Praça do Suspiro: a imagem de uma nova Friburgo

“Do Suspiro na fonte saudosa/ Há três almas que gemem de dor/ Repetindo esta prece maviosa / Da saudade, do ciúme e do amor..."
quarta-feira, 03 de agosto de 2016
por Márcio Madeira
Praça do Suspiro durante a passagem da tocha olímpica (Foto: Márcio Madeira)
Praça do Suspiro durante a passagem da tocha olímpica (Foto: Márcio Madeira)

“A passagem da tocha não muda nada.”

Diversas vezes, desde que o anúncio de que o principal símbolo do maior evento de nosso tempo visitaria Nova Friburgo — num encontro que dificilmente irá se repetir nas próximas décadas — essa frase foi dita e repetida por vozes insatisfeitas a cada nova informação que era divulgada.

A compreensível e justa manifestação de descontentamento, todavia, não condiz com a verdade neste caso. E é muito bom que seja assim. Afinal, goste-se ou não, queira-se ou não, a passagem da chama olímpica, com todo o destaque que Nova Friburgo obteve dentro do evento (percurso especialmente longo, operação especial no teleférico, pira de celebração...) representa sim uma importante e igualmente justa visibilidade positiva para uma cidade, e uma praça em particular, que nos últimos cinco anos e meio tornou-se sinônimo de uma tragédia aparentemente condenada à eternidade midiática.

Ora, a história e a experiência nos ensinam que não se deve negar, esquecer ou esconder o passado. Para sempre os registros friburguenses irão informar às próximas gerações que na fatídica madrugada de 12 de janeiro de 2011 centenas de friburguenses pereceram na maior tragédia climática já vivenciada em território brasileiro, até então. Para aqueles que a viveram, em especial, aquela noite traz à mente a lembrança de amigos e parentes que jamais serão esquecidos. Tudo isso é verdade.

Como também é verdade que encostas foram reforçadas, áreas de risco foram desabitadas, e um novo plano diretor — que vem sendo considerado referência internacional de equilíbrio entre consulta popular e as mais modernas diretrizes urbanísticas — foi elaborado. Claro que a cidade ainda tem muito que fazer para se tornar cada vez mais segura, mas não se pode negar o muito que já foi feito.

O legado mais importante da passagem da tocha pelo teleférico na Praça do Suspiro, contudo, é imaterial e não diz respeito a turistas, mas à própria população friburguense. Afinal, o que é a cidade, se não as pessoas que nela habitam, as oportunidades que lhes são oferecidas, as histórias que nela se passam, as lembranças que ela emoldura? Naquela sofrida madrugada em janeiro de 2011 iniciou-se um ciclo de desencanto, uma profunda crise de autoestima, que não pode ser consertada com tijolos, cimento ou concreto, mas apenas com simbolismo de igual magnitude e sentido oposto.

Que oportunidade melhor, então, do que a imagem de um dos símbolos mais conhecidos e elevados de nosso tempo, único no mundo, visitando a renascida Praça do Suspiro, descendo pela mesma cadeirinha que transporta cada um de nós, pelas mãos de alguém que, assim como o próprio lugar, perseverou, tirou lições, se reinventou e seguiu em frente, melhor do que era antes.

A descida da tocha olímpica no teleférico na tarde do último sábado, 30 de julho, é uma imagem para cada friburguense chamar de sua. Um marco a ser aproveitado para a reaproximação com a própria terra, a recuperação do orgulho e da sensação de pertencimento. Ela certamente não faz nada pelos grandes problemas e desafios que Nova Friburgo tem pela frente, nem deve convidar à alienação ou calar vozes protestantes.

Ao contrário, representa uma oportunidade de virar uma página que ficou aberta por 2025 longos dias, para que uma nova história finalmente possa ser escrita.

Agora cabe a cada um decidir se aproveita ou não essa oportunidade.

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