Compondo as formas do mundo

Conheça o trabalho do ilustrador e designer friburguense Guilherme Marconi
sábado, 05 de novembro de 2016
por Ana Blue
Compondo as formas do mundo

Designer, ilustrador e programador, a marca de seu trabalho pode ser vista em muitos lugares — na cartela de clientes, tem de Havaianas a Mazda, passando por Nike e Coca-Cola. Outros nomes? Nokia, Microsoft, Itaú, Puma, Caixa Econômica e Absolute Vodka. Representado por três agências, em três países diferentes — Agência Norte, no Brasil; Shannon Associates, nos Estados Unidos; e ArtBox, na Holanda, — Guilherme Marconi cria, desde 2004, padrões incrivelmente detalhados para design comercial em todo o mundo. E a melhor parte: sem nem sair de casa, no centro de  Friburgo.

Friburguense, 34 anos, casado com a psicóloga Mayara Noguchi e pai do Daniel, Marconi sempre desenhou. Aos 18 anos, quando a internet ainda não era essa potência ao alcance de todo mundo, ele já sabia que poderia criar e enviar seus trabalhos de qualquer para qualquer lugar. E assim fez, apesar das disposições contrárias — “Enviar trabalho pela internet? Tá maluco! Isso não funciona!” — criando nesta época suas primeiras ilustrações e procurando agentes. Seu primeiro representante foi a agência Flair, que naquele momento tinha sede no Brasil, em São Paulo, e na França. A princípio, Guilherme começou fazendo editoriais. “Três anos depois fiz a minha primeira campanha internacional, para a Nokia América Latina”, lembra.

O ilustrador e o designer
“De que adianta ser lindo e não ser funcional?”, responde Guilherme quando perguntado sobre a diferença entre criar um design e ilustrar uma campanha ou um produto. “O design sempre alia forma e função. Cada aspecto do design é pensado de forma funcional; um porquê, um pra quê. A ilustração é um trabalho artístico. Você escolhe as cores simplesmente pela combinação delas, pelo aspecto visual, pelo o que fica mais agradável aos olhos. Já o design, além disso, é uma forma de comunicação, cada elemento tem uma razão de ser, cada cor é usada por um motivo. Minha esposa, que é psicóloga, me ajuda bastante nessa parte, na escolha das cores, por exemplo, já que cada uma é atrelada a um tipo de sensação ou sentimento. Resumindo, criar o design para a Havaianas, por exemplo, é bem mais difícil que compor uma peça de anúncio, porque é preciso atender um certo padrão”.

Trabalhar em casa
“Poder gerenciar o seu tempo é um diferencial e tanto na vida”, diz Marconi. Da sala de casa, seu trabalho ganhou o mundo, ao ponto de hoje o designer ser procurado exatamente pelo padrão que criou. “Mas eu preciso novamente destacar que, para isso, eu procurei agências que me representassem e negociassem prazos, valores e o que mais tivessem que negociar com os clientes, daqui e de fora do Brasil. Não sou bom com isso, posso acabar pegando um trabalho por duas mariolas e um tapinha nas costas”, brinca.

Trabalhar na agência
Sobre o mercado de trabalho formal de designers e ilustradores, onde [mais de] 40 horas de vida semanais são passadas dentro das agências de publicidade e não ganham salários compatíveis, Guilherme é enfático: “Pra mim, esse modelo não funciona. Não é uma realidade só em Friburgo, acontece no Brasil todo, e até mesmo nas capitais: a regra geral é maximizar os lucros e reduzir os gastos, ou seja, cobra-se um valor alto pela prestação do serviço, mas paga-se mal ao profissional — que, além disso, ainda trabalha preso, muitas vezes tendo que seguir os métodos do empregador, sem poder criar seu próprio método de trabalho, seu horário, seu tempo”.

Novos projetos
“No momento, estou trabalhando no projeto Alfabeto do Samba, projeto de arte colaborativo que vai homenagear os 100 anos de samba no Brasil. Vou ilustrar o Monarco. Benito di Paula está lá na lista!”, comenta, sorrindo, lembrando o músico que também é friburguense. “Com o coletivo que eu faço parte, ilustramos para o mesmo projeto a Clara Nunes”.

Cincoletivo
Há três meses, Guilherme juntou-se a outros quatro designers — Renato Matos, Douglas Escamilha, João Lima e Henrique Celso — e criou o Cincoletivo, um coletivo de arte para atuar no mercado gráfico. “São jovens com muito potencial, criatividade imensa, iniciando na profissão e com todo um caminho que vejo pela frente, com garra, determinação. Nesse meio, é melhor juntar as forças mesmo”, diz Guilherme, que, ao contrário dos colegas de grupo, não se formou na faculdade, tendo se especializado em cursos específicos da área. “Estudar, eu estudei. Bastante. Ok, talvez não muito”, brinca ele, sentado na cadeira do jornal em frente a alguns de seus muitos trabalhos, impressos, espalhados sobre a mesa.

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