A VOZ DA SERRA: O senhor foi eleito com uma votação expressiva para comandar o Instituto Politécnico pelos próximos quatro anos. Talvez seja conveniente, portanto, iniciarmos a entrevista com uma breve apresentação de sua carreira acadêmica...
Professor Ricardo Carvalho de Barros: Eu sou físico de formação. Fiz a graduação em Física na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ingressei na Uerj no campus Francisco Negrão de Lima, no Maracanã, em 1976. E fiz inicialmente meu curso de Licenciatura em Física, e depois segui minha complementação de estudos e terminei o bacharelado. Em seguida fiz o mestrado em Engenharia Nuclear na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Coppe, entre 1982 e 1985. Depois eu consegui uma bolsa do CNPq e fui fazer o doutorado também em Engenharia Nuclear, na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, entre 1986 e 1990. E, ao mesmo tempo, também fiz por lá o mestrado lá Matemática Aplicada. Quando retornei ao Brasil fiz concurso para a Uerj, já no campus de Nova Friburgo, em 1994. E estou aqui até hoje. Inclusive já fui diretor deste campus na gestão de 2000 a 2004, quando funcionávamos ainda na antiga Fundação Getúlio Vargas.
Portanto, o senhor tem a experiência de mais de 20 anos no magistério, e um mandato como diretor do Instituto Politécnico...
Sim, e agora retorno à direção. Tomei posse no último dia 1º e os desafios são muito grandes. Inicialmente porque tivemos que trocar de sede devido a tragédia climática de janeiro de 2011, e nosso antigo campus foi praticamente todo danificado. Não tínhamos mais condições de funcionar lá, até mesmo por conta do acesso que foi destruído. Então o governo do estado adquiriu esses quatro prédios da fábrica Filó, e na compra nós ainda recebemos o clube Olifas. O espaço é grande, são quatro prédios espaçosos, mas que eram dedicados a uma finalidade e agora nós temos que fazer as obras de adequação para que eles atendam a outra aplicação, que são justamente as atividades acadêmicas de ensino de graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão. Há, portanto, que se fazer um projeto de ocupação desse espaço, com perspectivas de crescimento, da vinda de novos cursos de graduação. Existem até dois grupos de professores estudando duas possibilidades, que são os cursos de Engenharia Química e de Engenharia de Materiais. E outra possibilidade também - esta até mais simples para que possamos realizar rapidamente - de um programa de pós-graduação em Ciências da Natureza.
O senhor assume a direção do campus num contexto de crise econômica estadual profunda, e tem grandes desafios pela frente. O IPRJ tem um grande espaço a ser ocupado que ainda não está pronto, tem bons planos, bons projetos, mas certamente vai ter dificuldades para levantar os recursos. A própria universidade está em greve, e o senhor provavelmente terá de ir além de suas funções acadêmicas para que possa negociar a liberação das verbas necessárias à concretização de tais projetos. Dentro deste cenário, quais as expectativas que a comunidade da Uerj em Nova Friburgo pode ter em relação a esta fase inicial do seu mandato?
É verdade. Nós precisamos dos funcionários terceirizados, que são, entre outros, os seguranças, e as pessoas responsáveis pela limpeza e pela manutenção. Esses funcionários não vêm recebendo regularmente os seus salários. E mesmo os professores e servidores técnico-administrativos, que recebem todos no mesmo dia, estão sofrendo muito com variações no dia do pagamento, o problema do 13º que foi parcelado... E, claro, não há o recurso para o funcionamento da unidade. A universidade repassa para cada unidade acadêmica um valor mensal para seu funcionamento, e esse valor nosso ainda não foi depositado. Ainda estamos aguardando, e em função disso tudo é que a universidade entrou em greve. Devo dizer que é uma greve justa, já que não podemos funcionar. Aqui em Nova Friburgo até que o pessoal da limpeza tem uma certa compreensão, e fazem um rodízio, dia sim, dia não, e fazem porque querem fazer. Por isso o nosso campus ainda se encontra mais ou menos habitável, mas a situação em outras unidades não é bem assim. Temos, portanto, um desafio grande. Duas semanas foi realizada uma reunião com o reitor da Uerj e todos os diretores de unidades acadêmicas, e existe realmente um desânimo. O sentimento que ficou foi o de um desânimo grande por parte das unidades acadêmicas da Uerj, e também da própria administração central. O reitor nos disse que sabia que esse início não seria fácil, mas não poderia imaginar que seria tão difícil assim. A nossa esperança é a de que esse pesadelo passe rapidamente e a gente volte a funcionar, porque em greve não temos como crescer, as pessoas se sentem desestimuladas...
No campus em Nova Friburgo existem muitas linhas de pesquisa, muitos laboratórios, e inclusive uma parceria com a economia criativa na elaboração de um laboratório audiovisual. Esses projetos vão ter continuidade ao longo da sua administração?
Vão. Aliás, por falar nas atividades de extensão, temos aqui um grande projeto que é o Mini Baja. Nossos estudantes constroem o carro e competem com os alunos de outras faculdades de engenharia do Brasil. Isso é muito interessante pois os alunos ficam bastante entusiasmados, aprendem muito, e a greve e os poucos recursos não desanimaram os estudantes que certificaram o carro. Há também a Serra Júnior e a Incubadora de Empresas, que pretendemos fortalecer. Temos ainda espaço e projetos para outras atividades extensionistas, como cursos para a comunidade, mas tudo isso requer recursos para que sejam realizadas as obras nos prédios.
Em resumo, portanto, poderíamos concluir que a comunidade friburguense pode contar com a boa vontade da nova administração, e a dependência maior fica em relação à recuperação econômica do estado?
Sim, não tenham dúvidas quanto a isso. A universidade tem o seu orçamento, e dentro dele ela encaminha para a Secretaria de Fazenda suas demandas. Mas se esses recursos não são liberados, não temos como executar. Infelizmente o momento não é favorável, dado este desânimo geral em relação à situação financeira do estado. Mas nós temos a esperança de que isso passe logo, e vamos nos esforçar e trabalhar com afinco para que o Instituto Politécnico possa oferecer à Região Serrana - e a Nova Friburgo em particular - novos cursos de graduação, novas oportunidades de cursos de pós-graduação, cursos de extensão, e existe até a possibilidade de que sejam criados cursos de licenciatura nas nossas áreas de atuação, em Matemática, Física e Química, para a formação de professores da atuação básica.
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