A crise na saúde reflete em cheio na população que busca por atendimento nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país e em Nova Friburgo a situação não é diferente. A diarista M., mãe de duas meninas, vive um drama. Há cerca de 15 dias, enquanto trabalhava, ela caiu de uma escada e quebrou o pé direito. Levada para o Hospital Municipal Raul Sertã, recebeu os primeiros socorros; fez um raio-X e confirmou a fratura. Ainda no hospital, foi engessada e recebeu a prescrição de um remédio para aliviar a dor que teria que comprar em uma farmácia e se medicar durante cinco dias.
De acordo com M., ainda no ambulatório, anexo ao hospital, ela foi orientada por uma funcionária da recepção a buscar atendimento para o acompanhamento da fratura, no posto de saúde Waldir Costa, em Conselheiro Paulino, distrito onde mora. “No posto, me explicaram que eu ficarei na fila de espera por atendimento, que há 400 pessoas na minha frente e que a consulta ainda não tem data pra acontecer. Pode ser daqui dois ou seis meses”, contou ela.
Passadas duas semanas, M. foi até uma clínica credenciada ao SUS, no Centro, para fazer o acompanhamento da fratura e receber orientações sobre o tempo que deveria permanecer com a imobilização, além dos medicamentos que precisaria tomar. No entanto, ela foi informada de que os dois médicos ortopedistas que atendem na clínica estariam de férias.
A saga
Na manhã da última segunda-feira, 7, M. procurou então A VOZ DA SERRA, que a acompanhou na saga em busca de atendimento no hospital e outros serviços públicos de saúde da cidade. “Eu preciso saber como está o meu pé. Não sei se a fratura melhorou. Não estou tomando nenhum remédio e ainda sinto dores na perna. Preciso de um médico que me diga o que devo fazer, não posso ficar com esse gesso ou simplesmente tirá-lo em casa e correr o risco de piorar a situação”, exclamou.
Raul Sertã
O primeiro local procurado foi o Hospital Municipal Raul Sertã. Ao chegar à recepção, M. explicou que há 15 dias havia engessado o pé e que, além de estar sentindo dores na perna, não havia passado por acompanhamento médico desde então. Em resposta, a recepcionista informou que o ortopedista de plantão somente realiza atendimentos emergenciais. Sem nos identificarmos como jornalistas, questionamos sobre o local onde deveríamos buscar por ajuda e ela sugeriu a mesma clínica que já havia sido procurada ou o posto mais próximo a residência da paciente.
UPA
Seguimos para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), em Conselheiro Paulino, e não ficamos surpresos com o que ouvimos. “Não temos ortopedista”, disse a funcionária, que quando indagada sobre onde poderíamos resolver o problema, surpreendentemente afirmou: “Esse tipo de atendimento é feito no Raul Sertã. Se não te atenderam lá, procure por um posto de saúde, mas acho difícil que consiga”.
Posto Waldir Costa
Situado no centro de um dos distritos mais populosos, Conselheiro Paulino, o posto Dr. Waldir Costa é uma das poucas opções para quem mora no local e busca por consultas de rotina, acompanhamentos médicos, receitas e vacinas.
Chegamos ao local em torno das 11h e nos deparamos com uma fila de mais de 100 pessoas, a maioria idosos. Helena Machado de Oliveira, 81 anos, era uma das que aguardavam para a marcação de consulta. “Minha mãe caiu e se machucou. Cuidei dela em casa mesmo. Agora, como ela não é enquadrada em atendimento de emergência, viemos ao posto para tentar marcar um clínico geral, para sabermos o estado de saúde dela”, disse a filha, Maria Regina Machado de Oliveira, assustada com a fila. “Somos o número 131. Não sei se ela vai aguentar ficar aqui esperando”, disse.
Augusta Maria Aparecida, 65 anos, moradora do Jardim Califórnia, também estava no posto. “Estou aqui desde cedo, quero marcar um clínico geral. Sou a 119ª da fila. Tem muita gente na minha frente e olha que muitas outras já desistiram e foram embora”, contou.
Enquanto isso, na recepção do posto, um funcionário informou que não havia médico ortopedista e que M. deveria aguardar pelo atendimento, enfatizando, mais uma vez, que o mesmo poderia demorar meses.
Centro de Saúde Sylvio Henrique Braune
Já no Centro de Saúde Sylvio Henrique Braune, no Centro, M. foi informada que deveria voltar amanhã, quinta-feira, 10, para marcar a consulta com um ortopedista pelo sistema de regulação (Sisreg). Assim como nos outros postos de saúde, ela ficará em uma fila de espera, sem previsão para atendimento.
Posto Tunney Kassuga
Depois de um longo dia de peregrinação, M.seguiu até o posto Tunney Kassuga, na Rua Vicente Sobrinho, em Olaria, em uma última tentativa pelo atendimento. “É um absurdo. Filas e mais filas. Imagine quantas pessoas não estão na mesma situação que eu, com problemas de saúde e sem conseguir uma consulta”, disse ela à reportagem após receber a notícia de que também teria que ficar aguardando por uma vaga. “A moça me explicou que muitas pessoas que vieram marcar em setembro ainda não foram atendidas. Eu, então, que estou vindo em novembro, provavelmente só serei atendida no ano que vem”.
O que diz a Prefeitura
Para saber o motivo da dificuldade no atendimento ortopédico na cidade, bem como a demora para a marcação de consultas, A VOZ DA SERRA procurou a Subsecretaria de Comunicação Social da prefeitura. Embora a paciente tenha sido orientada no próprio ambulatório do hospital a buscar atendimento no posto de saúde mais próximo a sua residência (o Waldir Costa, em Conselheiro, no caso), em nota, a Secom informou que: “O atendimento ortopédico no Raul Sertã está acontecendo normalmente, sendo que dois ortopedistas estão de plantão diariamente no CTU. Não há ortopedistas nos postos de saúde, pois esses profissionais atendem no ambulatório do Raul Sertã (prédio anexo). É importante ressaltar que o paciente deve realizar o procedimento de marcação de consultas no ambulatório e aguardar a fila de espera. Já os atendimentos na Central de Urgência são feitos de acordo com a ordem de chegada do paciente”.
A reportagem questionou ainda a razão para as filas de espera nos postos de saúde estarem tão extensas, se faltam médicos nos postos e no Raul Sertã e se há alguma medida que pode ser tomada pela Secretaria de Saúde para agilizar os atendimentos. A pasta, entretanto, não se manifestou.
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