​Colégio Anchieta: fé e ciência - Parte 5

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Os jesuítas antes se de instalarem em 1886, em Nova Friburgo, estiveram bem próximos nos municípios de Itaboraí e Cachoeiras de Macacu. A Companhia de Jesus se estabeleceu no século 16 no Recôncavo da Guanabara, na Baixada Fluminense. Uma grande extensão de terras foi doada à Companhia de Jesus que deu origem a Aldeia de São Barnabé, onde foi erigida uma igreja, hoje em Itambí, 3º distrito de Itaboraí.

O padre José de Anchieta atuou no aldeamento de São Barnabé na catequização dos índios tamoios e maracajás, auxiliando na construção do templo religioso. A igreja de São Barnabé foi concluída em 1705. Já em Papucaia, distrito de Cachoeiras de Macacu, possuíam a Fazenda do Colégio, destinada a abastecer com alimentos o aldeamento de São Barnabé.

A Fazenda do Colégio foi considerada como a mais importante unidade de produção de farinha de mandioca da região, alimento básico na refeição do brasileiro. O viajante de meados do século 19, Hermann Burmeister que passou pela região ainda se referia em seu diário a uma propriedade particular como Colégio dos Jesuítas.

Com a expulsão dos jesuítas do Brasil, em 1759, essas propriedades lhes foram confiscadas. Na Fazenda do Colégio, quando da expulsão dos jesuítas, havia 350 escravos, conforme inventário do confisco dos bens.

Em 1922, a reitoria do Colégio Anchieta comunica através de uma circular aos pais dos alunos que deixaria de receber alunos leigos internos no ano seguinte, quando então passaria a se dedicar somente na formação de jovens religiosos estudantes e futuros jesuítas.

A justificativa foi por falta de número suficiente de pessoal religioso docente que vinha da Europa. A Primeira Guerra Mundial provocara efeitos desastrosos sobre a Ordem dos Jesuítas, desfalcada de grande número de padres e necessitando de muitos deles para manter seus estabelecimentos no pós-guerra. Os pais não se conformaram e protestaram. Houve muitos pedidos de políticos importantes, senadores e pressão da imprensa para que a reitoria voltasse atrás em sua decisão.

A administração do colégio manteve a sua decisão de fechá-lo aos alunos leigos, se dedicando somente a formação de jovens religiosos estudantes. A Companhia de Jesus fizera o mesmo com os seus colégios em outros países. Podemos considerar o período de 1886 a 1922, como o fim de uma primeira fase na história do Colégio Anchieta. Neste período passaram pelo colégio 3.015 alunos, dos quais 1.627 eram bolsistas, provenientes de diversos estados do Brasil.

A segunda fase do Colégio Anchieta é fechada apenas aos aspirantes de uma vida eclesiástica.  Será essa fase uma das mais interessantes do Colégio Anchieta. Fé e Ciência é o lema dos jesuítas. Curiosamente, quando o colégio se fecha apenas para a formação de jovens religiosos, quando a fé deveria suplantar a ciência, nos parece que ocorreu o contrário. Em nenhum momento de sua história a ciência estivera tão presente no cotidiano do colégio. Conferencistas nacionais e internacionais se hospedavam no colégio e seminários sobre física, matemática, ética, metafísica, cosmologia, lógica e filosofia eram frequentes no Colégio Anchieta. Os alunos do filosofado apresentavam trabalhos acadêmicos nos seminários realizados.

Em 1923, iniciada a fase de formação de novos jesuítas, os alunos são divididos em três comunidades: noviciado, juniorado e a escola apostólica. A primeira dos estudantes de filosofia, que deu origem à Faculdade Eclesiástica de Filosofia posteriormente reconhecida pelo governo brasileiro como Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira.

A segunda comunidade era dos noviços e juniores. Os noviços iniciavam na vida religiosa por dois anos tendo formação ascética. Já os juniores se dedicavam aos estudos humanísticos. A terceira comunidade era formada por jovens secundaristas candidatos à Companhia de Jesus, conhecidos como apostólicos. 

Última parte na próxima quinta-feira, 6 de outubro                                               

 

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    Em 1922, a reitoria do Colégio Anchieta comunica através de uma circular aos pais dos alunos que deixaria de receber alunos leigos internos

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    O Colégio Anchieta precisa de ajuda financeira para restauração dos painéis mais antigos dos ex alunos

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    Podemos considerar o período de 1886 a 1922, como o fim de uma primeira fase na história do Colégio Anchieta

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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