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Impressões — 19/11/2016
Fábula
Pobreza – divindade alegórica, filha do Luxo e da Ociosidade oiu Preguiça. Alguns dizem que era mãe da Indústria e das Belas Artes. Representa-se com um ar pálido e mal vestida, e algumas vezes também semelhante a uma Fúria esfaimada, feroz e pronta a se desesperar. (Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – Ed. Garnier – Paris)
Linha do Tempo
"Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra".
Haile Selassie
"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar."
Nelson Mandela
500 anos de vitimização
Apesar de 20 anos de iniciativas para reduzir a disparidade vivida pelos negros na sociedade brasileira, a Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que o país “fracassou” em mudar a realidade de discriminação e da pobreza que afeta essa parcela da população. Num raio-X da situação da população afro-brasileira, apresentado no Conselho de Direitos Humanos, em março passado, a ONU aponta que houve “um fracasso em lidar com a discriminação enraizada, exclusão e pobreza enfrentadas por essas comunidades” e denuncia a “criminalização” da população negra no Brasil.
O documento foi preparado pela relatora sobre Direito de Minorias da ONU, Rita Izak, que participou de uma missão no Brasil em setembro do ano passado. Suas conclusões indicam que o mito da democracia racial continua sendo um obstáculo para se reconhecer o problema do racismo no Brasil. “Esse mito contribuiu para o falso argumento de que a marginalização dos afro-brasileiros se dá por conta de classe social e da riqueza, e não por fatores raciais e discriminação institucional”, constatou a relatora.
Tristes estatísticas (segundo a ONU)
Das 16,2 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza no país, 70,8% deles são afro-brasileiros. Segundo o levantamento, os salários médios dos negros no Brasil são 2,4 vezes mais baixos que o dos brancos e 80% dos analfabetos brasileiros são negros.
Os afro-brasileiros continuam no ponto mais baixo da escala socioeconômica do Brasil. “64% deles não completam a educação básica”.
“Para a juventude, o acesso limitado à educação de qualidade, a falta de espaços comunitários, altas taxas de abandono da escola e crime significam que tem poucas ambições ou perspectivas de vida.”
As cotas em diversas instituições, ainda que tenham sido elogiadas pela ONU, não foram suficientes ainda para ter um impacto maior. O sistema não existe no Legislativo, no Poder Judiciário e também de não ser aplicável para postos de confiança.
No Judiciário, apenas 15,7% dos juízes são negros e não existe nenhum atualmente no Supremo Tribunal Federal. “ Na Bahia, onde 76,3% da população se identifica como afro-brasileira, apenas 9 dos 470 procuradores do Estado são afro-brasileiros”, indicou. No Congresso, apenas 8,5% dos deputados são negros.
Dos 56 mil homicídios no Brasil por ano, 30 mil envolveram pessoas de 15 a 29 anos. Desses, 77% eram garotos negros.
Os números de afro-brasileiros que morreram como resultados de operações policiais em São Paulo são três vezes superiores do que é registrado com a população branca. No Rio de Janeiro, 80% das vítimas de homicídios resultante de intervenções policiais são negros. “Movimentos sociais já chamam a situação de genocídio da juventude negra”, apontou a relatora.
A impunidade também contribui para esse clima de violência. De 220 casos de homicídios cometidos pela polícia e investigados em 2011, apenas um deles foi condenado.
“Estima-se que 75% da população carcerária no Brasil seja de afro-brasileiros. Estudos ainda mostram que, se condenados, afro-brasileiros são desproporcionalmente sujeitos à prisão.”
Os negros têm ainda mais chances de serem parados pela polícia e aqueles que são pegos com drogas, maiores chances de serem denunciados por tráfico. “Desde 2005, quando as novas leis de combate às drogas entraram em vigor, o número de pessoas presas por questões relacionadas às drogas aumentou em 344%”.
As mulheres negras brasileiras também têm sua situação minada pela cor, o que “exacerba sua marginalização”. Em 2013, 66% a mais de mulheres afro-brasileiras foram mortas, na comparação às mulheres brancas.
Foi lançado em agosto passado o Mapa da Violência 2016 – produzido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) - com foco na questão da violência por armas de fogo e suas variáveis. De acordo com o Mapa, vem aumentando a violência contra a população negra no país. A taxa de homicídios de negros aumentou 9,9% entre 2003 e 2014, passando de 24,9% para 27,4%. Pela pesquisa, a vitimização negra do país, que em 2003 era de 71,7%, mais que duplicou: em 2014 alcançou 158,9%, o que significa que morrem 2,6 vezes mais negros que brancos vitimados por arma de fogo.
Famosos que sofreram preconceito racial
Taís Araujo – atriz
Maria Julia Coutinho (Maju) – jornalista
Nego do Borel – funkeiro
Ludmilla – funkeira
Vinicius Romão –ator
Thiaguinho – cantor
Seu Jorge – cantor
Preta Gil – cantora
Gloria Maria – jornalista
Negros notáveis da história moderna
Edson Arantes do Nascimento – Pelé
Maior feito: Reconhecido como o atleta do século XX.
Charles Drew
Maior feito: Criador dos bancos de sangue de larga escala
Michael Jackson
Maior feito: Reconhecido como o maior ícone negro de todos os tempos, abriu espaço para os negros na mídia americana e mundial.
Ray Charles
Maior feito: Reconhecido como o 2º maior cantor de todos os tempos, negou-se a cantar em estabelecimentos segregados.
Joaquim Barbosa
Maior feito: Primeiro negro a presidir o Supremo Tribunal Federal (STF).
Machado de Assis
Maior feito: Fundador da Academia Brasileira de Letras.
Barack Obama
Maior feito: Primeiro presidente negro dos EUA.
Martin Luther King Jr.
Maior feito: Foi o maior defensor dos direitos dos negros dos EUA e um dos maiores do mundo.
Nelson Mandela
Maior feito: reconhecidamente o maior líder negro da história moderna libertando seu povo de um regime racista.
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