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Leitores - 04/02/2014
terça-feira, 04 de fevereiro de 2014
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Ponto de Vista 1
Quem passa pela RJ-130, nas proximidades do Mercado do Produtor, já se depara com placas indicativas do condomínio industrial e uma movimentação de terraplanagem e marcação de obras. O que dá uma ideia de já está definido tal processo e ponto.
O que se discute não é a validade do condomínio industrial. Nossa cidade carece há muito tempo de qualquer investimento na geração de emprego, na atração de empresas, enfim, nas mais diversas áreas produtivas.
A região onde está sendo implantado o projeto industrial é de fato uma área atrativa para essa tido de empreendimento: área plana, às margens da RJ-130, que liga com facilidade a Rodovia Rio–Bahia, de onde se tem facilidade de escoamento para as principais áreas de consumo do nosso país.
Mas a preocupação dos moradores daquela região é de fato a questão agrícola. Empreendimentos industriais atraem um conjunto de empresas que se interligam e se autocomplementam, assim como atraem um conjunto de transformações, como loteamento, mercado, enfim, urbanização. Enfim, gera uma pressão imobiliária sobre o entorno.
Insere agora nessa conversa que aquele entorno é de produtores da agricultura familiar; em terrenos que estão em sua maioria no seu limite de tamanho para a produção agrícola (pequenos, minifúndios, dada as questões de sucessão familiar); de que a agricultura de uma forma geral carece de apoio público para seu fortalecimento (financiamento, políticas incentivos a permanência no meio rural, dentre outros). Enfim, tem-se um quadro de fragilidade sobre essa atividade econômica de grande importância para o nosso município.
Por outro lado, aquela região tem se tornado uma região de apelo turístico. Há um grupo trabalhando para fortalecer o turismo e tornar essa uma atividade complementar na vida do produtor rural. Como sabemos, as paisagens industriais geralmente não estão relacionadas as áreas de turismo...
Outras localidades de nosso município perderam totalmente suas características rurais e o seu potencial de produção, por conta de empreendimentos de urbanização sem o fortalecimento dos produtores. Podemos citar Amparo, Riograndina e São Geraldo...
Portanto, percebe-se que temos um contexto geográfico marcado pela falta de ordenamento público. Para além disso, de profissionalismo e responsabilidade pública em avaliar as consequências de seus atos. Na verdade, palavras essas que tem passado longe da percepção de nossos governantes das últimas décadas. Por exemplo, gestões públicas anteriores colocaram o bairro de Granja Spinelli como área de expansão residencial, para a implantação de projetos públicos de residências populares. Quem conhece o bairro sabe de suas limitações físicas, por conta do relevo íngreme, e sabe também que o que a população queria do Governo Municipal era investimentos na área pertencente à municipalidade, onde existem dois lagos abandonados, tornado o bairro em um ponto turístico. E exemplos como esse não faltam.
Como agora, a expansão industrial em uma área onde se esperava o fortalecimento da atividade da agricultura familiar. Onde se esperava o fortalecimento do mercado do produtor, de instituições de apoio ao produtor rural. Como por exemplo o sonho daquela região de abrigar um polo universitário voltado para cursos de cunho agropecuário.
O caminho é o diálogo, é seriedade nas ações, é sim atrair investimentos para a cidade, mas antes fortalecendo o que se tem; garantindo que uma atividade econômica não vai se sobrepor a outra. Pois investir nos dias atuais é garantir que 1+1= 3 (fortalecimento das atividades que se tem, novos investimentos e desenvolvimento sustentável).
Esse último, desenvolvimento sustentável, se estabelece com fortalecimento social do entorno do empreendimento, preservação da qualidade do ambiente e preservação dos recursos naturais existes.
A pergunta que fica: o condomínio industrial em tela previu tais questões?
Antonio Carlos Frossard, diretor do Ceffa CEA Rei Alberto I (localizado no Terceiro Distrito e instituição que forma em técnicos os filhos de produtores da agricultura familiar); mestre em Ciências da Educação e doutorando em Ciência, Tecnologia e Inovação Agropecuária
Ponto de Vista 2
Gostaria de expressar minha indignação quanto ao egoísmo e estupidez do Sr. Selmo de Oliveira Santos. Na matéria do dia 01/02/2014 ele foi muito infeliz ao fazer o que é prática do município, e que na verdade o está levando à "falência”: olha para o próprio umbigo.
