A mobilização de moradores e ambientalistas contrários à construção de hidrelétricas no Rio Macaé vai continuar mesmo depois que a Alupar Investimentos S.A. informou nesta semana que decidiu suspender o empreendimento. A intenção é manter a união de esforços para evitar que projetos semelhantes voltem a colocar em risco a fauna e a flora ao redor do rio e as atividades turísticas e de lazer praticadas no distrito de Lumiar.
“Um dos objetivos do movimento é combater a sensação de ‘já ganhou’ que vem se alastrando entre participantes do movimento, desde que começou a circular a notícia de que a empresa interessada na instalação das hidrelétricas desistiu de dois dos três pontos para instalação das centrais hidrelétricas que havia registrado na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”, informou a coordenação de comunicação do “Movimento em Defesa do Rio Macaé Livre”.
Além da última quinta-feira, 20, quando ocorreu uma reunião na Câmara Municipal para discutir o assunto, neste sábado, 22, integrantes do grupo realizarão um sarau com objetivo de conscientizar moradores e visitantes sobre intervenções que prejudiquem o rio. O evento acontecerá a partir das 16h na Praça Levy Ayres Brust, em Lumiar, com exposição de fotos, contação de histórias, poesia, dança e música.
A Alupar informou que não dará mais continuidade no projeto de construção de três Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), no rio que margeia a RJ-142, na última quarta-feira, 19. A empresa disse que comunicou a decisão à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mas não esclareceu o motivo, apenas disse que “mudou as prioridades de investimentos”.
Ao que tudo indica, a mobilização de moradores e ambientalistas e o posicionamento contrário da direção do Comitê de Bacia Hidrográfica dos rios Macaé e das Ostras (CBH Macaé) e da Prefeitura de Nova Friburgo pesaram na desistência.
“A decisão da empresa de não construir hidrelétricas no Rio Macaé é de grande importância para o nosso município, pois a localidade é área de preservação com grande interesse ambiental e turístico. Uma intervenção desse porte afetaria uma área de proteção muito delicada”, comemorou, nesta quarta-feira, 20, o secretário de Meio Ambiente de Nova Friburgo, Alexandre Sanglard.
Três hidrelétricas
Em consórcio com a W. Energy Participações S.A. e Ipar Participações Ltda, a Alupar estava, desde 2008, interessada na construção das hidrelétricas que, juntas, seriam capazes de gerar pouco mais de 60 megawatts de energia por hora (MW/h). A PCH Rio Bonito funcionaria em um ponto um pouco acima do encontro dos rios Bonito e Macaé, no distrito de Lumiar. A PCH Casimiro de Abreu seria instalada abaixo da Cachoeira da Fumaça, enquanto a PCH Macaé produziria energia mais abaixo do encontro dos rios Macaé e Sana, ambas localizadas nos limites de Nova Friburgo e Casimiro de Abreu.
Em 2015, a Aneel havia aprovado o inventário do Rio Macaé, realizado pelo consórcio, para identificar os locais com potencial hidrelétrico. Após isso, as empresas obtiveram autorização do órgão para elaborar o projeto básico das três PCHs, mas, o órgão revogou, em outubro deste ano, a permissão para as PCHs Casimiro de Abreu e Bonito, a pedido do consórcio. Contudo, ainda está em vigor na Aneel a outorga para o desenvolvimento do projeto básico da PCH Macaé.
Assim como moradores e ambientalistas, o chefe da Área de Proteção Ambiental (APA) de Macaé de Cima, Sérgio Poyares, também acredita que apesar da decisão de a Alupar ter cancelado o empreendimento outros empreendedores podem voltar a investir no projeto já que os três trechos do rio continuam inventariados na Aneel.
“Como nunca houve um processo de licenciamento no Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para a construção das hidrelétricas, a direção da APA de Macaé de Cima sempre se manteve neutra, mantendo uma postura técnica, afinal, sem projeto básico não tínhamos sobre o que opinar. Apesar disso, criamos um grupo de trabalho para discutir o assunto. A decisão da empresa de abandonar o empreendimento no rio nos poupa certos desgastes, mas é possível que projetos semelhantes reapareçam”, disse Poyares.
Essa não foi a primeira vez que o Rio Macaé se tornou alvo de empreendimentos deste tipo. Em 2001, o Grupo Monteiro Aranha tentou construir uma PCH no Rio Macaé, mas que foi barrado pelas comunidades de Lumiar e Casimiro de Abreu.
A ideia, na época, era edificar uma barragem na localidade de Santa Luzia e desviar as águas através de um túnel de sete quilômetros pela rocha até onde seria a casa de força, prevista para ser instalada em Figueira Branca.
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