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Impressões — 23/07/2016
Fábula
Silêncio – divindade alegórica; representava-se na figura de um homem com um dedo na boca, ou na figura de uma mulher.
(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré - com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris)
Linha do Tempo
Zygmunt Bauman
É o grande pensador da modernidade, a qual qualificou tão bem com o célebre conceito de “liquidez”. Perspicaz analista dos fatos cotidianos, o sociólogo tem vasta obra sobre temas contemporâneos, com destaque para o best-seller Amor líquido, fundamental para a compreensão das relações afetivas no mundo atual. Bauman nasceu na Polônia e mora na Inglaterra desde 1971. Professor emérito das universidades de Varsóvia e Leeds, tem mais de 30 livros publicados no Brasil.
Algumas frases de Bauman:
“Como se pode lutar contra as adversidades do destino sozinho, sem a ajuda de amigos fiéis e dedicados, sem um companheiro de vida, pronto para compartilhar os altos e baixos?”
“Os relacionamentos são como vitamina C: em altas doses, provocam náuseas e podem prejudicar a saúde”
“Loucos são apenas os significados não compartilhados. A loucura não é loucura quando compartilhada”.
“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”.
Moderna solidão
Uma família vai almoçar no restaurante num dia de domingo. Pai, mãe e dois filhos adolescentes. Sentam, aguardam o garçon, abaixam a cabeça e cada um na sua, mexem no smartphone como se estivessem sós, indiferentes à balbúrdia do ambiente e à própria convivência com os familiares. Estão se comunicando, isoladamente. Cada um na sua. A única dúvida entre eles é: o smartphone fica à esquerda ou à direita do prato? Esta cena não é desconhecida da maioria das pessoas. Nada mais natural, na sociedade tecnológica de hoje, que sentar-se ao lado de alguém e não conversar quase nada. Opta-se pelo isolamento.
A ideia de que ninguém vive sozinho e que o ser humano foi criado para ter o seu convívio dentro de uma sociedade não são conceitos novos. Inclusive, isso é algo tão enraizado na nossa cultura que o fato de alguém estar sozinho ou se sentir dessa forma pode ser algo que o leve facilmente a uma depressão.
O mundo moderno é globalizado e interconectado; a internet quebrou várias barreiras impostas pela distância, facilitando a comunicação com parentes e amigos que vivam em lugares distantes. Porém, mesmo com toda a facilidade existente para você entrar em contato com outros indivíduos, a cada dia mais pessoas se identificam como “solitárias”.
Mundo virtual
O mundo virtual veio para quebrar a barreira de comunicação, onde tínhamos a dificuldade de se comunicar em longas distâncias e em áreas com difícil acesso, este problema, pouco a pouco sendo sanada. Mas, no mesmo tempo que ele resolve muitos problemas, gera um efeito colateral à população, tais como dificuldade de socializar e alguns transtornos.
Muitas pessoas tímidas ou introvertidas acabam buscando ferramentas do mundo virtual para ajudá-las, como por exemplos: chat, bate papo, jogos eletrônicos e rede sociais. Mas com o tempo, elas acabam agravando seu problema e se tornam totalmente dependentes, e escondendo da sociedade por trás desses artifícios. Atualmente vemos que esse fato está ocorrendo freqüentemente com as crianças, onde seus pais dão dispositivos eletrônicos, para que elas se distraiam e não incomodem.
Junto com o problema de socializar-se, o adulto ou criança adquire vários transtornos, exemplo disso, é o isolamento que ela tem do mundo real, e que quando desliga o dispositivo eletrônico e sai do mundo virtual, logo desperta a solidão, por achar que não há nada ou alguém, alem daquilo em sua vida.
Online e impessoal
A cada dia mais pessoas passam a utilizar meios virtuais para conversar com amigos ou conhecer novos indivíduos. Isso porque a internet está popularizada, bem como os meios para acessá-la; você pode usar não só o seu computador para a tarefa, como um tablet ou um smartphone, fazendo com que ela seja portátil e você possa acessar do local que quiser.
A comunicação pela internet é simples, fácil, sem ansiedade. Você não precisa ficar com medo de falar algo errado, pois sempre há como editar ou até mesmo excluir as suas publicações. Dessa maneira, você pode passar a imagem que gostaria de ter, independente de ela ser uma representação fiel da realidade. O problema nisso é que as redes sociais passaram a representar quase uma obsessão pela autoimagem de um indivíduo.
As pessoas se acostumam facilmente a “colecionar” amigos nas redes sociais, substituindo uma boa conversa pessoal por uma mera conexão. A cada dia a “qualidade” é trocada pela “quantidade” e a definição de “relacionamento” passa a ser representada pela troca de imagens e algumas poucas linhas de texto em um chat online. Você passa a esperar menos das pessoas e começa a desejar que os métodos tecnológicos para a comunicação passem por evoluções que tragam funções novas.
A sensação de solidão
Infelizmente, como resultado do uso excessivo desses meios para a comunicação, o que ocorre na maioria dos casos é que, mesmo que o indivíduo considere que tem muitos amigos, ele acaba se sentindo cada vez mais sozinho. Como somos vulneráveis à solidão, nos apegamos cada vez mais à tecnologia para tentar preencher esse vazio.
Isso porque as redes sociais trazem a impressão de que você pode passar uma imagem beirando a perfeição; sempre será ouvido e nunca estará sozinho. Assim, muitos passam a querer cada vez mais compartilhar experiências online para se sentirem “vivos” e “fazendo parte de um grande grupo”, e é por essas razões que a tecnologia mudou o conceito de estar sozinho e de sentir solidão.
Na medida certa
A comunicação online não é a grande vilã dos tempos modernos. Não há qualquer tipo de dúvidas com relação à internet ser uma excelente ferramenta para vários propósitos. Entretanto, como tudo na vida, o ideal é que ela possua a sua dosagem no cotidiano das pessoas.
Esse novo conceito de solidão trazido com a tecnologia pode ser mais facilmente preenchido se você mantiver os seus contatos e conversas online e, da mesma forma, tirar um tempo da sua rotina para manter o convívio real. Cabe a cada um utilizar os recursos disponíveis para melhorar cada vez mais as suas experiências e os seus relacionamentos com outros indivíduos.
Uma válvula de escape
Em época na qual as pessoas encontram-se conectadas o tempo inteiro e realizam diferentes atividades online, não é de se estranhar que elas passam a se tornar prisioneiras do mundo virtual. O uso de ferramentas para diminuir as dificuldades do dia a dia pode se tornar uma verdadeira prisão.
O mundo virtual possibilita o anonimato e a sensação de segurança, dessa forma o indivíduo se sente mais solto quando está atrás da tela do computador e passa a acreditar que aquela interação virtual já é o suficiente na sua vida, mesmo que essa só ocorra de forma virtual. Cada vez é mais comum as pessoas terem o hábito de se isolarem em seus quartos, conectadas com seus computadores. Será esse o futuro dos homens?
Angústia da solidão
Antes da popularização dos smartphones, os únicos periféricos que possuíam meio de comunicação usando a internet, eram os computadores e os notebooks. O uso da internet era possível somente nas residências, ou locais com determinados equipamentos. A popularização dos smartphones/tablets junto com a internet móvel (3G,4G), foi a faísca para uma febre mundial chamada rede social (Facebook, Twitter, Instagram, What’sApp).
O uso constante dessas ferramentas faz com que as pessoas percam sua sensibilidade natural de se relacionar com outras pessoas ao seu redor, assim, tornando restritos apenas aos contatos disponíveis em seu aparelho. Há também redes que exaltam fortemente o narcisismo entre os usuários, como por exemplo o Instagram, rede social baseada em fotos dos usuários, expondo seu cotidiano e seus eventos pessoais.
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