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A história do bairro Lazareto - 25 a 27 de junho 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Lazareto, segundo consta no Novo Dicionário Aurélio, é o nome do local para onde são levados, em quarentena, os indivíduos suspeitos de portarem uma doença contagiosa.
Na Nova Friburgo de hoje esse nome designa um bairro populoso, localizado ao norte de Duas Pedras. O porquê desse nome procuraremos explicar nas linhas abaixo.
A vila de Nova Friburgo era, ainda, muito pequena. Ainda não existia um local para onde encaminhar os doentes portadores de moléstia contagiosa. Em outubro de 1865 o nosso Delegado de Polícia pede à Câmara o pagamento de 23$140 réis ao cidadão Porfírio Manoel Coutinho, por seus serviços prestados como enfermeiro ao preso que veio de Cantagalo atacado de “bexigas” e mais despesas que fez com o mesmo. Em outubro do ano seguinte o mesmo Delegado comunica à Câmara a epidemia de varíola que assolava Sumidouro, então distrito de Nova Friburgo, e pede providências. A Câmara comunica o fato ao Presidente da Província e pede a remessa de “pus vacínico” (vacina da época) para ser remetido para aquele distrito, no que foi prontamente atendida.
Em fevereiro do ano seguinte o senhor Presidente da Câmara anuncia que uma mulher desvalida, atacada de “bexigas”, pediu para ser socorrida e, para isso, alugara um quarto para a agasalhar, com a condição de mandar caiá-lo logo que a doente se restabelecesse.
Em outubro de 1878, pela palavra do vereador Dr. Carlos Eboli, foi levada à Câmara a ideia da necessidade de se alugar uma casa, fora da vila, para onde deveriam ser removidos os afetados pela varíola e autorizar o senhor Presidente a fazer as despesas necessárias com a remoção e tratamento de variólicos indigentes.
Em dezembro de 1887, quase 10 anos depois, vários casos de varíola apareceram em Nova Friburgo e o dr. Ernesto Brasilio de Araújo pede à Câmara que solicitasse do Presidente da Província o fornecimento de vacinas, e então ele faria, graciosamente, a vacinação da população da Vila. Na época, vários friburguenses contraíram a doença.
E assim foram se passando os anos sem que a pobre Câmara da Vila pudesse criar um local destinado a abrigar esses doentes que, aqui em nossa terra, eram muito raros. Em 1º de fevereiro de 1890, já na República, foi autorizado o cidadão Domingos Barbosa a entender-se com o delegado da junta de higiene para escolherem uma casa para recolhimento de pessoas afetadas com moléstias contagiosas.
Em setembro de 1891 foi criado pela Câmara os “cordões sanitários” a serem passados em torno de casas que tivessem doentes de moléstias contagiosas e estariam sujeitos à multa de 30$000 os que dela saíssem e, no caso de desobediência, prisão à ordem da autoridade competente.
Em 18 de fevereiro de 1892, pela primeira vez se vê surgir a palavra “lazareto” em nossa história oficial. Na sessão da Câmara daquele dia, a “comissão de saúde pública” fala sobre a construção de um lazareto e faz a indicação de um terreno afastado 2 ½ km da cidade, à margem da estrada de ferro e num platô a 20 metros de altura sobre o seu leito. A indicação foi aprovada e o senhor Intendente Geral foi encarregado de fazer contato com o seu proprietário e, no prazo de 30 dias, levar à praça a sua construção.
Na sessão seguinte, 26 de fevereiro de 1892, o senhor Intendente Geral comunicou que, de conformidade com a deliberação tomada na sessão de 18 último, entendeu-se com José Gonçalves da Rosa relativamente a venda de dois alqueires de terra, no lugar denominado Duas Pedras, para nele construir um lazareto. Ficou a Intendência inteirada e o autorizou a fazer a aquisição do terreno, assinando a escritura e fazer o pagamento. O lazareto foi construído e, por muitos anos, serviu de isolamento para os doentes de moléstias contagiosas na nossa Nova Friburgo. Poucos anos depois ele foi desativado. Desconhecemos a época em que isto aconteceu por já termos então terminado, conforme de início nos propusemos, a transcrição dos 21 primeiros livros de atas da Câmara de Nova Friburgo (tempo do Império).
O hoje o bairro do Lazareto, logo depois de Duas Pedras, ocupa aqueles dois alqueires inicialmente adquiridos pela Intendência de Nova Friburgo e mais terrenos em sua volta.

Carlos Jayme Jaccoud
Um pouco de história
Carlos Jayme Jaccoud é historiador.
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