Existem duas distintas Nova Friburgo: uma antes e outra depois, da quebra de boa parte das indústrias do município. Com mais de 200.000 habitantes a geração de empregos envolvendo a agricultura em Nova Friburgo é ridícula!
Sinimbu, Arp, Filó, Ypú, Haga, Torrington, Spin, Unisafe, Teacher, Guaraná Caledônia e tantas outras que geraram milhares de empregos por décadas, fortalecendo a economia local, movimentando o comércio durante todo o ano e, principalmente, mantendo boa parte dos friburguenses em sua cidade natal.
Gostaria que o Sr. Selmo me informasse quantos empregos a agricultura gera no município.
Faça um favor para a cidade, Sr. Selmo, caminhe pelas ruas do Centro e Olaria. Veja como o comércio está enfrentando dificuldades, observe que não existem vagas de emprego e que, as poucas que tem, são para trabalhos que requerem pouco estudo com baixíssima remuneração. Boa parte das pessoas que conheci e conheço hoje vivem fora do município, foram buscar melhores oportunidades.
Existe espaço para uma coexistência de diversos tipos de negócios dentro de Nova Friburgo. São mais 933.400 km².
Só tenho um pedido para o Sr. Selmo: apoie toda e qualquer mudança que traga emprego e renda para o município. Sugira mudanças, caso "o seu ponto de vista”, indique que possa agredir esse ou aquele segmento, agora, em hipótese alguma, utilize um veículo de mídia, seja ele qual for, para expor uma opinião tão egoísta e infeliz como a que fez em A Voz da Serra.
Friburgo precisa de emprego e eu acredito em Nova Friburgo!
Obrigado,
Alexsandre Jandre
Ponto de Vista 3
Belíssimo ponto de vista de Selmo de Oliveira Santos. Ele foi, no mínimo, sensato. O município caminha para um grande erro ao achar que indústria é sinal de desenvolvimento, ao ignorar toda uma vocação regional. Da mesma forma que uma indústria chega, ela sai: basta outro município ser mais competitivo ou o mercado mudar algumas demandas.
Querem implantar – artificialmente – atividades totalmente oscilatórias, altamente dependentes de consumo e incentivos externos em uma área com vocação natural, basicamente organizada e com grande capacidade de autodesenvolvimento.
Incrível, nos dias de hoje, ainda se achar que um município só se desenvolve com indústrias.
Ignorar a vocação regional pode sair muito caro para o futuro de Nova Friburgo.
Bruno Pedrosa Carmo
Ponto de Vista 4
Selmo como sempre está coberto de razão.
Chega de ações que prejudiquem os já combalidos agricultores familiares da Região Serrana.
Eles precisam ter acesso a políticas públicas, assistência técnica, etc.
Deixe-os em paz em seus territórios produzindo alimentos que garantam comida para nossas mesas.
Estejamos sempre na defesa dos agricultores familiares e de seus filhos.
Paulo Seciliano
Ponto de Vista 5
Meu nome é Gabriel Almeida Frazão, sou professor da escola Rei Alberto I e doutorando em Ciências Sociais para o Desenvolvimento Agrário no CPDA/UFRRJ.
Durante a maior parte da minha vida residi em Conquista, em um sítio com toda a minha família. Hoje, apesar de viver no Centro, ainda mantenho forte contato com a região, pois a minha família e uma série de amigos ainda residem ali.
Concordo com a visão do autor, pois, em primeiro lugar, essa região tem uma forte vocação agrícola. Várias famílias ganham seu sustento em atividades ligadas à produção e/ou ao escoamento de produtos. Dessa forma, se é verdade que, nesses últimos anos, houve uma diversificação econômica, com o aparecimento de outros empreendimentos, esses não alteraram significativamente a estrutura produtiva, e, principalmente, as características naturais e sociais da região.
Em segundo lugar, essa região tem forte potencial turístico, que, apesar da falta de apoio da prefeitura, tem se desenvolvido com mais organização nos últimos anos. Nesse sentido, cabe destacar que existe ali o chamado circuito Tere-Fri, que envolve uma série de estabelecimentos voltados, principalmente, para turistas e demais amantes daquela região. Talvez, as autoridades friburguenses não saibam, mas nos fins de semana, muitas pessoas passeiam pela estrada Friburgo-Teresópolis. Elas visitam a Queijaria Escola, o Horto de Conquista, o Jardim do Nêgo, o Apiário. Isso sem falar das que vão para as proximidades do Parque Estadual dos Três Picos em busca dos vários serviços ali oferecidos, como os restaurantes, aliás excelentes, pousadas e, principalmente, em busca daquilo que o governo pretende acabar, ou seja, as belezas naturais. Belezas essas que deveriam ser preservadas e não destruídas em prol de uma concepção já datada de desenvolvimento.
Não sei se o governo municipal sabe, mas a ideia de desenvolvimento ligada apenas a indicadores econômicos já está ultrapassada. Não estamos mais nos anos 50, 60 e 70 quando os governantes tiveram que trazer grandes indústrias para o desenvolvimento do Brasil. Hoje há uma vasta literatura que já associa desenvolvimento à qualidade de vida. Dessa forma, se por um lado é óbvio que não se é possível falar de qualidade de vida sem melhoria na renda da população, por outro lado, não se pode presumir que uma melhoria na renda baste para melhorar a vida da população local, ainda mais em uma área como aquela.
A prefeitura tem apresentado como justificativa para esse grande empreendimento o aumento da renda do município. Não tenho aqui como avaliar essa questão, até porque as informações sobre esse condomínio são vagas. O que eu sei sobre esse assunto é o que está sendo noticiado pela imprensa. Aliás, aproveito aqui para protestar essa questão. As pessoas em Conquista não sabem quase nada sobre esse parque e nem sobre as possíveis desapropriações. Da mesma forma, não se sabe quais as empresas interessadas em se instalar nesse área e nem está sendo feita nenhuma discussão sobre os impactos ambientais e sociais desse empreendimento. Hoje o que se vive em Conquista é uma especulação, onde se ouve muitos boatos, mas não há nenhuma posição oficial sobre o assunto e essa é uma situação que abrange outras áreas do 3º Distrito.
No ano passado, como professor do Rei Alberto I, fui a todas as 6 turmas da escola, ou seja, um quantitativo de mais de 100 alunos, e descobri que eles não sabiam nada sobre o que estava acontecendo. Ao lerem algumas matérias de jornais, todas deste jornal, trazidas para discussão, a maioria deles ficou preocupado. Outros trouxeram outras indagações, como o fato de terem ouvido falar sobre a construção de um aeroporto, entre os bairros do Rio Grande e Barracão, e outros com a possível construção de um condomínio residencial... Enfim, alguns poucos alunos pensaram no benefício que teriam, podendo construir casas de aluguel, ainda sem pensar nas consequências sociais sobre esse processo.
Na minha visão é de se estranhar que o atual governo liderado por um ex-agricultor do 3º Distrito e proprietário de terras na região esteja à frente desse processo. Não vou aqui ser hipócrita e dizer que todos os que estão na lavoura hoje desejam permanecer nesse ofício, que é, sim, sacrificante, que obriga o produtor a enfrentar a chuva e o sol, na maioria das vezes, sem nenhuma proteção trabalhista. Tenho certeza que muitos alunos que se formam não querem continuar na "lavoura”, mas eles não são a maioria. Por outro lado, tenho certeza, pelo contato que tenho com eles, que todos os moradores daquela região querem continuar gozando da tranquilidade que possuem, querem continuar ouvindo os cantos dos pássaros pela manhã e, mais, querem e precisam ser ouvidos de forma séria. Hoje, parece claro, que quem possui as informações certas já pode estar se preparando para lucrar, diante de outros mal informados. Será que a única solução para a região é a instalação de indústrias, ou será que não existem outras maneiras de gerar renda e emprego? Por que a prefeitura não fomenta cooperativas ou pensa algum incentivo para a produção agrícola, que não seja o seu enfraquecimento?
Como sociólogo, professor e frequentador assíduo da região, acredito que o fortalecimento do ecoturismo de outras práticas agropecuárias mais sustentáveis sejam alternativas de desenvolvimento mais condizentes com a preservação do meio ambiente, das relações sociais e das tradições ali existentes. Da mesma forma, defendo que o governo municipal e estadual, já que é a Codin a responsável pelos estudos visando a desapropriação, sejam claros no seu projeto e chamem a população do local para a discussão, apresentando dados concretos desse plano que, como está sendo feito, além de acabar com uma atividade já rentável, a agricultura, porá fim à outra, incipiente, que é o turismo. Sinceramente, eu não imagino alguém, depois dessas obras, pegando o seu carro no domingo para ir à Friburgo-Teresópolis, afinal, para se ver indústrias, caminhões, concreto, poluição, paisagens cotidianas nos centros urbanos, eles, talvez, fiquem em casa. Por fim, cabe ainda apelar para o bom senso dos governantes quanto à questão ambiental. Sinceramente, em um momento onde se pensa em preservar o meio ambiente, cabe indagar sobre o legado deixado por esse projeto, em uma área que já sofreu muito no ano de 2011. Será que promover um inchaço populacional nessa região procede?
Bem fica aqui o desabafo, a preocupação e o convite à discussão.
Gabriel Almeida Frazão
Ponto de Vista 6
Só faltou dar uma alternativa do local para a instalação do polo, pois creio que ele não seja contra o polo.
José Carlos Reis
Ponto de Vista 7
Bastante oportuna a edição do "Ponto de Vista”, com o assunto "Instalar um polo industrial numa área de vocação agrícola: uma insanidade” de 02/02/14, onde Selmo de Oliveira Santos nos aponta um viés talvez ainda pouco pensado sobre as consequências da instalação do condomínio industrial em Nova Friburgo. De suma importância foi iniciar seu contraponto mencionando que Nova Friburgo é um importante polo de produção agrícola no Estado do Rio de Janeiro, no que se refere à exploração da olericultura, floricultura, fruticultura e agroindústria. Adito, porém, a esse contraponto, o qual se estende para as consequências de um novo êxodo das atividades agrícolas em geral, o agravante da repressão ao trabalhador rural no que concerne à preservação ambiental, particularmente em razão da inflexibilidade da visão dita "intocada” das políticas de meio ambiente, as quais não acompanham, ao menos ao meu ver, a necessidade de compatibilização do desenvolvimento rural com a preservação do meio ambiente. A prática da agricultura orgânica parece surgir como mediadora na medida em que equaciona a sustentabilidade como forma amenizar tal conflito. Entretanto, ouso colocar a questão levantada no tema para apontar também uma outra perspectiva não contida no bojo de ambos os discursos, quais sejam, por um lado o fomento das atividades agrícolas e a manutenção do homem e seu modus vivendi no campo, e por outro a ausência de sinergia trazida pela carga da apropriação industrial e suas resultantes no que concerne ao meio em que se insere, contrapondo-se a imediata solução da absorção da mão de obra friburguense, esta dependente dos investimentos empresariais os quais visem a abertura de postos de trabalho, com qualidade de emprego e perspectiva de uma vida digna. Ocorre que em ambos os discursos vemos uma lacuna cuja conformidade não abarca os novos paradigmas identificados com a pluralidade do rural. A tendência à homogeneidade no conceito de rural e a oposição entre cidade e campo tratam de abordagens que precisam e merecem ser revistas, posto que há muito se encontram entrelaçadas, porém já extrapolada, por um lado, a interdependência clássica que originou sua polarização, sobretudo mediante uma interpenetração da urbanidade no seio rural o qual, por sua vez, molda-se na perspectiva de agregar valores diversos àqueles restritos as atividades da agricultura. Esse modo diferente de viver provém de uma complementaridade antes tida como oposição, mas que hoje em dia, ao contrário daqueles que apostavam nas concentrações urbanas como solução para a vida moderna, o rural diversifica-se, transforma-se e indica novas possibilidades de emprego e serviços, como a hotelaria, a gastronomia, o engajamento cultural e tecnológico, o turismo e o próprio desenvolvimento das atividades voltadas para o processo agregador de valor ao que é produzido localmente. Decerto as novas perspectivas de trabalho e emprego seguem aqui carentes de investimentos e de uma política realmente voltada para tal, mas tem seu cerne no reconhecimento e na busca por um modo diferente de viver, diferente dos elencados acima, baseados na integração do homem com a natureza e na adequação de seu produzir aos requisitos da sustentabilidade.
Mario L V Cristino
Ponto de Vista 8
Parabenizo o colega Selmo de O. Santos pelo artigo publicado na A Voz da Serra de 1º de fevereiro, texto com o qual concordo plenamente.
Antonio Coutinho Moreira, engenheiro agronomo extensionista
A Voz dos Leitores
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