em Nova Friburgo.
“Eu expliquei que o município não tinha condições de assumir novas unidades, mas como existe a necessidade de fazer uma grande obra no telhado do Colégio Municipal Rui Barbosa, próximo do Ciep Glauber Rocha, e cuja licitação está em andamento, nós formalizamos o interesse em assumir o ciep. A municipalização foi formalizada e a partir de janeiro, o Glauber Rocha será gerido pela prefeitura pelo período de dez anos”, explicou Satyro.
Ainda segundo o secretário de Educação, os cerca de 650 alunos e os servidores do Colégio Rui Barbosa serão transferidos para o ciep. Não haverá custos para o município. Os 63 estudantes do ensino fundamental que já estudam no Glauber Rocha permanecerão na unidade, mas os alunos do ensino médio serão transferidos.
O movimento de ocupação é a favor da municipalização, porque os alunos entendem a situação do Rui Barbosa, mas são contrários ao fim do ensino médio e do horário integral no ciep.
“Eu estudo no Glauber Rocha há seis anos. Os cieps estão desmoralizados por culpa do estado. Tem gente que tem preconceito com o ciep. Quando eu entrei aqui em 2010, tinha médico, dentista, mas com o tempo, o governo foi tirando tudo. Agora, se perguntarmos para qualquer pessoa que passar na rua, ela vai dizer que o Glauber Rocha é escola de ‘bichos’, ‘arruaceiros’, ‘vândalos’. A gente briga, sim, pelos nossos direitos”, disse Maria Eduarda.
Ela, e os estudantes do ensino médio Elaine de Oliveira e Denilson Diniz encabeçam o movimento de ocupação. No fim da manhã desta quarta-feira, 23, um grupo de estudantes almoçou no refeitório do ciep. A refeição era arroz, macarrão e batatas e foi feita por uma “tia” que apoia o movimento. Os alimentos foram doados por pais e comprados pelos próprios alunos. A despensa do ciep estava praticamente vazia.
Os alunos foram divididos em grupos e estão se revezando na portaria da escola, onde o visitante assina uma lista e recebe um crachá, na limpeza do ciep, ajudando a servir as refeições e em outras áreas designadas pelo movimento de ocupação. Alguns alunos levaram colchões e estão dormindo na escola com a autorização dos pais. Outros só podem ficar lá durante o dia.
O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) apoia os alunos e tem acompanhado a ocupação no Ciep Glauber Rocha. O professor Angelo Cesar Jachelli, um dos diretores do sindicato em Nova Friburgo, também critica a decisão unilateral do governo de acabar com o ensino médio sem diálogo com a comunidade acadêmica.
“A ideia de municipalizar o Glauber Rocha é antiga. O ciep é grande, tem estrutura para receber os alunos do Rui Barbosa, assim como recebeu os estudantes do Colégio Estadual Etelvina Schottz, no Córrego Dantas, que foi afetado pela tragédia de 2011. Mas a Seeduc quer impor as mudanças sem debater, sem ouvir os alunos e professores. O governo quer cortar turnos em escolas, em momento de crise, quando alunos de particulares estão migrando para a rede pública. Não podemos permitir economia em educação”, disse Jachelli.
Mobilização no Colégio Estadual Padre Franca
No outro lado da cidade, alunos do Colégio Estadual Padre Franca estão se mobilizando também contra o fim do turno da tarde na unidade localizada no distrito de Mury. A escola oferece o ensino fundamental e médio. Na última semana, eles debateram o assunto com o vereador Zezinho do Caminhão e o deputado estadual Wanderson Nogueira, ambos do Psol. No Facebook, eles criaram a página S.O.S Padre Franca para divulgar as ações do movimento.
O presidente da comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado estadual Comte Bittencourt (PPS) está acompanhado as mudanças nas escolas estaduais e reclama da falta de transparência na Seeduc.
“Na próxima quarta-feira, 30, vamos receber na comissão o secretário estadual de Educação, Wagner Victer, para que ele explique os critérios que estão sendo adotados para a municipalização das escolas estaduais e o fim de turnos, porque é preciso analisar, entre outros fatores, a distância de uma escola para outra, de modo que o aluno não seja prejudicado com as mudanças. Temos acompanhado o situação, mas a Seeduc não tem informado com clareza o que vai acontecer no próximo período letivo”, disse o parlamentar.
Em nota, a Seeduc não comentou a falta de diálogo com os alunos, mas informou que a absorção progressiva do ensino fundamental pelo município é uma atribuição prevista na Lei de Diretrizes Básicas da Educação. A atribuição do estado é o ensino médio. A pasta reafirmou que fará as transferências noticiadas na reportagem no próximo ano.
“É importante destacar que o objetivo é otimizar estruturas como anualmente é feito nesta época de matrícula. O processo é feito por equipes técnicas da Seeduc, inclusive com o objetivo de melhorar as atividades pedagógicas”, diz o texto.
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