Colunas
Somos todos Pinóquio

Fábula
Mentira – divindade infernal. Alguns crêem que tinha a seu cargo conduzir as sombras para o Tártaro e se representava com um ar afável e sedutor.
(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética –Ed. Garnier – Paris)
Linha do Tempo
Jamais diga uma mentira que não possa provar.
Millôr Fernandes
Não ser descoberto numa mentira é o mesmo que dizer a verdade.
Aristóteles Onassis
Somos todos Pinóquio
O 1º de abril, não é o dia da mentira, o que é uma verdade. Afinal, de pequenas mentiras o mundo anda cheio. Ninguém gosta de admitir esta verdade: todos mentem. Vivemos atualmente momentos de mentiras de todos os lados. Desde as políticas às juras de amor. Os filósofos dizem que não existem verdades absolutas; nunca existirão.
E as mentiras? Elas são apenas verdades que não puderam acontecer. O famoso sítio em Atibaia, o triplex do Guarujá, as promessas eleitorais, as pequenas desculpas esfarrapadas do dia a dia apresentadas por todos em diversas ocasiões.
Seja para agradar a alguém, escapulir de uma encrenca, ser o herói de alguma pescaria nunca vivida, levar vantagem na vida. Com suas pernas curtas, a mentira caminha no passo do homem desde que o mundo é mundo e não dá o menor sinal de perder o fôlego, muito pelo contrário. Todos temos um pouco ou muito de Pinóquio.
O filósofo Confúcio (551-479 a. C.) recomendava que se apelasse para a mentira apenas quando a verdade prejudicasse uma família ou a nação. Aristóteles (384-322 a.C), o pensador grego, só aceitava duas maneiras de mentir: diminuindo ou aumentando uma verdade. O teólogo Santo Agostinho, no século 4, resolveu complicar o assunto descrevendo seis tipos diferentes de mentira: a que prejudica alguém, mas é útil a outro; a que prejudica sem beneficiar ninguém; a que se comete pelo prazer de mentir; a que se conta para divertir alguém; a que leva ao erro religioso; e, finalmente, a que ele considerava a "boa" mentira, que salva a vida de uma pessoa.
Para as modernas ciências do comportamento, porém seja qual for a história falsa, a realidade é uma só: mentira é aquilo que se queria que fosse verdade.
Mentiras políticas
A política brasileira sempre foi pródiga em meias verdades e falsas promessas. E também em trapaças, fraudes, falácias – algo que nós, eleitores, aprendemos a resumir simplesmente como mentiras. Em ano de eleições vamos relembrar as maiores lorotas proferidas por nossos políticos desde a fundação da República. Há mentiras para todos os gostos: São hábitos que fazem parte do jogo e que sempre existirão na zona cinzenta da política. Mas nunca é demais lembrar de como fomos enganados e, em um ano como este, até aprender algo com isso. Nem que seja a não nos iludirmos tanto com eles.
- “O PIB passou para 1,5%”, Dilma Rousseff (2013)
Na ânsia de revelar números melhores para a economia brasileira, a presidente Dilma Rousseff (PT) acabou desmentida pelo próprio IBGE. O erro aconteceu em dezembro. Com a tal revisão, o crescimento teria pulado de 0,9% para 1,5%. O alvoroço foi grande quando, uma semana depois, o IBGE mostrou o número correto: o PIB pulara só para 1%, frustrando as expectativas. Críticos do governo viram aí uma tentativa de “inflar” otimismo. Dilma também inflou o otimismo durante a campanha de reeleição, em 2014.
- “Não houve mensalão”, Lula (2012)
A fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), publicada pelo The New York Times em 2012, entrou em contradição com suas declarações anteriores. Em 2005, quando veio à tona as suspeitas sobre um esquema de compra de votos de parlamentares e caixa dois de campanha, Lula se mostrou sensibilizado. “Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis. O PT errou. O governo, no que errou, tem de pedir desculpas”. Negou que o Congresso estivesse sujeito à compra, mas admitiu que o partido praticara financiamento irregular de campanha. “O que o PT fez é feito no Brasil sistematicamente”. Em 2012, no julgamento do mensalão, irregularidades foram comprovadas.
- “Ganhei 200 vezes na loteria”, João Alves (1993)
Poucos foram tão longe no quesito cara de pau. Então deputado pelo PPR, o baiano João Alves ficou conhecido como líder de quadrilha no escândalo dos anões do orçamento. O rombo: R$ 800 milhões. A maior ousadia de Alves, no entanto, foi declarar todo o dinheiro à Receita Federal – e justificá-lo como prêmio de sucessivas apostas na loteria. Renunciou ao mandato em 1994 para evitar a cassação. Morreu em 2004 aos 85 anos.
