A Olimpíada que você não vê

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A olimpíada Rio 2016 vai bem, obrigado. Bom, um ônibus com atletas foi atacado, um campeão do judô ficou com olho roxo em um assalto, mas, no geral, a olimpíada está indo bem. Aliás, muito bem para uma olimpíada que teve até Regina Casé na abertura.

O problema é o que acontece com o país enquanto nos distraímos com a olimpíada. É quando os políticos se aproveitam e, enquanto o torcedor torce, o governo distorce regras e prejudica a população.

Na noite/madrugada de terça, 9, para quarta-feira, 10, a Câmara dos Deputados aprovou o PLP 257, que é um remendo de um projeto que havia sido encaminhado pelo governo Dilma em março, mas que ela não teve força para aprovar.

É um acordo de renegociação da dívida dos estados, aprovado sob fortes protestos de servidores, que conseguiram na última hora a retirada de um inciso que previa congelamento de salários por dois anos e protestos ainda mais raivosos das bancadas do Norte e Nordeste, que acusavam o governo de proteger os governos estaduais do Sul e Sudeste. Ambos estavam certos.

Também durante a olimpíada, ficamos sabendo que o governo do estado do Rio, aquele que oficialmente é de Dornelles, mas que na verdade é um sistema colegiado, composto por Cabral/Pezão/Dornelles/Picciani e alguns empreiteiros, não pagou uma dívida de um empréstimo, do qual o governo federal era o fiador. Temer assumiu a fatura, de R$ 505 milhões.

Aproveitando ainda a distração da olimpíada, o governo estadual não cumpriu a promessa de pagar aos servidores. Uma juíza do Tribunal de Justiça determinou o arresto de R$ 604 milhões para quitar o débito, mas só havia pouco mais de R$ 300 milhões nas contas. Resultado: muitos servidores estão até agora sem receber o salário de julho, enquanto o governo ostenta uma olimpíada vistosa e cara para os turistas. Quem se importa?

Ainda em meio ao fuzuê olímpico, o governo estadual deu mais um tapa na cara do cidadão. Lembra do escândalo das isenções fiscais, aquelas que fizeram o estado abrir mão de R$ 138 bilhões, deixando de cobrar impostos de diversas empresas, entre as quais boates, motéis, o salão de cabeleireiro frequentado pela mulher de Sérgio Cabral e até termas de Copacabana? Pois é.

O governo prometeu que não faria mais, lembra?, pois o governo não lembra. A farra continua. Nos últimos 15 dias, 40 (isso mesmo: quarenta) novas empresas ganharam o fabuloso e inexplicável direito de não pagar impostos no estado do Rio, incluindo joalherias e até uma gigante do setor de telefonia. Ou seja, parece que neste estado, só quem paga imposto é o bobo do trabalhador, que não tem como escapar.

E depois o governo tem a cara de pau de ir aos jornais lamentar a crise e a falta de recursos. Não satisfeito, ainda culpa os servidores pela pouca vergonha que impera nas finanças do estado, por culpa do próprio governo.

Outro dia me perguntaram se sou contra a olimpíada. Não. Não sou. Os atletas, que dedicam a vida para conquistar uma medalha não têm culpa da roubalheira generalizada deste país. Mas sou contra a alienação. O brasileiro parece ter um botão, que o governo desliga quando quer. A partir daí, tudo é festa, tudo é legal, tudo é bonito, acabam-se os problemas, esquecem-se as fraudes e o Brasil vira um paraíso. E isso dura até o fim da festa.

Após a olimpíada, virá a fatura e os brasileiros, particularmente os cidadãos fluminenses, vão descobrir que foram convidados apenas para fazer número numa festa que não é para eles e que nenhum deles recebeu alguma medalha, mas são eles  que pagarão a conta.

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Alzimar Andrade

Alzimar Andrade

Alzimar Andrade é Analista Judiciário do Tribunal de Justiça, Diretor Geral do Sind-Justiça e escreve todas as quintas-feiras sobre tudo aquilo que envolve a justiça e a injustiça, nos tribunais e na vida...

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