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O Jardim do Éden do rock nacional
Jardim Elétrico (1971) – Os Mutantes
Jardim Elétrico é o álbum definitivo do rock brasileiro. É o registro dos Mutantes em sua melhor forma: como instrumentistas, compositores e em entrosamento como banda. Com um som definidíssimo, é o marco do grupo já tendo passado de sua fase tropicalista – onde era mais influenciado por grupos como o The Mamas And Papas e os Beatles, além de música nacional – e pelo disco transitório A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado, de 1970.
Também em 1970, os Mutantes fizeram sua primeira viagem internacional, para a França. Nessa ocasião, tomaram LSD pela primeira vez, dando início a uma constante viagem psicodélica que influenciaria totalmente o som e o comportamento da banda. Ainda na estadia na Europa, gravariam o álbum Tecnicolor, um verdadeiro tesouro que permaneceria oculto até o ano de 2000. A ideia do disco era lançar a banda no mercado internacional e nele entraram diversas versões de músicas já lançadas pela banda em seus três primeiros trabalhos, além de músicas que entrariam em Jardim Elétrico. É o disco mais Beatles dos Mutantes.
Jardim Elétrico aparece no ano seguinte com toda bagagem musical que os Mutantes aprenderam com os tropicalistas e mais o rock internacional. É um exercício de casa que ganhou nota máxima, ponto extra e estrela de bom aluno. Rock n’ roll puro e contagiante. Rita Lee canta com uma voz totalmente aguda e debochada, Liminha agride o contrabaixo com toda potência e Sérgio captura toda atenção com sua guitarra chamativa.
A influência de Tim Maia, que estava despontando com a Soul Music no Brasil e era amigo próximo dos paulistas aparece clara também, em faixas como “Benvinda”, uma homenagem clara ao síndico, com Arnaldo Baptista tentando humoristicamente imitar o timbre de voz do cantor e “Portugal de Navio”, com muitas referências de jazz. Solos de gaita e timbres de baixo acústico são destaques na faixa.
De forma mais límpida e admirável, as concepções de rock do grupo aparecem no vinil. “It’s Very Nice Pra Xuxu” traz um órgão suave, viradas de bateria fortes e letra e harmonia que entregam um clima íntegro de paixão e paz. “Saravá” entra com Sérgio Dias destruindo tudo na guitarra, um dos rocks mais pesados do Brasil até então. E a faixa título, entrega já os primeiros pés da banda no rock progressivo, com compassos diferentes em momentos da faixa e os instrumentos em linhas fantásticas por todo o álbum. Ainda vale citar “Virgínia” e “Tecnicolor”, totalmente influenciadas pelo rock britânico e “El Justiceiro”, com pura influência da música latina.
Jardim Elétrico termina com uma versão linda de “Baby”, a mesma que aparece em Tecnicolor. Transformada em bossa-nova, a mais lindas das composições de Caetano Veloso chega trazendo um sentimento de serenidade e amor fantásticos. É de se apaixonar.
Jardim Elétrico (1971)
Artista: Os Mutantes
Músicos: Arnaldo Baptista (teclados, baixo e voz), Rita Lee (voz, percussão e efeitos), Sérgio Dias (guitarra e voz), Dinho Leme (bateria) e Liminha (baixo)
Produção: Arnaldo Baptista
Selo: Polydor
Músicas:
- Top Top
- Benvinda
- Tecnicolor
- El Justicieiro
- It’s Very Nice Pra Xuxu
- Portugal de Navio
- Virgínia
- Jardim Elétrico
- Lady, Lady
- Saravá
- Baby
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