Para o agricultor Aroildo Alfredo Schottz, que no momento se dedica ao cultivo de monsenhores, margaridas e chuvas-de-prata, sempre é tempo de semear, cultivar, colher. Afinal, a Bíblia ensina que há tempo pra isso e aquilo. E quem vive da terra sabe o quanto o tempo é o senhor desse ofício. Quando não é uma coisa é outra, em épocas onde a colheita varia entre maior ou menor quantidade, como agora, que encolheu. Mesmo assim, tem produção o ano inteiro, não de todos os tipos, já que algumas florescem bem nessa época, mas outras não. Tal como pessoas, umas gostam de frio, outras, de calor, mas ao longo do ano “sempre é tempo de semear ou colher”, ressaltou Aroildo.
Tem mudas que vêm de São Paulo, ainda bem pequenas, assim como sementes, e entre a semeadura e a colheita, geralmente, são necessários 90 dias. As flores que Aroildo está colhendo, no momento, gostam de sol forte, então, calorão é bem-vindo. “Mas quando o sol fica muito forte, tenho que trocar o plástico protetor da estufa, que é branco transparente, pelo preto. Se descuidar, a planta vai crescer toda a vida e não vai dar flor. Fica só na folha, não brota, caduca, sobrando só o cabo com as folhas. Tem que tampar pra ela dormir e dar flor”, explicou.
A cada semana, em época de entressafra, Aroildo consegue montar cerca de 300 “mocas” (maços) de monsenhores para o mercado do Rio, e separar uma parte para abastecer Friburgo e região. Em épocas de maior procura, como em datas comemorativas — Finados, Dia das Mães —, a produção chega a 1.000 maços por semana para atender a clientela. “Pra ter o maior aproveitamento possível é preciso ter um solo bem-adubado e acompanhar todas as fases durante o crescimento. Saber a hora certa de colher e ter o cuidado de arrancar a flor com a raiz junto”, explicou o agricultor.
A melhor época para visitar as estufas é entre setembro e outubro, quando há uma profusão de cores e formas, e os brotos começam a desabrochar. “Pra nós (os floricultores) já é inverno, então, estamos em baixa, entrando no pior período em termos de quantidade e variedade. Mesmo assim, as atividades não param, apenas diminuem. Durante a colheita, a cada flor arrancada uma nova muda é colocada no mesmo lugar. Isso é todo dia. Quer dizer, a variedade diminui, a quantidade também, mas sempre temos o que semear, plantar e colher”, contou.
Números da produção em Nova Friburgo
Nova Friburgo é o maior produtor fluminense de flores de corte, e se destaca na produção de rosas, hortênsias, monsenhores, astromélias, copos-de-leite, crisântemos, lírios, gérberas, margaridas, entre outras. O município concentra metade de toda a área cultivada na Região Serrana, a maior produtora do estado, com cerca de 500 floricultores. Segundo o IBGE, dos nove milhões de maços/dúzias de flores produzidos por ano na região, 4,5 milhões são plantadas pelos 220 floricultores de Friburgo.
No total, a região concentra 60% dos produtores de flores de corte do estado, posição que se mantém no quesito consumo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Flores (Ibraflor). Vargem Alta, distrito de São Pedro da Serra, a 10 quilômetros do centro de Nova Friburgo, é o principal polo de produção. Estes números colocam o município como o segundo maior produtor de flores do Brasil, atrás apenas de Holambra (SP).
Em 2014, o setor movimentou cerca de R$ 650 milhões em todo o Rio de Janeiro. Atualmente, 1.074 profissionais cultivam uma área superior a 950 hectares, uma demonstração do pleno desenvolvimento do setor no estado. O montante gera 10% do total de faturamento no país, ficando atrás apenas de São Paulo, responsável por 35%.
(Fonte: IBGE)
Nem caipira nem atrasado: estudante conta com uma pedagogia diferenciada
Segundo o diretor do ensino fundamental e médio do Colégio Municipal Ceffa Flores de Nova Friburgo, em Vargem Alta, professor Guilherme Moraes da Silveira, o morador da zona urbana tem uma visão distorcida do morador da zona rural, que costuma ser taxado de caipira e atrasado, o que, definitivamente, não corresponde à realidade nos tempos atuais. Ainda que, devido à falta de infraestrutura, principalmente na área de comunicação (não há telefonia, móvel ou fixa, muito menos internet) e de transporte (para o qual falta uma rede viária para escoamento), a fixação de jovens no campo seja prejudicada.
O Ceffa, criado em 2002, é responsável pela formação de mais de 200 alunos, cujo ensino é baseado numa pedagogia diferenciada, focada também no meio rural. Esse número é animador e aponta para uma revigorada na mentalidade das novas gerações, com resultados positivos para a economia do município. “A maior parte de nossos alunos são filhos de produtores, graças à predominância da agricultura familiar na região, que está consolidada, gerando renda e consequentemente qualidade de vida, com conforto”, ressaltou.
O ambiente no colégio exala — já que falamos de flores — educação, cultura, arte, vida saudável, beleza. Lá estudam jovens na faixa dos seis aos 14 anos, que seguem o currículo oficial acrescido de artes, como música, teatro, entre outras atividades culturais. “Nós somos uma escola de formação por alternância, o que enriquece o aprendizado de maneira geral. Por outro lado, o que temos vivenciado aqui, na prática, é o descaso do poder público com o campo. Quando falamos da falência dos grandes centros, ela é o espelho da falência desse universo, devido à falta de investimento. E isso acaba levando ao êxodo que resulta no inchaço das cidades”, avalia o professor.
Fixar por fixar não é o caminho
O jovem nascido e criado na roça é tão antenado quanto qualquer outro jovem, de qualquer lugar, garante o professor, observando que esse jovem quer ter acesso às novas tecnologias, a equipamentos que não param de evoluir:
“Essa turma sabe que o mercado está sempre lançando novidades. Apesar de a comunidade estar pleiteando torres de celular, há anos, ainda não temos como acessar nada. Nos computadores, só textos. Isso é frustrante porque restringe o conhecimento. Não há pesquisas, contatos, troca de informação, nem para trabalhadores nem estudantes. Então, fica uma falsa imagem da figura do caipira, o estigma. Como exemplo dessa realidade há uma simples mas definitiva constatação, que contrapõe Holambra e Friburgo: tecnologia. Eles têm, nós não. E isso nos torna reféns deles em muitos aspectos da produção”.
Por outro lado, não é condição sine qua induzir o aluno a seguir esta ou aquela profissão. Para Guilherme, fixar é um conceito que dá a impressão de se impor determinado caminho, como, por exemplo, forçar o jovem a seguir a profissão dos pais. “Não é isso. Na verdade devemos criar condições para ajudá-lo a descobrir a sua vocação, seja para o campo ou para qualquer outra carreira. O papel da escola, que é um espaço pedagógico, com tudo que isso implica, é mostrar as inúmeras possibilidades que ele tem de ser o que queira ser. É nosso papel preparar o jovem e encaminhá-lo para a vida, respeitando sua individualidade e capacidades. Quanto mais formos bem-sucedidos nisso, melhor para todo mundo, pois estamos aqui formando cidadãos de qualidade para inserir na sociedade”, comentou.
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