O crescente número de moradores de rua é um fato alarmante e que necessita de maior atenção dos governantes no país. Em Nova Friburgo, o problema já foi relatado por A VOZ DA SERRA diversas vezes às autoridades, mas a rotatividade de pedintes e sem-teto nos espaços públicos da cidade continua. Pontos movimentados como as praças Getúlio Vargas e Dermeval Barbosa Moreira, a Rua Sete de Setembro e a Avenida Alberto Braune acumulam histórias de vida e exemplos de descaso social. Mas, se de um lado falta atenção das autoridades, por outro, só recebe ajuda aquele que quer.
Na manhã desta quinta-feira, 17, por exemplo, uma equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social de Nova Friburgo (Creas) realizou uma operação para o resgate de um morador de rua. A abordagem aconteceu na Avenida Ariosto Bento de Mello e demorou mais de uma hora até que o morador de rua fosse convencido a seguir para um abrigo na cidade.
A ação foi realizada por um grupo de cinco profissionais: o psicólogo Paulo Langer; a coordenadora do Creas, Ana Paula Cavalcanti; o motorista, Paulo Modéstio; e Elias Caputo e Tony Donitino, responsáveis pela abordagem. “Nós realizamos esse tipo de trabalho diariamente. Já oferecemos ajuda a ele e a outros moradores de rua várias vezes, mas muitos, como é o caso deste, não aceitam ir para um abrigo. Não podemos tirar a pessoa da rua sem que ela queira”, explicou Ana Paula, antes do homem, finalmente, aceitar o auxílio.
Já integrante das áreas urbanas friburguenses, o morador de rua — conhecido pelo seu inseparável carrinho de supermercado — alternava a sua estadia em pontos como a Avenida Comte Bittencourt, no Centro, e a Avenida Governador Roberto Silveira, no distrito de Conselheiro Paulino. Mas, há cerca de uma semana, se instalou em frente ao Senai, na Rua Prefeito Eugênio Müller. Além do forte mau cheiro e o carrinho com bebidas, restos de comida e objetos velhos, o homem chamava atenção pelo estado de saúde, diversos curativos e muitas feridas nas pernas .
“Ele tem úlcera em estado avançado, catarata nas duas vistas e suspeita de câncer na laringe. Isso sem mencionar o diagnóstico de demência alcoólica, que o faz ter várias alucinações”, disse o psicólogo Paulo Langer.
Ainda conforme Langer, o Creas conseguiu uma autorização judicial para a internação do morador de rua. “Agora ele vai ser levado para o Lar Abrigo Amor a Jesus (Laje), onde vai tomar banho, trocar de roupa, cortar o cabelo, fazer a barba e comer. Depois vai ser encaminhado para o Hospital Municipal Raul Sertã, onde receberá os primeiros tratamentos e, por último, será internado na Clínica Santa Lúcia, para fazer a desintoxicação”, disse.
Aos 45 anos de idade, sem família em Nova Friburgo e há mais de dez anos vivendo nas ruas, o homem carrega na identidade a foto de uma mulher — supostamente sua esposa —, afirma ter cinco filhos e cinco netos, mas não sabe dizer seus nomes, onde moram e como ele veio parar nas ruas. Calmo e bem-humorado, ele foi receptivo com toda a equipe do Creas. Mas para seguir para o abrigo e fazer o tratamento no hospital estabeleceu uma condição: levar junto a “sua casa”, isto é, o velho carrinho de supermercado, cheio de bagunças, velharias e as poucas memórias.
O Creas
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) é uma instituição municipal que oferece serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos como violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, etc.
Em Nova Friburgo, a instituição fica na Rua Augusto Spinelli, 160, Centro e o telefone para contato é (22) 2522-5278.
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