Chocolate

Ela fazia uma pesquisa qualquer sobre a palavra ‘chocolate’ no celular, talvez incomodada com seus alguns quilos indesejáveis, enquanto colocava o leite para esquentar. Rolou de página em página, sabe como é, até que chegou num link que dizia ‘dez passos para um dia mais feliz’. Uma moça de calça branca ao fundo; era um desses spots, feitos por homem, de uma propaganda de absorventes. É claro que dá pra ser feliz quando ‘se está mocinha’, claro que dá! (Ironia, tá gente? Bom, é sempre bom avisar).

Logo o chocolate foi associado à tensão pré-menstrual, ali, no Google, mas apenas como um aliado nas crises de choro, larica e dor de cotovelo. Por que no facebook, obviamente, o chocolate ganhou ares de divindade. Mais precisamente atração turística, astro, rei, o bam bam bam das redes sociais das pessoas de novecentos amigos que conhecem treze. Coma o chocolate de Gramado. Experimente o fondue de chocolate belga da pousada La vie en rose. ‘Viaje com o seu amor para a capital do tango e pague em até 12x no cartão’ e só no meio do texto aparecia ‘chocolate’. Alfajor de chocolate.

Quer dizer, o povo não se decide, né. Se estiver mal, coma chocolate, se ficar de noite sozinha pesquisando aleatoriamente no Google, coma chocolate, se tá de bode, enfie chocolate goela abaixo até o talo. Mas se estiver de sussa, coma chocolate. Se for curtir fim de semana de conchinha, friozinho, Argentina, fondue de chocolate, lençol de chocolate, camisinha de chocolate. Quer dizer... fica difícil.

Ela achou engraçado o pensamento e sorriu. Chocolate, acima de todas as coisas. Amigo para o bem e para o mal. Era uma boa ideia para uma crônica. Mas era tão tarde, caraca, moleque, que dia, que isso. O leite ferveu. Ela limpou o fogão. Pegou o que deu. Enfiou o Nescau. Bebeu. E dormiu.