- “Sou agricultor. É dinheiro da venda de verduras”, José Adalberto Vieira da Silva (2005)
José Adalberto Vieira da Silva, assessor do PT, fora preso no aeroporto de Congonhas com uma bagagem delicada: R$ 200 mil em uma mala e US$ 100 mil dentro da cueca. Indagado sobre a quantia, disse que era pagamento pelas verduras vendidas em um armazém de São Paulo. Para o Ministério Público, era tudo propina. Silva perdeu o cargo, foi expulso do partido e mudou a explicação. Declarou o dinheiro como fruto de uma doação, sem esclarecer a origem. “E não estava na cueca, mas no cós da calça.”
- “No Brasil não há lugar para ditaduras”, Costa e Silva (1964)
Uma das mais traumáticas mentiras da história política do país. Foi pronunciada antes da posse do general Costa e Silva, em um discurso que ainda incluía a garantia do “reestabelecimento da plenitude democrática” assim que o país estivesse longe das ameaças esquerdistas. Expectativas sobre a redemocratização deixariam de existir quatro anos depois. Costa e Silva, representante da linha dura das Forças Armadas, assinaria o Ato Institucional número 5. Era o começo da fase mais violenta da ditadura.
- “Eu não tenho conta na Suíça”, Paulo Maluf (2001)
Acusado pelo desvio de milhões da Prefeitura de São Paulo, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) mentiu e foi desmentido. A própria Justiça suíça enviou ao Brasil documentos comprovando a posse de 12 contas milionárias em seu nome e de sua família. Um processo corre com ordem de ressarcimento à prefeitura. Maluf segue na lista de procurados pela Interpol – e na Câmara, como deputado federal.
- “Vou acabar com os marajás”, Fernando Collor (1990)
Foi no governo de Fernando Collor, em Alagoas, que o apelido “caçador de marajás” alçou voo nacional. Marajás eram os funcionários públicos com altos salários conquistados à base de fraudes. Collor venceu a eleição de 1989, o primeiro pleito democrático para presidente desde 1960. Em setembro de 1992, diante de uma CPI que listava as inúmeras irregularidades de seu curto governo, sofreu impeachment.
- “Vamos fazer do Maranhão um Tigre do Nordeste”, Roseana Sarney (1994)
A referência aos Tigres Asiáticos está no rol das mais descabidas promessas de campanha. Roseana era candidata ao governo do Maranhão e explicava como superar o crescimento industrial da Coreia do Sul com “mais recursos naturais e melhor infraestrutura”. Hoje, o Maranhão ostenta o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e vive uma escalada de violência. O número está próximo ao da Síria, país em guerra civil.
Mentiras da História
A história é um mar de distorções. O que você pensa que é, talvez não seja assim. Confira.:
- Bin Laden não foi o primeiro a atacar os Estados Unidos em seu próprio território. O “mérito” corresponde a Pancho Villa, que em 1916 cruzou Rio Grande e atacou a cidade de Columbis, Texas, onde matou sete pessoas. A invasão durou menos de dez horas.
- As três caravelas de Colombo na verdade eram duas. Pinta e Nina. Porque a terceira embarcação que participou da descoberta da América era uma nau, outro tipo de barco de maior tamanho. Chamava-se Maria Galante, mas Colombo a rebatizou de Santa Maria.
- Napoleão não era tão baixinho. De fato, media 1,68 metro, uma estatura aceitável para sua época, e inclusive superava por quatro centímetros o duque de Wellington, seu grande inimigo.
- Os vikings não usavam capacetes com chifres. Foi uma invenção do pintor sueco Gustav Malstrom nas ilustrações que realizou em 1820 para o poema épico Frithiof`s Saga. O propósito destes chifres irreais era retratar os ferozes guerreiros do norte como seres quase demoníacos.
- Walt Disney não sabia desenhar e nunca desenhou nenhum de seus famosos personagens. Durante muitos anos foi dito que Mickey Mouse tinha sido criado por ele, mas atualmente sabemos que foi obra exclusiva do desenhista Ub Wickers que deixou Disney compartilhar a autoria para lhe devolver um favor.
- Os Harlem Globetrotters não eram do Harlem senão de Chicago. Cidade na qual foi criada a equipe no ano 1926 com o nome de New Cork Globetrotters. Finalmente, em 1932 adotaram Harlem como denominação de origem.
- Sherlock Holmes nunca disse: “Elementar meu caro Watson”. Nas novelas de Conan Doyle, o famoso detetive pronuncia a palavra “elementar”, mas nunca acompanhada pela batologia. A frase, tal e como a conhecemos, foi escrita para o filme protagonizado por Basil Rathbone em 1939.
- Robin Hood não era um bandido generoso nem roubava os ricos para dar aos pobres. Foi um homem chamado Robert Hood, que se revoltou contra o rei Ricardo II para não pagar impostos.
- Van Gogh não cortou a orelha, só um pedacinho do lóbulo esquerdo.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário