Hospital São Lucas de portas abertas para a comunidade

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
por Jornal A Voz da Serra
Hospital São Lucas de portas abertas para a comunidade
Hospital São Lucas de portas abertas para a comunidade

Dalva Ventura

Depois de um breve período de férias, o Hospital São Lucas retomou seu Programa de Promoção e Prevenção de Saúde (PPPS). Os encontros quinzenais dos grupos de obesidade e tabagismo já começaram e a partir de março retornarão as Reuniões de Apoio Terapêutico (Rateras) destinadas a idosos. No mês de abril, dentro do mesmo programa, o São Lucas enfocará a saúde da mulher, com mais um curso destinado a gestantes.

“O PPPS é um compromisso do Hospital São Lucas com a medicina curativa, mas, principamente, com a medicina preventiva”, explica a coordenadora, a psicóloga Silvia Deslandes. A participação em todos os grupos é gratuita e aberta à comunidade. Com isso o hospital deixa de estar voltado exclusivamente a pacientes particulares, do Plano GS ou de outros planos de saúde associados, abrindo suas portas à população.

Os grupos se baseiam na troca de experiências, como nas reuniões do A.A. e do N.A., mas com um diferencial importante: a supervisão dos especialistas que estão à frente de cada um deles. Primeiro veio a Ratera, em 2004. Ano passado tiveram início os demais programas, todos com um resultado excelente, controlado de perto pelos responsáveis.

As reuniões, quinzenais, são abertas à comunidade e acontecem no auditório do Hospital São Lucas, às 18h, com duração de uma hora. Para facilitar o acesso dos interessados o GS coloca à disposição uma Kombi, que sai meia hora antes das reuniões em frente à sede da Rua Marques Braga 23, Centro. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 2525-9955 (HSL) e 2521-0101 (GS).

Reuniões representam um apoio e tanto no controle da obesidade

Antes da reunião, todos sobem na balança e o peso é cuidadosamente registrado numa detalhada ficha de acompanhamento. Os novatos preenchem também uma minuciosa ficha de avaliação. O auditório está cheio de pessoas que lutam para vencer o desafio de emagrecer.

O segredo do sucesso do grupo de controle da obesidade do HSL está justamente na troca de informações, de experiências e no apoio mútuo. Por isso mesmo, representa um importante apoio para quem quer emagrecer. As reuniões são supervisionadas por cinco especialistas: o psicólogo Clayton Marins, a fisioterapeuta Karine Malhardi de Souza, o cirurgião geral Sávio Picanço, a nutricionista Thelma Duarte Cintra e a endocrinologista Carla Pecci.

Os participantes são acompanhados durante todo o ano e contam com orientação psicológica, nutricional, clínica e endocrinológica, recebendo, de quebra, todo um incentivo para perder peso. A cada encontro os especialistas falam sobre os riscos da obesidade, uma doença séria, que tem origem multidisciplinar e acarreta diversos problemas de saúde. Ao mesmo tempo, transmitem toda a orientação nutricional necessária. Mas o fundamental mesmo, segundo as pessoas que estão no grupo há mais tempo, é que ali ninguém dá ordem nem cobra nada.

No entanto, recebem dicas valiosas, principalmente por parte da nutricionista. Na primeira reunião, por exemplo, Thelma sugere que se façam cinco a seis refeições por dia, em pequenas quantidades. Além disso, indica a adoção da política do “menos um”, ou seja, se você come cinco colheres de arroz, deve passar a comer quatro. Se come dois pãezinhos, o ideal é que coma apenas um, e assim por diante.

Um dos mais entusiasmados do grupo é José Nilson da Silva, o Nilsinho da Euterpe, que frequenta as reuniões desde o início. No dia em que a reportagem de A VOZ DA SERRA acompanhou a reunião, ele estava com 114 quilos, mas, quando começou, pesava 118. “Não é muito, mas já é alguma coisa. Só tem um jeito de emagrecer e manter o peso: a reeducação alimentar. Não é fácil, mas acho que estou conseguindo”, diz, acreditando que dá para mudar. “Pode demorar um pouco, mas vou chegar lá, e sem cirurgia bariátrica”, conclui.

Outra que está desde o começo é Mayara Herdy, de 27 anos. Sua meta é perder no mínimo 20 quilos. Depois que entrou para o grupo, chegou a pesar 94 quilos, mas, no dia da reunião, a balança apontou 96. Ainda não está cem por cento, mas, aos poucos, garante, ela vem controlando melhor a alimentação. Mesmo assim, admite, ainda está em cima do muro. Mayara acha que a obesidade tem a ver, principalmente, com a cabeça, a ansiedade, mas acredita que quando procuramos nos informar mais e buscar formas de melhorar, acaba dando certo.

