O jornalista friburguense Alessandro Lo-Bianco — que publica em A VOZ DA SERRA todas as quartas-feiras e edições de fim de semana a coluna A Voz do Rio — foi convidado pelo Ministério Público do Trabalho, em Brasília, para ser um dos jurados do Prêmio MPT de Jornalismo 2016 representando o estado do Rio de Janeiro. O concurso distribuirá mais de R$ 400 mil e é considerado o prêmio nacional de maior relevância no setor valorizando as reportagens que retratem a investigação e denúncias de injustiças contra trabalhadores. A premiação ocorrerá em setembro. Lo-Bianco recebeu o convite na última segunda-feira, 18, após análise dos procuradores do MPT em Brasília, que avaliavam profissionais de destaque na imprensa para compor o júri. Nos próximos meses de junho e julho, Lo-Bianco irá se encontrar com jurados de outros estados para, juntos, analisarem as reportagens concorrentes.
Alessandro Lo-Bianco foi selecionado pelo trabalho que tem feito na imprensa desde 2014, quando identificou e passou a denunciar, por meio das suas reportagens em O Globo, a atuação da máfia chinesa que escravizou centenas de chineses da República de Guangdong, na China, em pastelarias em diversas regiões do Estado do Rio. Na primeira matéria de Lo-Bianco, foi revelado que cachorros eram congelados em isopores numa pastelaria no subúrbio carioca de Parada de Lucas, onde eram abatidos e utilizados para produção da carne dos pastéis e outros salgados. Ali, um jovem chinês de 19 anos era escravizado há sete anos em uma cela nos fundos do estabelecimento. O dono da pastelaria está preso no Complexo do Gericinó.
As reportagens de Lo-Bianco não chamaram apenas a atenção do Ministério Público do Trabalho — que organizou novas investidas na capital carioca batizadas como “Operação Yulim” (o nome de um evento anual na China quando dez mil cachorros são abatidos para consumo) — como também chamou atenção da imprensa internacional. A reportagem foi citada em jornais estrangeiros como o El Pais, da Espanha, o Clarin, da Argentina e também no Le Monde, da imprensa francesa. Após a primeira publicação, Alessandro produziu outras quatro reportagens mapeando possíveis pastelarias onde o problema pudesse estar ocorrendo.
Desde então, até sua última reportagem sobre o tema veiculada no Jornal da Record este mês, mais de 30 pastelarias foram fechadas no município do Rio de Janeiro e pouco mais de 35 chineses já foram resgatados e inseridos em programas de proteção do estado. Alguns, após a série de reportagens, já retornaram com ajuda do governo brasileiro para seus lares e familiares na China após anos e até mesmo décadas sob regime de escravidão.
As reportagens do jornalista friburguense motivaram novas denúncias, o que acabou despertando a atenção da Vigilância Sanitária e do Procon que, numa força-tarefa, recolheram pastéis e salgados de 103 pastelarias em vários bairros cariocas e enviaram os recheios para análise no Laboratório Municipal de Controle de Produtos. Quando saíram os resultados, uma surpresa e com ela, uma nova capa no jornal: quase todos os salgados estavam contaminados e, entre as bactérias detectadas, os exames chamaram atenção para a presença de grande quantidade de Escherichia coli, indicativa de contaminação por “fezes humanas”.
“Comecei a notar que nos estabelecimentos que eu buscava descobrir possíveis escravos, todos os banheiros tinham privadas, mas não existiam pias. Isso me deixou um pouco preocupado e acabei levando o caso aos órgãos competentes, que graças a Deus provaram que haviam fezes humanas nos salgados, como também substâncias procedentes de infecções na pele, como pus e também sangue humano nas amostras dos alimentos”, conta Alessandro Lo-Bianco.
Desde quando a máfia chinesa foi denunciada, pouco mais de 35 chineses foram resgatados do trabalho escravo e inseridos em programas de proteção. Além disso, 33 pastelarias foram fechadas no Rio a cidade e cerca de 100 estabelecimentos receberam autos de infração e precisaram cumprir termos de ajustamento de conduta com o MPT para continuar funcionando. Todos os responsáveis pelos locais onde os chineses foram encontrados em situação análoga à escravidão estão hoje respondendo pelos crimes na Justiça Penal.
“Agradeço o apoio que tive dos amigos para seguir em frente com as denúncias, fico feliz de ser o jurado de matérias que levantem o tema em território nacional, e também à família A VOZ DA SERRA, em especial a diretora Adriana Ventura, que sempre esteve em contato comigo, — me incentivando. Foi em AVS que tive o privilégio de publicar minhas primeiras matérias e sinto orgulho de fazer parte deste time até hoje”, disse o jornalista, que no dia 2 de maio, às 18h50, estará na universidade Estácio Friburgo com a turma da professora Aline Novaes em um encontro denominado “A trajetória de um jornalista e suas possibilidades no cenário contemporâneo”.
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