A voz do povo

sábado, 12 de março de 2016
Foto de capa
Cairo, Egito, 2011

Fábula
Furor – Divindade alegórica que se representava na figura de um homem carregado de cadeias e assentado sobre um monte de armas como um furioso que quer espedaçar as prisões e que se arranca os cabelos.
(Dicionário da Fábula – traduzido por Chompré – com argumentos tirados da história poética – Ed. Garnier – Paris)

Linha do Tempo
"A rebeldia é a virtude original do homem."
Arthur Schopenhauer

A voz do povo

"O Brasil acordou". Assim estava escrito em cartazes das manifestações que abalaram a nação em 2013 e levaram às ruas mais de um milhão de pessoas. Depois disso, outros protestos aconteceram e ainda estão ocorrendo agora. A partir de reivindicações contra o aumento das tarifas dos ônibus, a pauta dos manifestantes aumentou e passou a tocar em questões recorrentes: corrupção, malversação de dinheiro público, má qualidade dos serviços à população, em saúde, educação, segurança, etc.

Os políticos - tanto do poder Executivo, quanto do Legislativo – estão sendo colocados contra a parede e prometem mudanças. Diante disso, é o caso de se perguntar se essas promessas serão cumpridas, se a população continuará vigilante e disposta a lutar por seus direitos, se esses protestos históricos terão consequências práticas no futuro próximo do país.

O Brasil acordou mesmo? O que vai mudar no país após essa grandiosa onda de manifestações?

O Brasil gritou

Caras pintadas
Em 1992, grandes manifestações ocorreram nas ruas do Brasil pedindo o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Frente aos fortes indícios de corrupção em seu governo, a juventude conhecida pedia a saída do presidente, que havia sido o primeiro eleito por voto direto após o fim da ditadura civil-militar. Esses jovens ficaram conhecidos como os “caras pintadas”, pelo fato de pintarem em seus rostos pequenas faixas com as cores da bandeira do Brasil. Após forte pressão popular, Collor pediu a renúncia do cargo, assumindo em seu lugar o vice-presidente Itamar Franco.

Diretas Já
Quando não alcançaram os objetivos pretendidos, as manifestações proporcionaram um debate sobre a situação política do país e estimularam a participação política de um número maior de pessoas. Foi o caso da campanha pelas “Diretas Já!”, iniciada a partir de 1983. O objetivo do movimento era a aprovação de uma lei que possibilitasse a eleição direta para presidente da República. Apesar da pressão, a lei não foi aprovada e o presidente posterior foi ainda eleito de forma indireta pelo colégio eleitoral. Embora com essa derrota, um novo cenário político abriu-se ao país, com uma maior liberdade de participação política.

Reformas de base
Na década de 1960, o conturbado contexto político também gerou manifestações nas ruas. Durante o governo de João Goulart, havia uma intensa polarização política no Brasil entre os que apoiavam seu mandato de presidente e os que lutavam por sua saída. O estopim para o fim de seu governo ocorreu no mês de março de 1964. Após a realização de um comício na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, onde aproximadamente 150 mil pessoas escutavam o presidente e seus apoiadores defender as reformas de base, as forças políticas ligadas aos setores conservadores da sociedade iniciaram uma série de manifestações contra o presidente. Essas manifestações eram denominadas como “Marcha da família, com Deus, pela liberdade”. Essas marchas foram o argumento necessário aos militares para derrubarem o presidente, afirmando ter apoio popular para isso. Essa manifestação contribuiu para que a participação política fosse restrita, abrindo caminho para uma ditadura militar.

O mundo gritou
Relembre os principais protestos ao redor do mundo desde 2009:

Protestos pós-eleitorais no Irã - junho de 2009
Milhares de manifestantes que contestaram os resultados nas urnas saíram às ruas, fato sem precedentes no país persa desde a Revolução Islâmica, em 1979.
Reivindicações: Anulação dos resultados eleitorais e liberdade de expressão.

Primavera Árabe: Tunísia  - dezembro de 2010
Reivindicações: Queda do governo, melhores condições de vida, combate à violência policial, mais empregos e direitos humanos.
Desfecho do movimento: O movimento na Tunísia desencadeou a Primavera Árabe, onda de protestos contra regimes autocráticos no Oriente Médio e norte da África e contra as condições de vida da população.

Primavera Árabe – Egito – janeiro de 2011
Reivindicações: Queda do governo, melhores condições de vida, liberdade de expressão, mais empregos.
Desfecho do movimento: Mobilização de 18 dias põe fim aos 30 anos do governo de Hosni Mubarak. A instabilidade no país, assolado por uma forte crise econômica, continua.

Primavera Árabe: Líbia - fevereiro de 2011
Reivindicações: Queda do regime, direitos humanos, democracia e unidade nacional.
Desfecho do movimento: A guerra civil na Líbia culminou com a morte do líder Muamar Kadafi pelos opositores.

Primavera Árabe: Síria - março de 2011
Reivindicações: Queda do regime, direitos humanos, democracia.
Futuro do movimento: A Síria encontra-se atualmente em guerra civil. Apesar da pressão dos rebeldes contra o regime sírio com a captura de bases aéreas e instalações militares, o conflito afeta outras nações internamente, não só com o número de refugiados, mas também com os grupos favoráveis e contrários a Assad que estão em confronto.

Ocupe Wall Street - setembro de 2011
Reivindicações: Com o slogan "Somos os 99%", em referência à concentração de renda nos Estados Unidos, manifestantes pediram o fim da influência das corporações financeiras no governo, do favorecimento dos ricos, e melhoras no sistema de saúde e de educação.
Desfecho do movimento: Hoje, o movimento "Ocupe" se tornou um conjunto de grupos com objetivos semelhantes que usam um mesmo nome, mas não têm como função de fato ocupar espaços publicamente, como no início.

Distúrbios no Reino Unido - agosto de 2011
Reivindicações: Os distúrbios no Reino Unido não apresentaram demandas claras, mas foram reflexo do crescente desemprego, da recuperação lenta da economia e dos cortes orçamentários para setores públicos caros à juventude, como a educação.
Desfecho do movimento: Parte dos milhares de detidos foi processada pela justiça britânica após os distúrbios. A polícia do Reino Unido também viu seus poderes ampliados, com a possibilidade de decretar toques de recolher em determinadas áreas para menores de 16 anos.

Protestos em defesa do Parque Gezi, na Turquia - junho de 2013
Reivindicações: Manutenção do Parque Gezi, direitos humanos, saída de Erdogan do poder.
Futuro do movimento: A manifestação teve início pacífico e logo se tornou o maior protesto contra o governo Erdogan em seus dez anos no poder. Por causa da violenta repressão policial, manifestantes que queriam apenas preservar as árvores do Parque Gezi abraçam novas causas, como o direito à liberdade de expressão.

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.