Troca de experiências ajuda quem quer parar de fumar

O grupo de combate ao tabagismo, coordenado pela pneumologista Ana Acácia Lima, criado nos moldes dos já existentes em alguns hospitais de ponta – como o Hospital do Coração, em São Paulo – também vem demonstrando ser uma potente injeção de ânimo e coragem para quem deseja, efetivamente, vencer o desafio de parar de fumar.

Muitas pessoas que participam do grupo já deixaram de vez o cigarro e, não satisfeitas com isso, tornaram-se militantes da causa antitabaco, promovendo palestras em escolas e empresas. Outras, apesar de sofrerem suas recaídas, continuam firmes no grupo e não abandonam a luta. As reuniões quinzenais representam um incentivo e tanto. Durante os encontros quinzenais não se fala apenas dos malefícios da nicotina e das quatro mil substâncias tóxicas presentes nos cigarros. O que representa o maior empurrão para os participantes é contar com um espaço para falar de suas dificuldades, angústias e fraquezas, assim como ouvir os depoimentos uns dos outros.

A médica Ana Acácia Lima acha importante associar o tratamento clínico do tabagismo à participação no grupo, mas evita falar em medicação. “Hoje em dia existem drogas que ajudam os fumantes a largar o cigarro, mas recomendo a todos que procurem seu médico de confiança antes de comprar adesivos, pastilhas ou remédios, para fazer uma avaliação clínica. O grupo não prescreve medicamentos. Nossa proposta é somar forças, é dar suporte ao tratamento, é oferecer mais uma ferramenta”, explica, lembrando que a participação em grupos como o do São Lucas aumenta em seis vezes o índice de sucesso do tratamento.

Uma das participantes, por exemplo, contou durante a primeira reunião que ainda estava fumando e se sentia muito envergonhada por causa disso. “Estou aqui há mais tempo que ela e ainda não tomei vergonha na cara! Tem gente que vem há menos tempo que eu, fumava muito mais e parou. Eu ainda não consegui”, diz. É hora da psicóloga Silvia Deslandes entrar em ação. “Pare de se culpar, não tire seus próprios méritos, você está aqui, não está? Lembre-se que cada um tem seu caminho e que parar de fumar é um processo muito difícil e rigorosamente individual”, diz.

Outra senhora, desta vez uma novata no grupo, diz que fuma um maço por dia há 36 anos e só parou de fumar quando teve filhos. “Sei que preciso parar de fumar, porque estou com princípio de enfisema. Hoje em dia basta eu subir um lance de escadas para chegar lá em cima arfando. A cada dificuldade que tenho, mais eu fumo”, disparou, afirmando que sozinha não consegue parar. “Esse é o meu primeiro passo. Eu preciso de ajuda, sozinha não consigo. Admiro muito as pessoas que dizem que vão parar e jogam o cigarro fora. Eu, se ficar sem, cato as guimbas, abro, tiro o filtro e enrolo para fumar. É um caso crítico, uma vergonha, para vocês verem meu nível de dependência”, disse.

Mais uma vez a psicóloga intervém. “Você usou a palavra vergonha, mas isso não é vergonha alguma, para as outras pessoas é que pode parecer desta forma. Lembre-se que parar de fumar é um processo muito sofrido. Devemos perdoar a nós próprios as nossas fraquezas”, diz.

Além da culpa, outro tema recorrente nesta primeira reunião foi a questão do peso. Uma senhora que conseguiu parar de fumar disse sentir uma angústia muito grande quando veste suas roupas e nada cabe. A pneumologista foi enfática. “É um mito afirmar que quem para de fumar engorda. Isso não tem lógica nem respaldo científico”, diz. O que acontece, segundo ela, é uma substituição de prazeres. “A gente transfere a ansiedade para a geladeira”, diz. Além disso, muitas pessoas param de fumar depois de uma certa idade, quando o metabolismo não é mais o mesmo, e o organismo tende a acumular gordura com mais facilidade.

Também se falou muito nas famosas recaídas e na melhor forma de evitá-las. O truque, segundo Ana Acácia, é lembrar as dificuldades e o sofrimento dos primeiros dias sem o cigarro. “Isso, por si só, representa um estímulo e tanto para resistir”, diz.

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